Um novo ano inspira novos desafios, e para alguns estes podem estar ligados diretamente à mudança de carreira ou de emprego. Entretanto, há alguns aspectos importantes que devem ser considerados na hora de encarar este desafio.
A Folha conversou com Krisleine Oroski, que há 15 anos atuando na área de RH, especialmente Recrutamento e Seleção e Business Partner (Consultor Interno de RH), com formação em Administração, Psicologia e pós-graduação em Gestão, Pessoas e Comportamento (PUC/PR) e ressaltou que nunca é tarde para recalcular a rota e mudar de carreira, embora não seja algo simples, ou rápido, para ser feito. “O autoconhecimento e o planejamento como tópicos importantíssimos, talvez essenciais para esse processo, sendo o autoconhecimento um aspecto fundamental para que você possa entender seu momento atual e compreender suas emoções e verificar se é, de fato, genuíno ou está baseado em uma fase difícil em um trabalho específico. Não faz sentido pensar na transição de carreira olhando apenas para o aspecto salarial ou porque existe uma função em alta no mercado de trabalho. Se o seu perfil não estiver alinhado ao cargo, você poderá não gostar da nova área ou até mesmo ter dificuldades para se recolocar.”
A especialista segue explicando que essa primeira parte já conecta à questão sobre se é possível aproveitar os conhecimentos já adquiridos ao longo da trajetória profissional. “Não só é possível aproveitar os conhecimentos já existentes, como é essencial fazê-lo. Tudo o que aprendemos na vida será útil, mesmo em uma carreira diferente. O nosso comportamento fará toda a diferença em qualquer situação, especialmente em um novo cargo ou carreira, assim, as habilidades comportamentais que darão grande suporte ao processo de mudança de carreira, afinal, tudo o que é técnico aprendemos com maior facilidade, enquanto a mudança de comportamento é mais desafiadora”, completa.
Ressalta ainda que é necessário planejar a estratégia para essa transição. “Em muitos casos, será necessário dar um passo para trás até que sua nova carreira decole. Nesse sentido, é preciso estar ciente de que, talvez, para essa transição, você terá um salário menor no início, trabalhará em horários diferentes, precisará investir tempo em estudos fora do seu horário de trabalho, enfim, há muitas variáveis a considerar. Se você deseja empreender um negócio próprio, é importante começar com um plano de negócios, compreender o mercado e o público ao qual você estará direcionando o serviço ou produto, fazer uma análise de viabilidade financeira, etc. É necessário entender que, na maioria dos casos, você não começará um negócio já ganhando rios de dinheiro. Por isso, seu planejamento financeiro será fundamental”, pontua.
Assim, acrescenta que faz parte do planejamento o "como" o profissional fará a transição de carreira, não sendo suficiente apenas fazer uma faculdade ou um curso, mas encontrar o caminho para chegar aonde deseja chegar.
Pontos a serem considerados
Krisleine ressalta que é extremamente importante que o profissional faça uma avaliação das suas competências sempre que possível, pois isso ajudará a identificar seus pontos fortes e as áreas que precisam melhorar. “Na atualidade, ferramentas como o DISC, um questionário de personalidade de fácil aplicação, têm se mostrado bastante eficaz. Ferramentas ou métodos que auxiliem no processo de autoconhecimento será válido e importante nesse momento de transição de carreira. O importante é usar essas informações para refletir com clareza sobre o que realmente buscamos e onde podemos agregar mais valor, tanto para nós mesmos quanto para as empresas ou áreas em que desejamos atuar.”
Quando a decisão é por “começar do zero” em outra área, a insegurança pode aparecer no processo, por isso um planejamento adequado pode fazer com que tudo se torne mais suave. “Por isso, ter clareza sobre os motivos que o impulsionam a buscar uma nova carreira é fundamental. Isso ajuda a manter o foco e a motivação mesmo diante dos desafios. Além disso, planejar com cuidado cada etapa da transição também faz toda a diferença. Saber por onde começar, quais passos tomar e antecipar os possíveis obstáculos cria um senso de controle e preparação, o que reduz a sensação de insegurança. Outro ponto essencial é investir em autoconhecimento e saúde emocional. Manter um equilíbrio emocional durante essa jornada é crucial. Se possível, busque o apoio de um profissional para te direcionar nesta transição de carreira. Se a sensação de insegurança estiver muito pesada, a psicoterapia pode ser uma excelente opção para ajudá-lo a entender e gerenciar melhor suas emoções”, diz.
