03/11/2011
Risco de câncer de laringe triplica quando há tabagismo e álcool associados.
03/11/2011 Fonte: Band.com.br
“O câncer, como se sabe, não tem uma causa única. É a chamada ‘doença multifatorial’. Um dos fatores pode ser a predisposição genética (o que não é regra geral). Além disso, há o fator idade. Mas todo tipo de câncer pode ter seu risco aumentado devido a certos hábitos de vida. No caso do câncer de laringe, o tabagismo e as bebidas alcoólicas (especialmente as destiladas) são os principais hábitos a serem controlados. Fumo e álcool praticamente triplicam o risco de uma pessoa desenvolver esse tipo de câncer”, explica Mara Behlau, presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa).
Além disso, explica a especialista, há outros fatores bastante conhecidos também. Um deles é o refluxo gastroesofágico. “Nesse tipo de condição, o suco gástrico – que é ácido – pode irritar a membrana do aparelho digestório acima do estômago. Quando esse material ácido atinge a laringe e as cordas vocais, essa irritação constante pode levar ao desenvolvimento de um câncer”, diz. Um quarto fator citado por Behlau é de menor possibilidade de controle: a poluição, comum nas grandes cidades.
Uso errado da voz também contribui
A irritação da laringe e das cordas vocais também pode ser causada pela forma como a pessoa faz uso da sua voz. Falar em demasia, alterar o volume da voz por muito tempo ou impostá-la da maneira errada – forçando certos tons, como acontece quando gritamos – pode contribuir para algum tipo de problema que, em longo prazo, pode contribuir para problemas de saúde na garganta.
“A rouquidão é um sinal claro de algum exagero. Claro que depois de um show de música, uma festa ou uma gripe, por exemplo, esse tipo de rouquidão tem uma causa objetiva e é pontual, ou seja, tende a passar. Mas se essa rouquidão é uma alteração que não diminui com o tempo, isso pode ser preocupante. Mais do que 15 dias de rouquidão é sinal de que é hora de procurar um profissional da área de saúde ou de fonoaudiologia”, explica Behlau, que lembra ainda que mesmo pessoas com a voz normalmente rouca podem notar essas alterações. “A pessoa conhece a própria voz. Se há alteração é bom ficar atento.”
Tratamentos disponíveis
O câncer de laringe pode ser vencido utilizando duas estratégias bastante eficazes. A primeira é a cirurgia para extrair o tumor. Quanto mais rápido ele for diagnosticado, menor a necessidade de extração do tecido da laringe, que em casos extremos pode chegar à retirada total do órgão.
“Isso não quer dizer que a pessoa nunca mais vai recuperar sua comunicação vocal”, diz a fonoaudióloga. “A implantação de próteses internas, o uso das próteses externas ou mesmo técnicas de modulação da voz a partir do esôfago são alternativas bastante eficientes.”
Caso o câncer esteja em estágios iniciais, uma boa opção pode ser também o tratamento aliando quimioterapia e radioterapia, similar ao tratamento de diversos outros tipos de câncer. “Nesse caso, pode haver regressão total ou parcial das células cancerosas. No segundo caso, a cirurgia para a retirada final do tumor ainda é necessária”, indica Behlau.
Entre as duas técnicas, diz a especialista, não há uma melhor ou pior, pois depende do tipo, da localização e da evolução do câncer. Ambas são efetivas e têm seus efeitos adversos. “Podem ocorrer alterações na voz em qualquer uma das estratégias. Mas como dissemos, vai depender da evolução do câncer no indivíduo com a condição. De qualquer maneira, a chance de sobrevida é alta.”
Ex-presidente Lula notou rapidamente o problema
Na última sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva foi diagnosticado com câncer de laringe. Lula havia notado uma alteração além do normal na sua voz reconhecidamente rouca. Uma rouquidão, aliás, que pode ser, em parte, decorrente de sua carreira no sindicalismo e consequente rotina de discursos em ambientes improvisados e da falta de técnicas corretas de impostação da voz.
Alertados pelo próprio ex-presidente, os médicos do Hospital Sírio-Libanês fizeram uma série de exames e descobriram um câncer na região da laringe em estágio inicial. A opção da equipe médica diante do quadro de Lula foi optar por um tratamento de quimioterapia aliado à radioterapia.
Os prognósticos, no momento, são bastante positivos para a remissão do tumor. Quanto ao timbre de voz de Lula, marca registrada do político, ainda não se pode afirmar se vai ou não ser alterado.
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por Enio Rodrigo