09-07-2010
A partir de estatísticas nacionais, acredita-se que pelo menos 500 jovens campo-larguenses estão sob risco de morte, pelo uso constante de Crack
09-07-2010
Ainda não existem estatísticas oficiais sobre o tamanho do problema em Campo Largo, mas a partir de estatísticas nacionais, acredita-se que pelo menos 500 jovens campo-larguenses estão sob risco de morte, pelo uso constante de Crack, a mais letal e perigosa droga em uso nas cidades de todo o País. Dos dependentes que fazem uso freqüente da droga, acredita-se que pelo menos 10% vivem sob vulnerabilidade máxima. Campo Largo teria pelo menos 50 jovens nesta situação.
O Crack é uma droga produzida pela mistura de Bicarbonato de Sódio e Cocaína, que vicia a vítima já na primeira dose, e pode levá-la à morte pelo uso ou pelo seu envolvimento no tráfico. O uso do Crack está no topo das causas do aumento dos índices de criminalidade. No ano passado foram registrados 51 assassinatos, no Município, sendo que 49 dos casos estavam ligados ao tráfico de drogas.
Segurança
A Reportagem da Folha entrou em contato com o comandante da 3ª Cia., tenente Alves e com o delegado Maurílio Alves, para conhecer o tamanho do problema, na cidade. A 3ª Cia., recebe, através da central do 181 Disque Denúncia, informações sobre o tráfico de drogas no Município. Quase todos os dias chegam denúncias anônimas e muitas delas proporcionam a prisão de usuários, traficantes e a apreensão de drogas, principalmente o Crack. Em junho foram registradas nove ocorrências com prisão de usuários e traficantes de drogas, com 21 presos, sendo oito menores e 13 maiores.
Existem pontos na cidade, considerados estratégicos pelos policiais militares, onde é maior o movimento de dependentes químicos, e onde é maior o volume do tráfico de drogas. Nessas áreas ocorre também o maior volume de prisões. No centro da cidade, a região do calçadão da XV e a praça Getúlio Vargas já deixaram de ser o principal ponto de tráfico de drogas, devido à monitoração pelas câmaras da Guarda Municipal. Mas ainda é grande o tráfico no Bom Jesus, região da Travessa da Curva; jardins Itaqui e Meliane, Cercadinho e região da Ferraria: Dona Fina, Santa Ângela e Vila Torres, são pontos de maior incidência do tráfico.
O "Cadeião" de Campo Largo abriga hoje 93 presos. Desses, 35 estão ali devido ao tráfico de drogas. Muitos deles são reincidentes, são presos, ficam alguns meses, são colocados em liberdade e, dias, semanas depois, são presos novamente pelo mesmo motivo. Alguns, após saírem do cadeião, são mortos em circunstâncias semelhantes, vítimas da luta por pontos de distribuição de drogas ou por dívidas com outros traficantes.
Violência
Uma droga seis vezes mais potente que a Cocaína, o Crack tem ação devastadora provocando lesões cerebrais irreversíveis e aumentando os riscos de um derrame cerebral ou de um infarto. Mas não são as complicações de saúde pelo uso crônico da droga, e sim os homicídios, que constituem a primeira causa de morte entre os usuários, resultantes de brigas em geral, ações policiais e punições de traficantes pelo não-pagamento de dívidas contraídas nesse comércio.
Outra causa importante são as doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV, por exemplo, por conta do comportamento promíscuo que a droga gera. O modo de vida do usuario o expõe à vitimização, muitas vezes e, infelizmente, levando-o a um fim trágico.
Atualmente, pode-se dizer que há uma verdadeira "epidemia" de consumo do Crack no País, atingindo cidades grandes, médias e pequenas.
Caso de Saúde
Em maio último, o presidente da República assinou o decreto que cria o Plano Nacional de Combate ao Crack que destinou R$ 90 milhões para o Ministério da Saúde, prioritariamente para a ampliação dos leitos em hospitais gerais. Mais R$ 210 milhões de recursos novos do orçamento do ministério estão sendo utilizados para a ampliação de centros de Atendimento Psicossocial (CAPS) para dependentes químicos, que nas cidades com mais de 200 mil habitantes passarão a funcionar durante 24 horas. Campo Largo, apesar de ter menos de 200 mil habitantes, poderá ser contemplada com um CAPS 24 horas.
