01/05/2012
Soja à beira do “racionamento”
01/05/2012 Fonte: Gazeta do povo
O ritmo alucinado da comercialização da soja brasileira neste ano está levando o país a um racionamento do produto. Dados de consultorias privadas mostram que cerca de 80% da produção da oleaginosa colhida na última safra já foi vendida. O porcentual está 20 pontos acima do registrado nesta época do ano passado, quando o Brasil colheu safra recorde de 75 milhões de toneladas do grão. Na temporada atual, porém, o quadro está apertado. A seca roubou parcela significativa da produção, que deve resultar em menos de 69 milhões de toneladas, conforme estimativa da Expedição Safra Gazeta do Povo. Isso significa que restaria ao país pouco mais de 10 milhões de toneladas para serem comercializadas tanto à indústria como ao mercado internacional até a próxima colheita brasileira, esperada para o início de 2013, ou seja, daqui a oito meses.
O abastecimento, segundo analistas, deve continuar crítico e fazer com que a entressafra brasileira comece mais cedo neste ano, ainda antes de agosto, avalia Steve Chachia, analista da Cerealpar. Além disso, como os embarques de soja estão correndo duas vezes mais rápidos em relação a 2011, justamente em um ano de quebra em todo o continente, o Brasil enfrenta o risco de recorrer à soja de outros países para manter a indústria em atividade.
Estoque justo mantém as cotações em alta
A redução dos estoques mundiais de soja em um momento de demanda fortemente aquecida deve segurar as cotações da commodity em patamares altos até o meio do ano, quando o mercado terá uma noção mais clara do tamanho das safras nos Estados Unidos e também na América do Sul, afirmam os analistas. “O aperto no quadro de oferta será mundial, mas talvez dure pouco tempo, porque os norte-americanos estão plantando muito rápido”, afirma Steve Cachia, analista da Cerealpar, em relação à entrada antecipada da colheita no Hemisfério Norte.
Cachia acredita que a valorização da soja no mercado internacional ainda pode fazer os agricultores norte-americanos mudarem de ideia e apostarem mais do que o mercado espera na cultura. “Condições para isso eles têm”, enfatiza.
O Departamento de Agricultura do país, o Usda, calcula que a oleaginosa vai perder cerca de 400 mil hectares para o milho na temporada que acaba de começar no cinturão de produção norte-americana. É como se as previsões sobre aumento das importações da China estivessem sendo ignoradas.
Para o analista Stefan Tomkiw, vice-presidente de Futuros para America Latina da Jefferies Bache, que atua em Nova York, a relação de preços entre o contrato novembro/12 da soja e o dezembro/12 do milho favorece a oleaginosa, mas não o suficiente para fazer o cultivo da soja ganhar terreno. “Historicamente, quando a relação de preços fica acima de 2,25, a soja rouba área do milho. Hoje está em 2,5. Mas, como o milho subiu bem mais do que a soja na época de decisão do plantio, o produtor comprou os insumos de acordo com a rentabilidade do milho. Acredito que essa relação de preço possa chegar a 2,8”, observa. (CR)
“A questão é de quem vamos importar se os Estados Unidos [maior produtor mundial] já estão com estoques apertados, exportando mais para a China, e os nossos vizinhos (Argentina e Paraguai) também não tiveram safra boa”, questiona Aedson Pereira, analista da Informa Economics FNP, de São Paulo. Para ele, o racionamento da soja já começou no país, e está sendo protagonizado pela Região Sul, onde a quebra de safra foi mais expressiva.
Apesar das constantes altas da oleaginosa na última semana, os negócios estão parados no Paraná. Levantamento da Informa Economics revela que o estado tem somente 3 milhões de toneladas de soja para comercializar até janeiro de 2013. O Rio Grande do Sul, ainda mais castigado pela falta de água nas lavouras, tem apenas 1,5 milhão de toneladas para vender.
O risco de o Brasil buscar soja em outros países está baseado no enxugamento dos estoques domésticos. Enquanto os embarques de soja do país duplicaram no primeiro trimestre deste ano as, reservas caíram para um dos mais baixos níveis dos últimos anos. Em seu último levantamento, divulgado no mês passado, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou sobras de 1,1 milhão de toneladas de soja para o início da próxima temporada. Os analistas, no entanto, acreditam que as reservas do ciclo 2011/12 ficarão, sim, aquém da safra 2008/09, quando havia pouco mais de 670 mil toneladas de reserva.
A consultoria Safras e Mercado, de Porto Alegre (RS), estima que a temporada atual vai terminar com estoques de 421 mil toneladas do grão, 80% menor do que o estoque inicial, de 2,2 milhões de toneladas.
Indústria
Com preços cada vez mais favoráveis à exportação – sustentados pela quebra na América do Sul e, em boa medida, também, pela valorização do dólar e por prêmios nos portos – a indústria esmagadora vem pisando no freio. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), o processamento da soja ficou em 28,9 milhões de toneladas entre fevereiro de 2011 e janeiro de 2012, contra 35,7 milhões de toneladas esmagadas no período anterior.
		
 
						  
                         
                             
                         
                             
                                 
                         
                             
     
     
                                             
                                             
                                             
                                             
                                             
                                            