28/10/2011
Robert A. Holt esforça-
se há anos para responder a uma pergunta sobre o câncer de cólon.
Ele é pesquisador de genômica da Agência do Câncer da Columbia Britânica. O pesquisador vem questionando se o câncer pode ser causado ou se expandir devido a uma infecção bacteriana.
Holt sabia que os cânceres de colo de útero, de fígado e de estômago haviam sido associados a micróbios. Além disso, se existe um local do corpo com vários micróbios, este local é o cólon -as células microbianas superam as humanas em número na proporção de nove para um.
As novas ferramentas de análise genômica ofereciam a oportunidade de procurar por uma associação. Holt e outro grupo de pesquisadores, trabalhando de forma independente, descobriram algo totalmente inesperado e intrigante. Um tipo de bactéria em particular, que não é considerada predominante no cólon, parece possuir uma semelhança perturbadora em relação ao câncer de cólon.
Os dois grupos de pesquisa descobriram uma associação ao analisar o material genético de amostras de tumor. Em seguida, eles tiraram os genes humanos da mistura. Os que ficaram foram genes de micróbios.
Uma análise dos genes dos micróbios mostrou que um tipo de bactéria, denominada Fusobacterium, existia em grande quantidade nos tumores, embora ela não estivesse geralmente entre as mais proeminentes nos intestinos. As bactérias não estavam à espreita nas células cancerígenas. Em experimentos posteriores, Holt descobriu que elas penetram nas células do tumor, “o que é um tanto sinistro”, afirmou. A capacidade de invadir as células é o que geralmente diferencia o micróbio causador de doenças do inofensivo.
É claro que isso não prova que ela é a causadora dos tumores. As células pode ser apenas um local satisfatório para viverem.
À medida que Holt e seus colegas avançavam na investigação, eles descobriram que a bactéria era especialmente prevalente nos pacientes cujo câncer havia se espalhado para outros órgãos.
A descoberta poderia ser uma anomalia. Porém, sem saber da descoberta de Holt, Matthew Meyerson e seus colegas do Instituto do Câncer Dana-Ferber, de Boston, obtiveram os mesmos resultados. Além disso, os pacientes pesquisados por Holt eram canadenses e os de Meyerson eram americanos, vietnamitas e espanhóis de Barcelona. Todos eles tinham a bactéria em um número muitas vezes superior nos tumores do que em células normais do cólon.
“Essa descoberta foi realmente reveladora para mim”, disse Meyerson. Ele esperava que houvesse várias bactérias diferentes no tecido tumoral.
“O que se constatou não foi isso”, afirmou.
Os dois estudos foi publicado online na revista “Genome Research”. No estudo, Holt e seus colegas iniciaram observando o RNA, que reflete os genes ativos, de 11 pacientes com câncer de cólon. As células do câncer de cólon tinham em média 79 vezes mais bactérias Fusobacterium do que as células normais.
Em seguida, os investigadores procuraram pela bactéria em mais 88 tumores, e em células correspondentes adjacentes do cólon não cancerosas, usando sondas para identificar os genes da bactéria. Com esse método mais sensível, eles descobriram uma média de 415 vezes mais Fusobacterium nas células tumorais do que nas células normais.
Meyerson e seus colegas realizaram experimentos semelhantes. Porém, em vez do RNA, eles examinaram o DNA, a sequências de genes. Eles iniciaram pesquisando nove pacientes e descobriam sequências de DNA da bactéria principalmente no tecido tumoral. Em seguida, eles examinaram as células de outros 95 pacientes, procurando especificamente pelas sequências de genes da bactéria. Novamente, os pesquisadores descobriram a presença dela nas células cancerígenas.
“Eu não sei o que fazer com esse resultado”, disse Meyerson. “As bactérias vagueiam pelos tumores, mas não faço a mínima ideia se elas estimulam ou causam o câncer”.
Porém, as descobertas são no mínimo provocativas, afirmaram microbiólogos e especialistas em câncer do cólon. David Relman, especialista em micróbios da Universidade de Stanford, afirmou estar especialmente surpreso com o fato de dois laboratórios independentes, usando amostras de diferentes partes do mundo, terem descoberto a mesma bactéria.
“Eu observo esses resultados e penso ‘Sim, é possível que haja uma associação genuína’”.
Se as bactérias do gênero Fusobacterium causam mesmo uma predisposição ao câncer de cólon nos seres humanos, um dia os pesquisadores talvez consigam produzir uma vacina contra ele, assim como a vacina contra o HPV (papilomavírus humano), que protege contra o câncer cervical.
É claro que a Fusobacterium era conhecida antes da descoberta. Porém, acreditava-se que esses micróbios vivessem principalmente na boca - estão frequentemente nas placas bacterianas dos dentes e são associadas à doença periodontal.
Relatórios recentes a relacionam à colite ulcerosa e à doença de Crohn. As duas doenças, e em especial a colite ulcerosa, aumentam o risco de câncer de cólon.
Contudo, se a bactéria está associada ao câncer de cólon, a pergunta que surge é: como isso ocorre? Segundo os pesquisadores, existe a possibilidade da resposta ser a inflamação. A Fusobacterium provoca inflamação e o câncer está relacionado à inflamação.
Isso não significa necessariamente que ela cause o câncer, afirma Relman. Os tumores podem causar a inflamação e algumas bactérias se beneficiam rapidamente, invadindo os tecidos inflamados e danificados.
“Quando surgem os quadros inflamatórios, certos organismos são selecionados”, afirma Relman. “Quase não importa como ela a inflamação se origina. Certos organismos estão habilmente adaptados aos quadros inflamatórios”, afirma. Em outras palavras, a bactéria encontrada nas células inflamatórias pode estar “simplesmente seguindo o fluxo”.
O que fica é uma descoberta intrigante e muito mais trabalho para tentar descobrir o que acontece. Holt examinará os pólipos, pequenas protuberâncias que surgem na parede interna do cólon. O câncer de cólon desenvolve-se a partir dos pólipos. Porém, a maioria deles não causa mal algum.
“Se forem observadas infecções nas lesões em estágio inicial, talvez esse seja um dos fatores que permita a elas progredir”, disse Holt. “Isso não fornece um mecanismo ou comprova algo, mas é consistente”.
Meyerson examinará modelos animais de câncer do cólon e questionará se a bactéria pode acelerar o desenvolvimento do câncer ou mesmo causá-lo. No entanto, os dois investigadores permanecem cautelosos.
“Ao lidar com agentes infecciosos nesse tipo de pesquisa”, segundo Holt. “Não é possível saber, ao menos nas primeiras fases da pesquisa, se o que foi descoberto é significativo ou uma falsa pista”, concorda Meyerson. “Ainda é difícil saber qual o grau de importância da descoberta”, afirma. “Ela pode ser muito importante, mas também é possível que não leve a parte alguma.”