Neste domingo (10) será comemorado o Dia das Mães, uma das datas que mais movimenta o calendário brasileiro, não somente no comércio, mas também lá no fundo do coração, nos sentimentos d
Neste domingo (10) será comemorado o Dia das Mães, uma das datas que mais movimenta o calendário brasileiro, não somente no comércio, mas também lá no fundo do coração, nos sentimentos de cada um. Para alguns filhos, esse ano será uma data de comemoração à distância. Para outros, um dia de muitas lembranças sobre a mãezinha que nunca desistia de lutar por seus filhos, um dia em que a saudade fala mais alto.
Nessa edição, a Folha apresenta a história de Tereza Domingues da Silva e seus filhos Evandro, Elissandro, Eliziér, e Elisama que, mesmo em meio a dor, tiraram uma importante lição da maternidade exercida por sua mãe, uma mulher que só descansou quando eles estavam bem e encaminhados. Um relato sobre a mistura de sentimentos, uma grande história de vida e uma fotografia que traz um significado mais que especial.
História de vida
Nascida na cidade de Pitanga, no Paraná,em 26 de fevereiro de 1953, Tereza era de uma grande família, formada pelos pais e mais 12 irmãos. Teve uma infância sofrida, mas sempre foi muito dedicada e formou-se em Enfermagem, Magistério e Contabilidade. Casou ainda jovem com Antônio Ubirajara, quem costumava chamar de grande e eterno amor. Com ele teve seus quatro filhos.
Elisama, sua filha mais nova, conta que a mãe chegou em Campo Largo em 1974, quando veio tentar a sorte aqui e buscar a felicidade.”Mal sabia ela que a cidade é que ganhou com a chegada dela aqui. Por onde passava, espalhava sua alegria, seu sorriso largo, fazia amizade com todos. Em 1985 abriu a primeira loja de roupas usadas na Rua Marechal Deodoro e era uma comerciante nata e agradava a todos. Ali ela ficou durante anos, com sua cuia de chimarrão na mão e dando o sustento para os filhos, já separada do meu pai. Fez questão que todos nós fizéssemos curso superior e também foi avó, a vovó Tetê. “
A cada dia uma superação
Foi no ano de 2012 que as coisas começaram a mudar. Tereza, ainda com 59 anos, começou a apresentar falhas na memória, esquecer de coisas simples e já não reconhecia a si mesma diante do espelho. O Alzheimer havia chegado em sua vida. “Neste momento fui perdendo a minha mãezinha, fomos perdendo a sua essência, o seu sorriso, e aquela mulher forte, guerreira, deu espaço a uma criança indefesa, totalmente dependente, voltando a brincar de boneca, perdendo noção de espaço e de tempo. Agora não tinha mais uma mãe, mas eu ganhava mais uma filha, passou a me chamar de mãe”, relembra.
Em novembro de 2018, Tereza deu entrada no hospital com sepse pulmonar, quando foi intubada e levada para a UTI. “Os médicos falaram que seu caso era muito delicado, já para nos preparar para o pior. Mas minha mãe mostrou toda a sua garra, provou que Deus estava operando um milagre maravilhoso. Passou 128 dias na UTI e dia 18 de março de 2019 teve sua primeira alta para o quarto, respirava pela traqueotomia, alimentava-se por sonda. Foram muitos passeios de Samu, de casa para o hospital, muita luta contra o tempo, isso passou por 15 meses”, conta.
Os filhos queriam a mãe com o mesmo sorriso largo, sem o olhar triste que carregava. “Queria poder estar no lugar dela e entender o que passava e sentia. Minha mãe agora era meu bebê, mulher que eu erguia no colo para pegar um sol, para dar banho ou apenas fazer dormir. Queríamos entender o que faltava para ela poder descansar, se faltava alguém vir se despedir dela, algum ressentimento ou mágoa, neste momento queríamos que ela descansasse”, retrata Elisama.
A despedida e a
mistura de sentimentos
“Eu e meu marido tínhamos um sonho a se realizar e em dezembro colocamos em prática. Demos início à reforma de um estabelecimento para abrir um restaurante japonês, o Mobu Sushi. Neste mês minha mãe estava na UTI. Meus irmãos, que não se falavam há anos, se aproximaram, mas não era só isso que vovó Tetê queria”, diz.
Na inauguração do restaurante, estava tudo organizado, todos reunidos e comemorando a conquista de Elisama e o marido, João. Ela conta que estava com o coração bastante apertado, pela falta da mãe, que não estava ali para dividir um momento tão especial em sua vida.
“Após sair o último cliente, resolvemos reunir toda a nossa família para tirarmos uma foto da inauguração. Pose para a foto, e no fundo o toque do telefone, não atendemos, mas tocou novamente, resolvi atender, quando descobri que a minha rainha tinha descansado, acredito que com seu sentimento de dever cumprido. Filhos e netos com suas vidas encaminhadas e o amor de mãe falou mais alto mais uma vez, pode descansar quando o sonho de sua filha e ‘noro’, como ela chamava meu esposo, se realizou. Minha mãe teve sua partida de uma maneira especial, como ela sempre foi, num momento em que seus filhos estavam unidos, felizes”, conta.
Para Elisama e sua família, no dia 22 de fevereiro de 2020, às 22h20,”foi o momento em que a minha mãe nasceu num lugar lindo, onde não há dor, nem sofrimento”. “Valorize sua mãe enquanto a tem de verdade, enquanto ela pode contar histórias, sorrir, brigar, andar, comer, fazer a sua comida predileta, pode ganhar seu colo; diga a ela o quanto você a ama. Tire um tempo de sua vida corrida para dar um beijo, para tomar um café no meio da tarde e dizer o quanto você a ama, pois ontem já passou, o amanhã talvez não chegue e o hoje é o que nos pertence”, finaliza.