11/05/2012
	Venho de um mundo completamente diferente da Terra que conhecemos. Aqui a energia está aprisionada na matéria. De onde eu venho, eu era um ser livre, pura energia. Não havia nenhuma necessidade física. Com meu corpo etéreo poderia ir e voltar de qualquer lugar, num piscar de olhos, numa fração de segundos. Lembro das brincadeiras que fazíamos, eu e meus irmãos, pulando de  planeta em planeta, voando a velocidades estonteantes. Tempo e espaço, aliás, lá não existem, porque eu era o todo, e tudo eu podia. Mas me faltava nascer, para poder evoluir, para viver a experiência de ocupar em um corpo físico, isso eu não conhecia.
	Meus irmãos, que já haviam vivido esta experiência, me disseram que eu iria sentir muita dor, frio, calor, que iria sentir emoções fortes, jamais imaginadas. Disseram que a vida não seria fácil e que desde à concepção, eu iria lutar muito para me desenvolver, crescer, até chegar à idade adulta, quando então poderia contribuir para que outros irmãos, como eu, pudessem experimentar a mesma oportunidade que eu teria.
	Me afligia o pensamento de horror, de medo do desconhecido. O que eu iria encontrar ao nascer? Como eu iria entender os seres que aqui viviam? Como iria me comunicar? Me lembro vagamente da última frase dos meus irmãos, segundos antes de eu descer, no mágico momento da fecundação. Um deles me disse - eu o ouvi quando sua voz já estava lá distante,  no infinito: “Não te preocupas, quando precisares de alguma coisa, lá em baixo, é só falar uma palavra mágica. E que palavra é esta? Perguntei aflito. É Mãe! Disse meu irmão, e já não ouvi mais nada, apenas um barulho constante, como uma bomba de sucção, e a sensação de estar imerso em um líquido morno, aconchegante.
	O tempo foi passando e aquele lugar começou a ficar apertado para mim. Eu já não conseguia mais dar cambalhotas, me esticar, apenas empurrava com os pés e as mãos, as paredes do meu novo espaço. Ouvia, bem longe, uma voz aveludada que me proporcionava carinho, que me acalmava e me fazia dormir. Sensações estranhas, que eu nunca havia experimentado. Num dia no qual tentei esticar minhas pernas, um pouco mais, passei por uma experiência incrível, me vi em um lugar novo, cheio de luz, de sons, de cores. Chorei de medo e de emoção.     
	Ainda espantado com a luz, com os sons, sensações de frio e de calor, fralda molhada, fome e sede, não sabia quem eu era, por que estava ali num mundo, para mim, desconhecido. Meu único conforto era a presença daquele ser grande, carinhoso, gentil, que me dava na boca o alimento que saciava a minha fome e a minha sede. Mãe, foi a primeira palavra que eu aprendi a falar . Não sei por que, aquela palavra já me parecia familiar. Bastava falar Mãe, e eu ganhava alimento, conforto, segurança. Mãe, para mim, era sinônimo de carinho, o sussurrar que me fazia dormir, os braços que me aconchegavam, um ser que me tranquilizava e me fazia sentir-se bem, nessa nova realidade da minha vida.
	E foi o carinho desse ser que me fez crescer, entender o mundo, sentir as primeiras experiências nesta nova vida. Foi este ser que me ensinou tudo o que eu sei, que me ensinou sobre o amor, a ética, o respeito e a justiça. Meus irmãos, lá de onde eu vim, nesse momento, devem estar felizes, por eu ter conseguido vencer a difícil jornada, mas eu confesso: não teria conseguido, não fosse esse ser maravilhoso, que eu aprendi a chamar de Mãe.
 
						  
                         
                             
                         
                             
                                 
                         
                             
     
     
                                             
                                             
                                             
                                             
                                             
                                            