22-07-2011
As moléculas do sistema imunológico de algumas pessoas que são capazes de neutralizar o HIV têm uma origem comum no DNA, mostra uma nova pesquisa.
A descoberta foi feita por cientistas dos EUA e da Alemanha estudando voluntários que contraíram o vírus, mas não apresentam sintomas da doença.
Desenvolvendo um novo método para identificar anticorpos - proteínas que atacam micróbios invasores no organismo - os pesquisadores descobriram 576 tipos diferentes dessas moléculas.
E a surpresa: todas elas, apesar de marcadas diferenças, eram extremamente agressivas contra o HIV e tinham origem em apenas dois trechos distintos de DNA.
Já se sabia que alguns anticorpos humanos eram capazes de neutralizar o HIV, mas um estudo sobre o novo achado, publicado na semana passada na revista "Science", é o primeira a dar uma pista sobre como o sistema imune os fabrica.
"Descobrimos que existe uma certa similaridade entre as respostas imunes de diferentes pessoas, que usam o mesmo anticorpo inicial para produzir os anticorpos que neutralizam o HIV", diz Michel Nussenzweig, brasileiro que trabalha na Universidade Rockefeller, de Nova York, e é coordenador do estudo.
"Achamos isso estranho e interessante, porque as respostas imunes costumam ser muito diversificadas na maioria das pessoas."
Isso era uma barreira para cientistas que pretendiam usar esses anticorpos como inspiração para produzir uma vacina. Sem saber a origem das moléculas, era difícil saber como "provocar" o sistema imunológico da maneira correta para produzi-las.
Agora, além de ter uma pista sobre como o corpo começa a produzir essas moléculas, Nussenzweig e colegas conseguiram determinar melhor como elas são.
Ao analisar com detalhe a estrutura de um dos anticorpos obtidos, viram que ele é capaz de atacar o calcanhar-de-aquiles do vírus: o pedaço da carapaça do HIV que se gruda nas células humanas antes de atacá-las.
Se pesquisadores descobrirem a molécula do vírus que desencadeia a produção desse anticorpo, isso poderia ser traduzido em uma vacina.
"Estamos tentando achar outros anticorpos com essa característica, porque talvez seja preciso mais de um para isso", diz o cientista.
A produção de uma vacina a partir dessa ideia ainda pode estar muitos anos à frente, mas a descoberta anunciada hoje pode ganhar outro tipos de aplicação. Segundo Nussenzweig, usando engenharia genética é possível clonar os superanticorpos para usá-los diretamente como agentes terapêuticos.
"Os anticorpos que identificamos são mais potentes do que os que já eram conhecidos e são muito abrangentes, capazes de reconhecer 90% das linhagens de HIV registradas", diz. "Não sabemos ainda se o uso direto dessas moléculas pode ajudar em terapia para soropositivos, mas é possível que sim."