30/09/2011
Um novo medicamento para câncer de próstata em estágio avançado pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes, diminuindo as dores, e fazê-los viverem mais.
Os resultados de estudos de fase Três (últimos antes de uma droga ser aprovada) foram apresentados no fim de semana no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia, em Estocolmo (Suécia).
O remédio Alpharadin foi testado em 922 pacientes com metástase óssea. Dos pacientes com câncer de próstata, até 40% têm metástase. Em 90% dos casos, o tumor se espalha para os ossos, principalmente na coluna, na bacia e no fêmur. Isso gera muita dor e pode deixar os pacientes incapazes de realizarem suas atividades diárias.
“O problema é o diagnóstico tardio. Muitos pacientes ainda têm preconceito com o exame de toque retal”, afirma o oncologista André Murad, do HC da Universidade Federal de Minas Gerais e do Hospital Lifecenter, que participou do estudo.
TESTE
O medicamento foi testado em 20 países, incluindo o Brasil. Seis centros médicos do país, entre eles o Hospital das Clínicas da USP e o Hospital do Câncer de Barretos, estavam envolvidos na pesquisa. Os pacientes foram divididos em dois grupos: um deles tomava o remédio e o outro recebia placebo, sem que ninguém soubesse quem recebia o tratamento ativo.
Aqueles que tomaram o Alpharadin tiveram taxas de mortalidade 30% menores e uma sobrevida média de 14 meses, em comparação com 11 meses do outro grupo. Como os resultados preliminares foram bons, o estudo foi interrompido para que os pacientes do grupo-placebo recebessem a droga.
TELEGUIADO
O remédio é um radiofármaco formado por partículas radioativas que têm afinidade pelas células ósseas -da mesma forma que o iodo radioativo tem preferência pela tireoide, por exemplo.
“Essas partículas se dirigem às células da metástase, depositam-se nelas e as destroem. É quase um míssil teleguiado”, compara Murad.
Segundo Gustavo Guimarães, chefe do setor de urologia do Hospital A.C. Camargo, outros radiofármacos causam diminuição de glóbulos brancos e de plaquetas, e não aumentam a sobrevida. “Esse novo remédio é mais preciso, age milimetricamente nas células malignas.”
Marcos Dall’Oglio, professor da USP e chefe do departamento de uro-oncologia do HC, afirma que a droga pode adiar a quimioterapia, o que é importante no caso de pacientes idosos, que não suportam esse tratamento. A radioterapia comum também pode afetar os tecidos normais e a produção de sangue.
Os efeitos colaterais mais comuns, segundo o estudo, foram diarreia e náusea.
O aposentado Raimundo Nonato da Fonseca, 83, de Belo Horizonte, foi um dos voluntários da pesquisa e afirma não ter tido nenhuma reação adversa ao remédio.
“Por causa das dores, não caminhava. Hoje durmo melhor, como bastante bem e estou engordando. Graças a Deus me dei bem.”
A Bayer HealthCare Pharmaceuticals, que produz a droga, prevê seu lançamento no Brasil em 2013.