Um aspecto relevante para essa decisão também é o aporte financeiro durante esse período. Para uma maior estabilidade financeira durante uma transição de carreira, Krisleine considera que é importante fazê-la dentro da sua empresa atual, para haver menos impactos no salário ou nas condições de trabalho. No entanto, ela alerta que, na maioria dos casos, a transição de carreira exigirá um recomeço do zero, o que pode resultar em uma queda salarial temporária até que a nova trajetória se estabilize.
“Um planejamento financeiro antecipado, fazendo uma reserva de segurança para cobrir possíveis imprevistos durante essa fase de transição é muito eficaz. No caso de casais, é fundamental que ambos estejam alinhados com o objetivo da mudança e compreendam que algumas prioridades precisarão ser revistas. Durante esse período, será necessário economizar ou, se for o caso, se apoiar mutuamente para enfrentar os desafios financeiros”, orienta.
Outro ponto importante citado por ela é evitar realizar a transição de carreira com pressa ou em um momento de desespero, porém, optar por uma transição mais gradual, que oferece tempo para construir uma rede de contatos sólida e que permite que as coisas aconteçam de maneira mais natural.
Expandindo contatos
Um dos pontos importantes para apoiar a estratégia de transição de carreira em 2025 é a construção de uma rede de networking sólida. “O networking eficaz se baseia em relações genuínas e no compromisso com o crescimento mútuo, ou seja, não basta se aproximar da sua rede de contato e pedir apoio, mas de alguma forma você precisará cativá-los e fazê-los querer te ajudar. Essa rede de contato te ajudará a acessar recrutadores para apresentar seu perfil ou pessoas que te darão suporte na consolidação de seus projetos”, ressalta.
Algumas estratégias apresentadas pela especialista é a utilização de redes sociais profissionais, como o LinkedIn, onde mantenha o perfil atualizado, participar de grupos relevantes e interagir com conteúdo compartilhado por outros profissionais. Além do LinkedIn, existem outras plataformas como WhatsApp, fóruns especializados e até grupos de Facebook que reúnem profissionais com interesses comuns.
Investimentos em mentorias também são estratégias para construir uma rede mais qualificada, bem como a participação de eventos do setor, como conferências, workshops e webinars, que devem ser vistos como oportunidades ideais para se conectar com profissionais da sua área.
Empresa no processo
As empresas também podem ser participantes do processo. “Creio que as empresas geralmente terão este olhar de forma mais internalizada no sentido do colaborador se desenvolver, mesmo que em uma área distinta a atual, dentro da própria companhia. Existem muitas empresas ótimas no mercado e que estão dispostas a apoiar o colaborador neste sentido”, ressalta.
Ressalta que entre as práticas empresariais que podem apoiar os colaboradores neste processo de transição. “Entre eles estão o Feedback 1:1, que promove conexão entre gestor e liderado a ponto de estabelecerem um plano de desenvolvimento individual mesmo para outra área; as mentorias, sendo uma abertura para que os colaboradores possam receber mentorias de profissionais de outros departamentos para serem orientados e direcionados aos seus objetivos; as promoções internas, que irão valorizar e engajar muito os colaboradores; e os programas de desenvolvimento que entreguem bons treinamentos e capacitações de seu colaboradores e que sejam facultativos, o colaborador tendo a oportunidade de escolher os treinamentos que fazem mais sentido para seu plano de carreira.”
Em constante evolução
Para Krisleine, um dos maiores desafios a todos os trabalhadores, independente da área, é a constante evolução, que poderá implicará em renunciar alguns “prazeres” para dar conta de estar sempre a frente do mercado. “O crescimento profissional demandará estar atualizado sobre o que acontece em seu segmento de atuação, demandará aprendizado constante, adaptação a novas tecnologias, aquisição de novas habilidades técnicas e, muito importante, o olhar para nosso comportamento e o equilíbrio emocional. E obviamente isso demanda tempo e dedicação extra. Não podemos nos perder na busca incessante por novos aprendizados ou na adaptação às exigências externas a ponto de negligenciar nosso bem-estar, valores e aspirações pessoais. Equilíbrio entre vida pessoal e profissional sempre deverá existir”, finaliza.