“O amor cura e o amor vence”. Assim, Érika Checan consegue ter força e um outro olhar pela experiência que vem passando. Ela relata suas vivências com profissionais da Saúde e o diferencial do trabalho in
Momento de provações para Érika Checan, capelã do Hospital do Rocio. Uma mistura de emoções em se dedicar a apoiar emocionalmente e espiritualmente os profissionais que estão na linha de frente no tratamento dos pacientes com Covid-19, ter passado a experiência do marido dar positivo para Covid-19 e semanas depois ver um exame com parte do seu pulmão comprometido pela mesma doença. Ainda, ao comemorar a alta do hospital, receber a notícia de que seu marido – que faz manutenção de tratamento por um câncer – precisaria se internar novamente.
Aquela pessoa que diariamente se dedica em ajudar o próximo, em olhar de forma mais humana a todos e levar uma palavra e uma canção de acolhimento, se viu na outra posição, a de paciente, que naquele momento precisava de todo esse cuidado integrado.
Capelania
Há cinco anos Érika está à frente da capelania no Rocio, um trabalho movido por amor. No início deste ano estavam desenvolvendo o acolhimento dos novos voluntários, com 98 pessoas que se disponibilizaram para iniciar o treinamento, estágio e processo de preparo para fazer o trabalho de cuidado espiritual na Saúde. Chegaram a ter dois encontros, quando então veio o decreto estadual que impediu a retomada das atividades devido ao Coronavírus. Conduta extremamente necessária no momento, ainda mais que eram pessoas de grupo de risco ou com envolvimento com esse grupo. Boa parte dos voluntários precisou se ausentar e mesmo querendo estar no hospital não era prudente, conforme explica Érika.
Ela enfatiza que a Capelania faz parte da rede de cuidado em Saúde hoje. “Quando identificamos que o ser humano tem uma dimensão espiritual, cuidar daquele que está sofrendo sem incluir sua espiritualidade é um cuidado que não é integral, falta alguma coisa. Aqui no hospital temos construído relações de cuidado”, completa.
Missão durante a pandemia
“Vindo acompanhar a rotina do Hospital para ser referência Covid no Estado, meu coração queimou. Eu e meu filho estávamos sendo guiados aos setores pela enfermeira, fui para casa com imagens dentro de mim do que estava acontecendo no mundo, das mortes, tragédia, pânico. Enquanto eu tomava banho eu ajoelhei, lembro de ter chorado ali. ‘Deus quero muito participar disso, o Senhor me preparou para participar. Sei que tem risco, mas quero estar lá dentro, colocar o macacão, poder estar dentro da UTI, cuidando de paciente e especialmente dos profissionais’. Tinha isso dentro de mim, mas também tinha uma atenção para com a minha família, porque ver minha família sendo sujeita a também viver essa experiência do vírus, eu não conseguia lidar com isso. Por isso, ali ajoelhada eu disse ‘Deus, fala com meu marido, se for para eu ir fala com ele. Nós somos um só, uma só carne. Se ele disser sim, eu vou’. E foi incrível. Eu terminei meu banho e quando fui à sala, sentamos para comer nós quatro e começamos a contar a experiência no hospital. Fui contando e meu marido disse: ‘você precisa estar lá. É muito importante que as pessoas te vejam e possam te ouvir, que elas possam ser cuidadas por você ali, que você possa contar e orar por elas’.
Ela chegou a questioná-lo se não seria arriscado, pela família, por ele que teve um câncer há três anos e ainda faz manutenção de tratamento, por isso está em grupo de risco. Mas ele disse que a abençoava, que ela poderia ir. Isso a moveu, era uma confirmação da sua missão.
Motivou um trabalho de escuta que atingiu 499 profissionais que atuam no hospital – “uma experiência extraordinária de poder orar com eles, de viver momentos de conexão e fortalecimento com Deus”. Conta que ouviram muitas coisas e resultou no projeto Central Elo de Acolhimento Espiritual para profissionais e colaboradores do Hospital do Rocio. Pediram também às Igrejas parceiras da Elo Capelania para incluir os profissionais nas orações e fizeram movimento para rezar por todos os setores.
O acolhimento dos profissionais a princípio por telefone e ela pode fazer o acolhimento presencial para as equipes Covid. “Ali nós tínhamos momentos muito íntimos, de poder escutar os profissionais, sempre com um músico junto. Surgiu um projeto de histórias vivas dentro da pandemia. Relato de muito medo, insegurança, desafios da nova dinâmica de trabalho, estar distante das famílias, mãe há dois meses sem ver o filho. Relato de profissional que cuidou da professora dela na UTI, que marcou muito. Foram muitas histórias lindas”, comenta. E esses relatos a encorajaram a outras experiências, as lives toda sexta-feira, com o nome Esperançar, como também as altas médicas com festa – pedido da própria direção do hospital. Cada alta, uma história, a música presente. “As altas têm sido momentos de celebração”.
Positivo para Covid-19
Érika começou a apresentar alguns sintomas, fez uma tomografia, por precaução ficou em isolamento e na sexta-feira (03) saiu o resultado positivo para Covid-19. Fez uma nova tomografia e a parte inferior do pulmão já estava comprometida, por isso precisou ficar internada. Se despediu da família que a acompanhava, mas diz que sentia muita segurança.
Foi ao Pronto Socorro, passar pela experiência de tirar a roupa, colocar a do hospital, tirar os pertences. “Há um esvaziamento de tudo, quando você coloca a camisola do hospital então você é paciente. Fui tratada com muito respeito e muito amor. Tive que fazer gasometria, que dói. Fechei os olhos e senti uma mão, com luva, segurando minha mão. Era como se Jesus estivesse ali, usando a vida da Dr. Fabíola. Sentir todo o carinho e cuidado. O amor cura”, relata.
Ao entrar no elevador exclusivo Covid foi a primeira vez que olhou para o teto do hospital – conhecia todos os cantos, mas nunca por essa perspectiva. “Era como se naquela hora pudesse saber que essa seria uma experiência de conexão com o que transcende, esse olhar para cima, que eu viveria algo único e é o que eu tenho vivido”.
Quando os profissionais chegavam para cuidar dela, se surpreendiam quando a reconheciam. “Falavam que eu orava por eles e eu falava que agora era hora deles orarem por mim. Uma equipe digna, todo o cuidado e carinho que eles têm. O que vi como paciente é que eu creio nesse cuidado integral, que envolve a fé, a presença de Deus. Este lugar é sagrado”.
Seu desejo é voltar o mais rápido possível à ativa, seguindo as orientações. Está feliz em poder cuidar dos profissionais, continuar desenvolvendo este trabalho. Confessa que neste momento difícil pensou sobre a morte, fragilidade, mas não teve medo, foi uma fase de poder refletir. “Não sei explicar, não é uma experiência simples nem fácil, as medicações mexem com a gente, mas pedi para voltar, para poder servir as pessoas que estão aqui”, completa. “Só tenho a agradecer e dizer que o amor vence a morte. Foi por amor que Jesus ressuscitou. Vivi uma experiência do amor. O fim não é a morte. O fim é a eternidade com Jesus. Nossa missão é reconstruir o mundo a partir do amor”, finaliza.