Em agosto começam os cursos à distância para a formação de profissionais de diversas áreas para lidar com o problema do Crack. Serão 80 mil vagas, em todo o País, destinadas a religiosos, conselheiros de Infância e Adolescência, educadores e profissionais de Saúde.
O que é
O Crack é uma droga produzida com a mistura de Cocaína e Bicarbonato de Sódio e é consumida por inalação (fumo). É uma forma impura da Cocaína e não um subproduto. O nome vem do "to crack", que, em Inglês significa "quebrar", devido aos pequenos estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados, como se quebrassem.
A fumaça produzida pela queima da pedra de Crack, é inalada pelo usuário e chega ao sistema nervoso central em apenas dez segundos, e seu efeito dura de três a 10 minutos. O usuário sente uma intensa euforia, maior do que a produzida pela Cocaína. Em seguida sente muita depressão, o que leva o dependente químico a usar novamente a droga, para compensar o mal-estar. Não raro, o usuário tem alucinações, paranóia (ilusões de perseguição).
Por ser o Crack mais barato que a Cocaína, o uso de Cocaína por via intravenosa (pó diluído em água destilada) foi quase extinto no Brasil, sendo quase 100% substituído pelo Crack, que provoca efeito semelhante, sendo tão potente quanto a Cocaína injetada. A forma de uso do Crack também favoreceu sua disseminação, já que não necessita de seringa, basta um cachimbo, na maioria das vezes improvisado, como uma lata de alumínio furada, por exemplo.
O Crack eleva a temperatura do corpo, podendo causar no dependente um acidente vascular cerebral. A droga também causa destruição de neurônios e provoca a degeneração dos músculos do corpo (Rabdomiólise), o que dá ao usuário uma aparência característica, esquelética: ossos da face salientes, braços e pernas finos e costelas aparentes.
O Crack inibe a fome, de maneira que os usuários só se alimentam quando não estão sob seu efeito narcótico. Outro efeito da droga é o excesso de horas sem dormir, e tudo isso pode deixar o dependente facilmente doente.
A maioria das pessoas que consome bebidas alcoólicas, não se torna alcoólatra. Isso também é válido para outras drogas. No caso do Crack, com apenas três ou quatro doses, às vezes até na primeira, o usuário se torna completamente viciado.
Após o uso, a pessoa apresenta quadros de extrema violência, agressividade que se manifesta a princípio contra a própria família, desestruturando-a em todos os aspectos, e depois, por consequência, volta-se contra a sociedade em geral, com o aumento do número de crimes relacionados ao vício.
O consumo de Crack fumado através de latas de alumínio como cachimbo, uma vez que a ingestão de alumínio está associada a dano neurológico, tem levado a estudos em busca de evidências do aumento do alumínio sérico em usuários de Crack.
O uso do Crack e sua potente dependência psíquica
Frequentemente leva o usuário que não tem capacidade financeira para bancar o custo do vício, à prática de delitos para obter a droga. Os pequenos furtos de dinheiro e de objetos, sobretudo eletrodomésticos, muitas vezes começam em casa. Muitos dependentes acabam vendendo tudo o que têm à disposição, ficando somente com a roupa do corpo. Em alguns casos, podem se prostituir para sustentar o vício.
O dependente não consegue manter a rotina de trabalho ou de estudos e passa a viver basicamente em busca da droga, não medindo esforços para consegui-la. O Crack pode causar, também, "Neurofilexia" e doenças reumáticas, podendo levar o indivíduo à morte.
Embora seja uma droga mais barata que a cocaína, o uso do Crack acaba sendo mais caro. Apesar do efeito da pedra de Crack ser mais intenso, passa mais depressa, o que leva ao uso de várias pedras por dia.
As chances de recuperação são muito baixas, pois exige a submissão voluntária ao tratamento por parte do dependente, o que é difícil porque a "fissura", isto é, a vontade de voltar a usar a droga, é muito grande. Além disso, a maioria das famílias de usuários não tem condições de custear tratamentos em clínicas particulares ou de conseguir vagas em clínicas terapêuticas assistenciais. É comum o dependente iniciar, mas logo abandonar o tratamento.
Casos extremos de famílias que não conseguem ajuda no sistema publico de Saúde, são cada vez mais comuns.