12-09-2011
Dosagem de estatinas inspira alguns cuidados.
12-09-2011
Fonte: Gazeta do Povo
Em junho, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) publicou um comunicado que reacendeu a discussão sobre os prós e contras das estatinas, substâncias usadas no tratamento de casos de colesterol alto. O documento pedia que os médicos reduzissem as aplicações de sinvastatina e atorvastatina - dois tipos de estatina - pela metade, diminuindo as doses máximas de 80 miligramas para 40 miligramas, devido ao risco de incidência de diabete e dores musculares graves.
"A entidade concluiu que, nestes casos, os riscos de alterações na saúde eram maiores que os benefícios da utilização dessa dosagem mais alta", explica o diretor do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Daniel Branco de Araujo. Mesmo sem afetar a maioria dos tratamentos (leia no box ao lado), a nova resolução ampliou a polêmica em torno do uso de estatinas e em que quantidade seu uso é seguro. Para Araujo, apesar da resistência de alguns profissionais e pacientes, a discussão está ultrapassada.
Benefícios
"Quanto maior a dosagem, maiores as chances de efeitos colaterais, mas há estudos sérios que mostram os benefícios da medicação. Ela é usada desde o final da década de 1980 e é comprovado que reduz o colesterol, previne problemas cardiovasculares, como aterosclerose, enfarte e AVC, e não oferece grandes riscos à saúde", diz Araujo.
O professor de Cardiologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Dalton Precoma vai além e comenta que os riscos do colesterol alto são muito mais perigosos que os efeitos do remédio, quando administrado em doses seguras. "Nos casos indicados e com acompanhamento médico regular, os resultados positivos são incontestáveis", esclarece.
O especialista explica que a medicação é uma alternativa de tratamento para pessoas que têm colesterol alto e tenham tentado seguir uma dieta mais saudável, diminuir o estresse, praticar atividade física regularmente e parar de fumar, mas não tiveram resultados satisfatórios na redução do colesterol. Segundo Precoma, normalmente os pacientes conseguem uma redução de 10% a 15% das taxas de colesterol com a adequação de bons hábitos de vida. Com o uso regular do medicamento, essa redução é de até 56%.
Quanto aos efeitos colaterais, o médico cardiologista do Hospital Cardiológico Costantini Everton Cardoso Dombeck explica que somente em casos extremos os pacientes têm uma reação que possa ameaçar a vida. "Entre 5% e 10% dos pacientes sentem dores musculares, mas são somente aqueles que tomam altas doses, e basta tirarmos a medicação que elas cessam. Em raros casos, cerca de um em cada 4 milhões, a pessoa tem uma rabdomiólise [danos nos músculos esqueléticos devido à destruição das células], mas exames de controle periódicos reduzem os riscos a quase zero", comenta Araujo.
Ressalva
A principal ressalva é que pessoas com problemas musculares graves ou alterações hepáticas não devem usar estatinas. "Com o uso continuado, podem ser detectadas pequenas modificações no fígado, mas apenas 1% têm alterações consideráveis, que são solucionadas, e somente um em cada 1 milhão de pacientes manifesta problemas graves", ensina Araujo. Ele explica que alguns estudos sugerem que o uso de estatinas pode levar a um AVC hemorrágico, mas o problema não chega a ser uma preocupação. Afinal, as chances de isso ocorrer são mínimas perante a redução que a estatina gera nas chances de um AVC isquêmico. "Se compararmos, essa prevenção vale a pena diante dos riscos", diz. Segundo Precoma, também não é comprovado que as estatinas aumentam a chance de a pessoa ter câncer.