Segunda-feira às 14 de Julho de 2025 às 01:44:46
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Há 121 anos, túmulo e história de Mariazinha e Pedrinho Binek comovem os campo-larguenses

Há 121 anos, túmulo e história de Mariazinha e Pedrinho Binek comovem os campo-larguenses

Mesmo com pouca documentação, mas com as informações que vão se passando de geração em geração, os campo-larguenses se comovem há mais de um século com a história de Pedrinho e Mariazinha Binek, duas crianças de idades de 04 e 07 anos, que estão enterrados no Cemitério Municipal de Campo Largo. São muitas visitas recebidas, e até mesmo milagres creditados às crianças, ainda que não sejam santos reconhecidos pela Igreja Católica. No túmulo - que é bem pequeno - anjinhos, flores, enfeites, terços, velas e chupetas com aparência de novas comprovam que fiéis estiveram por ali há pouco tempo.

Por ser um fato bastante antigo, torna-se bastante difícil encontrar informações comprovadas sobre o que realmente aconteceu, porém, Adriano Luz dos Santos, gestor público e pesquisador da área, que trabalha atualmente no Museu Histórico de Campo Largo, tem se dedicado a compreender mais sobre as histórias que jazem nos cemitérios campo-larguenses. 

Sobre essa em específico, Adriano encontrou apenas um recorte de uma publicação de um jornal bastante antigo, que trazia mais detalhes do bárbaro crime que arrasou a comunidade da época. “Maria foi achada mais próxima de casa, jogada sobre um capão; lugar onde fora estuprada e assassinada. (...) Tinha a cabeça aberta em sete partes (...). O menino André estava morto, atirado no meio da estrada, a uns 100 metros distante de sua irmã (...) tinha as mãos de decepadas, os dedos espalhados pelo chão, o que demostrava ele ter tentado evitar com as mãos os golpes sobre a cabeça. Esta, achava-se retalhada em quatro pedaços”, descreve.

Adriano explica que as autoridades policiais da época recolheram os corpos das crianças e levaram até onde era a cadeia do município, onde seus pais também estiveram presentes, que se chamavam José e Magdalena Binek. “Começaram a chegar muitas pessoas no local, comovidas com a situação. A história relata que vieram cerca de mil, e entre eles estava um indivíduo que portava um facão e chamou atenção dos pais das crianças, que estava se mostrando revoltado pelo crime. A mãe desconfiou que ele fosse o autor do crime e pediu para que a polícia investigasse o facão que ele tinha na cinta. Apesar de ela estar lavada, ainda tinham marcas de sangue nela”, diz.

A pesquisa mostra então que Dionísio Antônio da Silva confessou o bárbaro crime aos 18 anos. Segundo depoimento prestado na época, às 17h, ele se encontrou com as crianças, as cumprimentou, mas foi mal respondido por elas. “Indignado com o procedimento dos menores, saiu perseguindo-os”, conforme relata na matéria publicada em jornal da época. Ele foi condenado por júri popular a 30 anos de prisão e faleceu na cadeia pública, vítima de uma tuberculose pulmonar.

Segundo a história levantada por Adriano, há inconsistências percebidas por ele. Na matéria o nome do menino está como André, enquanto no cemitério se registra como “Pedrinho”. Acredita-se que poderia ser um nome composto ou um apelido dado a ele. Há também uma inconsistência na data, pois o crime aconteceu em 15 de abril de 1903, enquanto no cemitério data apenas como 1904.
“Eles eram filhos de agricultores e tinham mais dois irmãos, Sophia, que faleceu aos 79 anos e teve oito filhos, e também de Henrique. A família morava no Rio Verde, uma colônia de agricultores, local com muito espaço para plantar, muitos rios, tanques e, na época, bastante mata também”, completa Adriano.

A história da cidade no cemitério
“Eu entendo as pessoas que têm a visão de que o cemitério é um local de tristeza e dor, porque ali estão seus familiares, que elas sentem muita falta. Porém, também é um local onde encontramos os túmulos de pessoas que fizeram a história da nossa comunidade das mais variadas maneiras possíveis, desde empresários, políticos, professores e tantos outros profissionais, bem como também há histórias tristes, crimes hediondos como é a situação destas crianças. É muito importante preservar a memória dessas pessoas e as suas histórias também, para que jamais sejam esquecidas”, finaliza Adriano.