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Saúde

ONU acusa indústria alimentícia de colocar saúde pública em risco

 

 

ONU acusa indústria alimentícia de colocar saúde pública em risco

23-09-2011

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, acusou as indústrias agroalimentícias de colocar a saúde pública em situação de risco para proteger seus interesses. A declaração foi feita em uma reunião de cúpula sobre doenças não transmissíveis realizada à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, que contou com a participação da presidente brasileira Dilma Rousseff.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 36 das 57 milhões de mortes registradas no mundo anualmente se devem a doenças não transmissíveis como o câncer, diabetes, problemas respiratórios crônicos e hipertensão.

As estimativas da OMS assinalam que o número de mortos provocadas por estas doenças aumentará 17% no mundo na próxima década, com uma alta de 24% apenas no continente africano.

Ao referir-se a estas doenças, Ban Ki-moon recordou que existe "uma história vergonhosa e bem documentada de certos atores na indústria que ignoram a ciência e, inclusive, sua própria pesquisa".

"Deste modo, colocam a saúde pública em situação de risco para proteger seus interesses", denunciou o secretário-geral da ONU.

Neste sentido, Dilma Rousseff pediu à ONU um aumento nos esforços para prevenir e tratar as doenças não transmissíveis, recordando o enorme custo humano e material que representam, ou seja, 1% do PIB no caso do Brasil.

"Em meu país, 72% das mortes não violentas entre as pessoas com menos de 70 anos estão vinculadas a estas doenças. Atingem também os mais pobres e os mais vulneráveis", declarou Rousseff em uma reunião de alto nível sobre este tema organizada em Nova York à margem da Assembleia Geral anual das Nações Unidas.

"As perdas em produtividade e os custos ocasionados nas famílias e no sistema unificado de saúde equivalem a 1% de nosso PIB", explicou.

A presidente ressaltou que "a desproporcional incidência entre os mais pobres prova a necessidade de uma resposta global a este problema", e lembrou que, para o Brasil, "o acesso a medicamentos faz parte do direito humano à saúde".
Ela enumerou algumas das iniciativas lançadas por seu governo, como, por exemplo, a favor de quem sofre de hipertensão e diabetes, através da distribuição gratuita de medicamentos em 20.000 farmácias públicas e particulares.

"Nos primeiros sete meses de meu governo, este esforço alcançou 5,4 milhões de brasileiro, triplicando o número de pacientes beneficiados", exemplificou. De fato, 80% das mortes por doenças não transmissíveis ocorrem em países em desenvolvimento.

A diretora da OMS, Margaret Chan, denunciou, por sua vez, os problemas ocasionados pelo cigarro, o sal, as gorduras saturadas e o açúcar.

"Nós nos manifestamos por mudanças no modo de vida e as regras rígidas para o uso do tabaco", afirmou Chan, para quem a reunião desta segunda "deve ser um chamado para despertar os governos no mais alto nível, levando em conta que o aumento mundial destas doenças é um desastre anunciado".

"Os alimentos preparados ricos em sal, gorduras saturadas e açúcar se converteram nos novos alimentos de primeira necessidade em quase todos os cantos do mudo", criticou Chan.

"Para um número crescente de pessoas são a forma mais barata para encher o estômago que tem fome", enfatizou.
Uma declaração política adotada pelos chefes de Estado e de governo dos 13 países membros da ONU se refere de forma explícita ao efeito prejudicial do sal, açúcar e gorduras saturadas nos regimes alimentares.

Uma fonte da ONU, que não quis revelar sua identidade, enfatizou que esta menção sofreu a resistência por parte de lobbies vinculados a esses produtos.

Esta reunião sobre doenças não transmissíveis é a primeira de importância na agenda da Assembleia Geral anual da ONU em Nova York.