30-05-2011
Detentas encontram esperança em atividades realizadas na prisão
30-05-2011
Fonte: O Estado do Parana
Um dos grandes problemas em relação às pessoas que estão saindo do sistema carcerário é sobre o que elas irão fazer após cumprirem a pena as quais foram imputadas. Pelo fato da cadeia no Brasil ser punitiva em vez de corretiva, muitos dos detentos acabam voltando para o mundo do crime porque não foram devidamente preparados para voltar para a sociedade e viver de forma digna. Felizmente, em alguns lugares existem iniciativas para que o preso possa aprender algo e buscar um trabalho digno após deixar a vida penitenciária. Um destes exemplos é o que a Escola Penitenciária (Espen), vinculada à Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania (Seju), faz. Embora o seu foco seja de oferecer cursos para os agentes penitenciários, há uma derivação do seu trabalho que dá a possibilidade das detentas do presídio feminino de regime semiaberto possam voltar a estudar e recuperar sua autoestima.
O assistente social da Espen, Roque Viríssimo, explica que a meta principal é a de que as presas voltem a estudar. "Nós vimos que apenas entre 5% a 8% das detentas tinham o interesse em recuperar o tempo perdido e voltar a estudar. Tivemos uma ideia e conversar com o pastor de uma igreja evangélica, a Templo das Águias, para ver se era possível leva-las para um culto, como uma forma de dar um incentivo, uma palavra positiva a elas. O pastor Sérgio de Castro, responsável pelo templo, prontamente aceitou a ideia. Então, todos os domingos, nós a levamos para o culto, porém, como pré-requisito para isso, elas obrigatoriamente devem frequentar a escola. Isso fez com que o número das detentas que estudam saltasse para 75%", comenta.
Para Viríssimo, a junção dos estudos com a ida ao templo foi uma sacada em que elas só têm a ganhar. "Ao voltar para a sala de aula, fica mais fácil para elas se qualificarem. Ao ir para a igreja, elas têm a oportunidade de se sociabilizar e de entrar em contato com valores morais e éticos. Desta maneira, elas se sentem amadas. Um exemplo disso foi uma presa que, após anos de negligência e maus tratos, ficou emocionada por ter recebido o que ela afirmou ser seu primeiro abraço na vida. Isso com certeza mexe com a pessoa", avalia.
Outra forma de mexer com a autoestima das presidiárias foi fazer uma série de cursos para conscientizá-las e resgatar seu amor próprio. "Conseguimos com um cabeleireiro que todo sábado fosse ministrado cursos de corte de cabelo, maquiagem, etiqueta social e palestras de motivação e também como um alerta sobre os malefícios das drogas. Queremos mostrar para elas esse outro lado da vida em que tiveram pouco ou nenhum contato. Até o momento, tudo está dando certo", afirma o assistente social.
Coral
Outra forma de atrair as detentas para participar desta recuperação e sociabilização é o projeto "Voz da trombeta". Por meio da criação de um coral, as presas aprendem a refletir sobre a liberdade e também tomam consciência de abandonar vícios. Veríssimo explica um pouco mais sobre a iniciativa. "Aqui também é outra ideia para recuperar a cidadania destas mulheres. Além de trabalhar com a música, nós usamos o coral como uma forma mascarada para se atingir o objetivo", revela. Segundo o assistente social, pela série de cuidados que é preciso para estar em um coral, as detentas acabam largando maus hábitos. "Para cantar é preciso muitos cuidados. Além da parte técnica, como modular a voz, elas precisam beber muita água e deixar o álcool de lado, parar de fumar, entre outros. É uma maneira para que elas se cuidem mais, pois do contrário não conseguirão fazer parte do coral. A responsabilidade por montar o grupo vocal é por conta de uma líder do templo onde as detentas assistem ao culto. Ela está fazendo a seleção para contralto, soprano, etc. Estamos vendo com a Seju a possibilidade de fazer apresentações e gravar um cd em um futuro", encerra
Ressocialização
O coral das detentas do Centro de Ressocialização Feminino de Regime Semiaberto vai se apresentar, em julho, na Faculdade Leocádio Correia. Elas estão ensaiando nos finais de semana. Genilda Beatriz de Carvalho, 26 anos, é de São José dos Pinhais está presa há um ano e dois meses por assalto à mão armada e gosta de participar do coral. "Eu me sinto com Deus", diz Genilda.
Genilda tem esperanças de melhorar de vida quando sair da prisão. "Quando eu estava na rua eu não tinha esperança de nada. Tinha esperança de morrer com as drogas. Agradeço a Deus por ter me guardado neste lugar. Agora que passei por um processo de desintoxicação das drogas tenho vontade de viver, de cuidar de meus filhos, de cuidar dos meus dentes, da minha saúde, mente, de mim", diz Genilda. Ela também gosta de ir à igreja. "Ir à igreja é como tirar um peso de minhas costas", avalia.
Ynayá Roger, 27 anos, é de Sumaré (SP) está presa há dois anos e um mês por tráfico de drogas e acha que o canto melhora a sua timidez. "Quando eu sair vou ter de procurar serviço e fazer entrevista de emprego. Com o canto eu me solto mais", acredita Ynayá. A detenta espera mudar de vida quando sair da prisão. "Quero voltar a trabalhar e fazer uma faculdade para ajudar a minha família", sentencia. Ynayá também frequenta o culto no Templo das Águias. "Dá um alívio e uma paz. Acaba com a ansiedade de querer ir embora de um lugar fechado", acredita.
Rozana Andrade de Souza, 30 anos, é de Campina Grande do Sul (PB) e está presa há três anos e dois meses por tráfico de drogas. "Eu me sinto bem melhor cantando no coral, sabendo que a sociedade se lembra da gente num lugar deste. Eu me sinto um ser humano melhor e aumenta a minha autoestima", diz Rozana.
Quando sair da prisão, a esperança de Rozana é refazer a vida com a família e trabalhar. "Sei que o tempo que eu perdi aqui dentro não vou recuperar, mas sei que a gente tem que fazer o melhor lá fora", diz Rozana. Ela participa também do culto e se sente amada e importante para Deus ao freqüentar a igreja.
Nos finas de semana, as detentas também fazem curso de cabeleireiro com o empresário e maquiador Eron Luiz Lima. Para Glades Maria Anger Cirino, 33 anos, o curso de cabelo é "maravilhoso". Ela é de São Luiz Gonzaga (RS) e está presa há seis anos por tráfico de drogas. "Quero ser cabeleireira porque gosto de mexer com cabelo. Eu corto o cabelo das colegas de quarto", conta Glades. Quando ela sair da prisão, além de praticar o que aprendeu no curso que estudar instrumentação cirúrgica na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR).
Glades conta ainda que aceitou Jesus há pouco tempo. "Estou com 33 anos e conheci a palavra de Deus no sistema penitenciário. Quero que meu filho tenha orgulho de mim. Já fui convidada para voltar ao tráfico, mas não quero isso nunca mais", disse.
Para Aline Morais, 21 anos, presa há dois anos por tráfico de drogas, o curso de cabeleireiro "ajuda a abrir as portas lá fora porque hoje em dia pede-se experiência para tudo". "Quando eu sair da prisão, pretendo abrir uma loja de roupas e mais para frente abrir um salão", planeja Aline. Segundo ela, o trabalho de ressocialização ajuda melhorar "o psicológico". "A gente que está presa tem que enfrentar o preconceito. O curso ajuda a ver que nem todas as pessoas têm preconceito", acredita Aline.