10-09-2011
Atentados do 11 de Setembro criam "inimigo invisível" e marcam a década do medo
10-09-2011 Fonte: R7 Notícias
A ameaça invisível. O perigo à espreita. O inimigo em toda parte. O discurso adotado pelos Estados Unidos após o 11 de Setembro estimulou uma série de políticas guiadas pela insegurança, tanto dentro como fora do país. Ao longo dos últimos dez anos, esse sentimento se alimentou de novos temores, como catástrofes ambientais, problemas migratórios, crise econômica e altas taxas de desemprego, marcando a década como uma época do medo.Após o 11 de Setembro, a administração Bush (2001-2009) estabeleceu a ideia de inimigo invisível, espalhando o medo de uma ameaça iminente, diz Héctor Luis Saint Pierre, especialista em terrorismo e segurança internacional.
- Esse inimigo internacional pode ser nosso vizinho, pode estar dentro das fronteiras, o que cria uma situação de inimigo interno.
Para se proteger de possíveis novos ataques, o país passa a adotar uma série de medidas invasivas, como as excessivas revistas em aeroportos (que depois se aprimoram com os scanners corporais, que captam imagens "por baixo da roupa"), além do monitoramento de e-mails, telefonemas e transações financeiras de cidadãos americanos e estrangeiros.
Uma pesquisa divulgada neste mês pelo Public Religion Research Institute (Instituto Público de Estudos sobre Religião, em tradução livre) em conjunto com o Brookings Institution, em Washington, aponta que, para mais da metade dos americanos entrevistados, o país está mais seguro hoje contra o terrorismo do que antes dos atentados de 11 de setembro de 2001. No entanto, 77% afirmam ter menos liberdades pessoais.
Se as liberdades pessoais ficam mais restritas internamente, na política externa isso se traduz em abuso de poder e crimes contra humanidade. Os EUA passam a adotar medidas como prisões injustificadas e métodos de tortura. O próprio Bush admitiu ter autorizado técnicas como simulação de afogamento e outras formas de "interrogatórios duros". Contra o terrorismo, o país comete uma série de violações, diz Saint Pierre.
- Todos os meios são justificados, até mesmo a tortura.
Essas ações indicam que a política externa americana deixa de lado o manual diplomático para adotar o "manual criminal", afirma Marco Aurélio Nogueira, diretor do Instituto de Relações Internacionais da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
De acordo com Nogueira, esse sentimento de insegurança se generaliza ao longo da década, mas não apenas por causa do 11 de Setembro. Além do terrorismo, o medo se torna condição atual em razão de outros temores, como catástrofes ambientais causadas pela ação humana, intolerância contra imigrantes na Europa e nos EUA, aumento da criminalidade e, mais recentemente, a insegurança provocada pelo desemprego e pela crise econômica.
- A situação internacional se tornou uma estrutura que produz insegurança. Se, nesse cenário, a política é direcionada para guerras e inimigos generalizados, isso só aumenta o medo.
O mundo ficou mais seguro?
Apesar de tantas medidas de proteção, o mundo não ficou mais seguro, afirma o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de relações internacionais da ESPM. Para ele, esse medo tornou o mundo mais paranoico.
- As medidas de segurança servem mais para acalmar a sociedade do que para evitar um novo ataque. Elas não têm função prática a não ser para conter os ânimos da sociedade, que se sente mais segura porque vê algo sendo feito.
Outro lado negativo dos aparatos de segurança, diz Nogueira, são os altos gastos públicos e a antipatia da população.
- Esses métodos são, no mínimo, desconfortáveis, além de ser exagerados e despropositados, porque é pouco provável que aconteça outro 11 de Setembro.
Vencendo o terrorismo
As medidas acabam sendo desnecessárias também, dizem os especialistas, pois combater e vencer o terrorismo é impossível. Segundo Saint Pierre, existem limitações nessa luta.
- Você pode diminuir o espaço de ação do terrorismo, tirar suas causas políticas, fazer controle financeiro, prestar atenção a sinais de perigo, tudo para limitá-lo e controlá-lo, mas não para vencê-lo.
Como o terrorismo é uma guerra psicológica, a única estratégia para vencê-lo é a resiliência, diz Cukier. Ou seja: fazer as pessoas voltarem ao normal o mais rápido possível após um grande choque.
- Isso tem a ver com a essência do terrorismo. Seu objetivo não é causar destruição física ou econômica, mas sim aterrorizar e amedrontar. Se a destruição não causa impacto psicológico, então o terrorismo perdeu.
 
						  
                         
                             
                         
                             
                                 
                         
                             
     
     
                                             
                                             
                                             
                                             
                                             
                                            