O que parecia estar tão longe de nós nos últimos meses já começou a ser vivido de forma mais intensa nesta semana, gerando até mesmo uma certa ansiedade e preocupação do que está por vir
O que parecia estar tão longe de nós nos últimos meses já começou a ser vivido de forma mais intensa nesta semana, gerando até mesmo uma certa ansiedade e preocupação do que está por vir. O medo é que a situação chegue a níveis como em países na Europa, um verdadeiro caos, mas até por isso medidas antecipadas foram tomadas pelos governos municipal, estadual e federal. Mas toda essa instabilidade e incerteza do que pode acontecer vai impactar na Economia, especialmente aos empresários e autônomos, principalmente neste primeiro semestre do ano.
O consultor financeiro Antonio Carlos Gomes Junior comentou à Folha que “o primeiro semestre de 2020 ao que tudo indica está comprometido, globalmente falando, para alguns setores mais do que para outros. Mas a queda foi além. Isso não ameniza, pois o que justifica essa reação é a incerteza. O medo, a falta de ideia do que realmente pode impactar, a certeza de um problema é mais absorvida e há a incerteza da consequência”.
Ele comenta que o Brasil começou a sentir o impacto realmente na Quarta-feira de Cinzas. Desde então a Bolsa de Valores caiu 35%, apresentando quedas diárias enormes. “Tensão ao extremo nos pregões e principalmente um movimento que não é justificado por nenhuma razão lógica, ou seja, está além dos fundamentos. A crise comercial e financeira existe e será considerável”, relata.
Os empresários estão bem temerosos do que pode acontecer. Até por isso, Antonio comenta que os governos de todos os países estão realizando propostas financeiras para buscar equilibrar e amenizar os impactos. Seja garantindo liquidez ao sistema (dinheiro barato e em grande quantidade), seja estimulando consumo (proporcionando valores às familias) e ainda tentando garantir a ordem (com segurança pública e equalização da capacidade de atendimento dos sistemas de saúde). E ainda, a privação do direito de ir e vir individual sobreposto ao bem coletivo é algo que está sendo aceito, solicitado e cumprido por boa parte da população. Ou seja, confia-se de que essa dolorosa decisão, com todos seus impactos desagradáveis é a melhor saída.
“Mas todos seremos impactados. Muitos consumirão apenas o necessário. Serviços deixarão de ser contratados, por exemplo garçons em restaurantes, profissionais em atividades de lazer, serviços eletivos, médicos inclusive. E ainda, cadeias de produção já estão sofrendo com falta de algumas matérias-primas bem como redução da demanda. Por exemplo, o guarda-roupa novo não será agora comprado, a geladeira poderá esperar para ser trocada. Isso é uma possibilidade ou não. Mas imagina-se que toda a cadeia social de consumo sofrerá impactos. E ainda, atividades antes desenvolvidas em escritórrios próprios estão sendo mais intensamente direcionadas para home offices. Enfim, a cautela racional é que em momentos de tensão as questões sejam priorizadas, focando no essencial”, alerta o consultor.
Oportunidades
Mas como em toda crise, aquela clássica frase de que enquanto alguns choram outros vendem lenço. Então, oportunidades surgirão. Para isso, Antonio Carlos orienta que a criatividade deverá imperar, superar o medo e principalmente a reclamação. “Sofreremos, mas não devemos nos comportar como vítimas. Afinal, cada um é responsável direta ou indiretamente pela sua vida e dos que estão próximos. Tirar lições desse momento será fundamental para que erros evitáveis não sejam repetidos no futuro”. Muitas empresas cresceram com crises, se fortaleceram.
Organização financeira
O consultor financeiro comenta que sempre recomenda que uma pessoa tenha entre três a seis meses de reserva financeira para emergências e imprevistos. “Por quê? Porque é previsível que em algum momento imprevistos ocorrerão, simples assim. Recomendamos que tenha uma carteira de investimentos focada em objetivos, separando-os pelos de curto prazo (impostos anuais, férias etc), médio prazo (troca de carro, reforma casa, festa comemorativa etc) e longo prazo (aposentadoria, faculdade, nova casa etc). Além disso, que se evitem dívidas, parcelamentos longos. Isso ajuda a manter um custo fixo baixo e consequentemente mais fácil de administrar em uma crise. E ainda, adiar ‘vaidades’, ou seja, viver confortavelmente, aproveitando as boas coisas da vida com os que amamos, mas de uma forma que o consumo imediato não seja a única ou principal questão de direcionamento da sua força de trabalho ou renda”, elucida.
Ja para as empresas, ele diz que não é tão simples organizar o fluxo de caixa, mas o fundamental é ter um controle de custos muito efetivo. “Ter uma excelente gestão de capital de giro, ao menor custo possível e um planejamento de contas a pagar e parcelamentos aliada ao risco do seu negócio. Muitas empresas quebram por que não vendem. E muitas quebram por que vendem, mas não têm margem, pois o custo financeiro, muitas vezes não percebido leva todo o seu resultado. Essa questão das empresas é o que está no radar de todos os governos e estruturas de investimentos, o chamado Crédito Privado. Há muito dinheiro investido com base nesse item e a preocupação é de que com essa parada na economia essas questões de inadimplência ocorram.”
Por essa situação é que surgem as medidas de estímulo fiscal, como carência para pagamento dos impostos e renegociação de linhas de crédito que são fundamentais. Muitas empresas de maior porte atualmente apresentam boa relação de caixa e liquidez, suficientes para passarem por esse momento, por isso ainda há certa tranquilidade no mercado, conforme ele analisa.
“Enfim, o momento é delicado. Requer consciência de todos nós, sejamos funcionários, empresários, profissionais, pais, mães, cidadãos. Devemos ter calma, cautela, atitude e paciência. Não há somente um culpado, não há totais inocentes e muito menos um herói. Que esse momento traga ainda mais responsabilidade e planejamento aos brasileiros. E há sim um sol atrás das nuvens, o tempo e o vento ajudarão a chegarmos a ele”, conclui.