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Processo de erosão de rochas é natural e turistas devem ficar atentos

Verificar a previsão do tempo em todo o perímetro antes da aventura e ficar alerta a sinais de deslizamentos é fundamental em expedições

Processo de erosão de rochas é natural e turistas devem ficar atentos

O desmoronamento de um bloco de pedras no lago de Furnas, em Capitólio, cidade de Minas Gerais, gerou imagens impressionantes, que rodaram o mundo no último sábado (08). Mais do que imagens, infelizmente a tragédia deixou dez mortos e pelo menos 32 feridos.

A Folha conversou com Herick Faust Daufenbach, graduado e mestre em Geologia pela Universidade Federal do Paraná e licenciado em Geografia pela Fael, que explicou que a erosão de rochas é um processo natural e lento, mas alertou para que turistas fiquem atentos aos sinais que a natureza dá do processo.

“Esse processo é inevitável, que para ser formado precisa de anos de enfraquecimento da rocha, por meio de ações naturais. Em rochas muito fraturadas, como acontece em Capitólio, o contato constante da água da chuva e a vegetação em volta, que cria raízes, vai mexendo com os blocos, enfraquecendo eles. Na grande maioria das vezes, este não é um processo que o nosso tempo de vida – do ser humano – consegue acompanhar acontecendo. Por outro lado, há medidas a serem tomadas para evitar acidentes.”

O professor Herick comenta, ainda, que há equipes especializadas, que realizam vistorias, para verificar se há riscos de acidentes geológicos acontecerem em determinado local. “Não há como prever, mas há sim meios de estudar determinado local e realizar o que chamamos de mapeamento de áreas de risco, onde o geólogo classifica a propensão ao deslizamento ou desmoronamento de blocos de rochas, por exemplo. Assim, são feitos estudos para decidir qual a medida de contingência mais correta a ser seguida”, explica.

Entre elas, estão a colocação de redes – que seria algo mais temporário e avaliado com maior frequência – ou ainda fazê-la cair propositalmente, interditando primeiramente o local e em seguida fazendo a força para que a queda aconteça de maneira planejada, sem resultar em acidentes.

“Esse mapeamento permite ainda classificar onde é seguro e onde não é. Em 2011, por exemplo, tivemos um deslizamento na Serra do Mar, litoral paranaense, onde várias famílias puderam ser retiradas e, por consequência, salvas de um acidente inevitável. Na época havia tido um grande número de chuvas na região, o que provocou o deslizamento”, relembra.

Atenção e cuidados
Durante a época da pandemia de Covid-19, o turismo ecológico ficou fortalecido, por poder ser praticado ao ar livre e com pouco ou nenhum contato com outras pessoas. Porém, é aí que o alerta surge, quando pessoas sem experiência decidem se aventurar em determinadas regiões, que podem ser perigosas.

“Para quem pratica esse tipo de turismo e mesmo esporte, a primeira recomendação que temos é não escalar, fazer trilhas ou procurar rios quando há previsão para chuvas. Montanhistas experientes procuram até mesmo realizar em épocas mais secas, para evitar se deparar com a chuva, que é algo muito arriscado quando se está em morros, picos ou montanhas”, alerta.

Ele explica que com a ação da água da chuva, pode acontecer de o terreno sofrer deslizamentos com maior facilidade e causar acidentes.

“A previsão do tempo é uma aliada constante, tanto desta prática de esportes, como da Geologia. Nós precisamos avaliar todo o perímetro, não somente o local em que pretende ir, pois há uma reação em cadeia. Um exemplo são as cabeças d’água, vistas em rios. Quando chove lá no topo, no que chamamos de cabeceira do rio, pode acontecer de surgirem essas cabeças d’água, que acontece quando há um aumento muito rápido do volume de água, provocado pela chuva. Esse fenômeno da natureza tem muita força e arrasta tudo o que vê pela frente. Não há como identificar previamente – pelo menos por pessoas inexperientes – e trazem um grande risco à vida”, diz.

Para situações de deslizamentos, o ideal é nunca ficar na parte de baixo, no pé do morro, montanha ou pico. “Tanto em deslizamentos de terra ou quando soltam-se pedras, elas começam com pequenos blocos, é possível ver o início deste desmoronamento. Isso é bem nítido nos vídeos de Capitólio antes da queda da pedra maior. Isso soa o sinal de alerta e a pessoa ou grupo devem imediatamente deixar o local”, recomenda.

Há locais de escalada, até mesmo no Morro do Cal, em uma trilha mais difícil, onde há pedras soltas, por isso nessas regiões é aconselhada a disponibilização de cordas. “Muitas vezes a pessoa tem que se apoiar somente com as mãos, dada a instabilidade do terreno. No Morro do Cal há cordas para apoio. Quando eu fui fazer essa trilha, percebi que as cordas eram novas e isso é importante, pois ficam na natureza e o desgaste é maior. Sempre avalie se a corda está em um bom estado e principalmente se está presa”, ressalta.
Sobre grampos nas rochas, o professor Herick explica que em alguns picos e morros eles são mais firmes, como por exemplo no Anhangava. Há locais onde o grampo está mais mole ou mesmo parece estar solto, por isso cautela é imprescindível, pois trata-se de um paredão. Ele comenta que a colocação de grampos é recente, o que não seria capaz de provocar um desgaste intenso nas rochas, além da supervisão frequente dos responsáveis pelas áreas de preservação ou parques.
Os locais de escarpa também são classificados como perigosos, por serem paredões, por isso, ao se aventurar, procure sempre equipes com conhecimento técnico do esporte e do local.

Cuidado com pedreiras abandonadas
Um alerta importante é sobre tomar banho ou passear em pedreiras abandonadas. “As pedreiras são locais de onde são extraídos o calcário e o mármore, principalmente. Quando elas são abandonadas, as chances delas terem algum tipo de controle ou mapeamento geológico são muito baixas, o que significa maior risco. Devemos lembrar que as pedreiras tiveram intervenções diretas do homem, seja por meio de explosão ou escavação para a retirada do mineral. Por isso, as chances dos abalos nos blocos são maiores, representando maior risco”, salienta.

Ele explica ainda que a chuva entra em meio às rachaduras das rochas, acumulando água e fazendo o enfraquecimento da mesma. Além da atuação da natureza, por meio das raízes de plantas que crescem em meio a estas rachaduras.