14-08-2011
Saiba como cadáveres vítimas de acidentes e assassinatos brutais são identificados no IML
14-08-2011 Fonte: Paraná Online
Por inúmeras vezes lemos que corpos envolvidos em assassinatos, mortes brutais e graves acidentes estão em processo de identificação. São casos difíceis de ser solucionados e que exigem que profissionais especializados utilizem técnicas para que esses cadáveres sejam devidamente reconhecidos. No Paraná, este trabalho é feito em conjunto pelo Instituto Médico Legal (IML), Instituto de Identificação e o Instituto de Criminalística.
Basicamente, os corpos são identificados através de três processos: papiloscopia, que identifica através das impressões digitais; DNA, que compara os códigos genéticos; e via arcada dentária. "Determinar a identidade civil de um cadáver que não porta documentos (Não Identificado) e que não é Reclamado por familiares é tarefa árdua que envolve muitos profissionais interagindo no IML", afirma Dr. Porcídio Vilani, diretor-geral do IML.
Segundo Vilani, antes de qualquer explicação é preciso ressaltar a diferença entre identificação e reconhecimento. "Quando as pessoas em busca de um parente desaparecido comparecem ao IML para visualizar um corpo possivelmente de familiar, estão tentando um reconhecimento. Este não deve ser confundido com a identificação. A identificação deve associar o reconhecimento, que é puramente físico (como as características externas da pessoa), a outros elementos técnicos nem sempre fáceis de serem obtidos", diz.
As ações desenvolvidas para identificação analisam elementos físicos da pessoa, tais como estatura, raça, peso, cor e tipo dos cabelos, cor dos olhos e aspecto da dentição. "Estes elementos, quando agregados pela análise, acabam por reduzir a limites mais próximos certa quantidade de pessoas estreitando as mais parecidas em um processo de
limitação. São investigados também sinais característicos como tatuagens, cicatrizes e anomalias anatômicas congênitas e as adquiridas ao longo da vida", relata Vilani.
Impressões digitais sem erros
A papiloscopia, ciência que realiza a identificação de uma pessoa através das impressões digitais, é o caminho mais utilizado para identificar os corpos. No necrotério do IML de Curitiba é realizada a tomada de impressões digitais em 100% dos corpos, sejam eles vitimados por causas violentas ou origem natural.
Segundo o diretor-geral do IML, há alguns anos atrás uma pesquisa poderia levar semanas para ser concluída dependendo da quantidade dos dados armazenados. "Exigia muita racionalidade na distribuição dos arquivos, atenção completa do papiloscopista, além de bastante cuidado e paciência", diz.
Hoje o IML conta com uma nova tecnologia para identificação de cadáveres. Através do programa de computador AFIS, o processo ganhou tempo. As impressões digitais são tomadas da forma convencional e escaneadas, para serem enviadas a Curitiba. A imagem é confrontada com as impressões arquivadas no banco de dados, do Instituto de Identificação e Detran, e a resposta enviada à unidade do IML, também pela internet. "É uma mudança radical. Antes, as digitais eram tomadas em papel e remetidas via Correios ou malote, para que fosse feito o confronto. Esse processo demorava de 20 a 30 dias", explica o diretor do IML.
De acordo com Rodrigo Alves Lopes, gerente técnico do Instituto de Identificação do Paraná, 99% dos processos de identificação no IML são feitos pela papiloscopia. "Além de termos uma enorme base de dados para o reconhecimento, contamos com técnicas especiais e únicas que dificilmente não conseguimos identificar", afirma.
O processo de tomada das impressões digitais de cadáveres requer cuidados especiais, dependendo da causa da morte e do estado em que a vítima foi encontrada. Em caso de pessoas carbonizadas ou afogadas, é necessário limpar e hidratar a pele antes de registrar as impressões. "Muitas vezes, esse processo é feito com o verso da pele ou com a endoderme (camada mais profunda da pele)", explica o necropapiloscopista Afonso Cruz.
Fragmentos podem ser usados para identificar o cadáver, caso preservem as linhas principais. Nesses casos, ou em outros em que a carne está muito flácida para que a qualidade da impressão seja adequada, o papiloscopista "veste" seu próprio dedo, protegido por luva, com a pele do cadáver que se quer identificar.
Raio X de arcada dentária
Em muitos casos, quando a decomposição do corpo está em fase avançada, sendo impossível realizar a identificação do cadáver através dos exames convencionais, uma das maneiras de se chegar à identidade verdadeira é realizando o exame comparativo de arcadas dentárias.
O procedimento é feito através da comparação entre as chapas de raios X feitos pelo dentista do suposto falecido e as imagens da arcada dentária do cadáver feitas exatamente do mesmo ângulo. Quando sobrepostas, é possível reconhecer as semelhanças no formato dos dentes e eventuais trabalhos odontológicos. "Conseguimos identificar
tudo o que foi feito na dentição do paciente: restaurações, canais, coroas e próteses. Qualquer informação na ficha odontológica da pessoa pode auxiliar nesse procedimento, principalmente irregularidades como dentes tortos, encavalados ou espaçados", afirma a dentista Déa Carlota Mion Queiroz, perita do IML.
Se a pessoa não deixar chapas de raio X, é possível realizar a identificação utilizando uma foto em que ela apareça sorrindo ou mostrando a dentição de alguma forma. Essa imagem pode ser ampliada e sobreposta a uma filmagem frontal do crânio. Caso não se tenha a menor idéia da identidade do morto, a única informação que a arcada dentária fornece é uma estimativa de sua idade.
Além de serem a estrutura mais resistente do corpo, capazes de resistir à carbonização em temperaturas de até 500ºC, os dentes apresentam outra vantagem: é neles que fica preservado por mais tempo o material genético de uma ossada. Os peritos, porém, costumam deixar esse tipo de análise em segundo plano, devido ao alto custo e à
dificuldade da extração do DNA dos dentes - mas isso não prejudica seu trabalho.
DNA é última cartada
Em casos em que a papiloscopia e o reconhecimento via arcadas dentárias não conseguem realizar a identificação do corpo, a única via é fazer o exame de DNA. Este procedimento é feito pelo Instituto de Criminalística. Segundo especialistas, é possível determinar semelhanças e diferenças apresentadas no código genético de cada pessoa. Apenas 1% do DNA varia de um indivíduo para o outro.
A grande dificuldade dos peritos está na extração de material. Como os cadáveres estão em estado avançado de decomposição ou carbonizados, o recolhimento da prova material se torna complicado para a realização do exame do DNA. "Nestes casos temos que ter toda atenção e cuidado para retirar o material e não comprometer o andamento do exame", afirma Marcelo Malaghini, perito chefe do laboratório de DNA do Instituto de Criminalística.
Os técnicos utilizam substâncias que rompem as membranas das células, para coletar o material genético presente nelas. Depois, o DNA passa por um processo de "amplificação", para aumentar a quantidade presente nas amostras. Para fazer o teste, são analisados entre 13 e 19 trechos do DNA que variam bastante de pessoa para pessoa. As longas cadeias de DNA são formadas por pequenos fragmentos que fornecem as bases necessárias para determinar que tipo de informação está contida no código genético.