Caracterizado principalmente pela alteração das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo, o Transtorno do Espectro Autista pode interferir na capacidade de comunicação
Caracterizado principalmente pela alteração das funções do neurodesenvolvimento do indivíduo, o Transtorno do Espectro Autista pode interferir na capacidade de comunicação, linguagem, interação social e comportamento. Visando sempre o desenvolvimento de estímulos voltados à independência e a qualidade de vida de pessoas autistas, o diagnóstico precoce, tratamento adequado, a inclusão e a conscientização da população sobre o TEA são essenciais para um futuro melhor para estas pessoas e toda a sociedade.
A Folha de Campo Largo conversou com a psicóloga Letícia Gonçalves (CRP 08/2412), psicóloga infantil com formação em Neuropsicologia pela Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), que ressaltou a necessidade da compreensão acerca do autismo. “As pessoas precisam entender que o TEA se trata de um transtorno neurobiológico proveniente da combinação de fatores genéticos ou ambientais. Com isso podemos dizer que o indivíduo nasce com esse transtorno e ao longo da vida, diante das demandas e do contexto que está inserido, as características do transtorno ficarão evidentes. Ou seja, quando observarem que algo os chama a atenção busque por ajuda de profissional especializado. Não devemos acreditar que cada criança tem seu tempo, hoje sabemos que ao menor sinal de atraso devemos intervir.”
Embora defenda que não existe um momento ideal para se buscar o diagnóstico, visto que há possibilidade de diagnóstico em outras fases da vida, reforça que diante de qualquer sinal de atraso ou de dificuldade apresentado pela criança, deve-se buscar ajuda. “No caso das pessoas com TEA, alguns sinais são sugestivos, como dificuldades na interação social, tanto crianças, adolescentes quanto adultos, apresentam preferência por permanecer isolados, evitando interações sociais. Apresentam interesses restritos e específicos. A avaliação diagnóstica não é simples e fácil, depende muitas vezes, principalmente no caso das crianças de avaliação multidisciplinar. Muitas vezes, lidar com a espera por um diagnóstico não é fácil, entretanto as famílias devem compreender que para um diagnóstico fidedigno se faz necessário a avaliação minuciosa com equipe bem estruturada. Além disso, as famílias devem ter suas dúvidas e angústias acolhidas pelos profissionais que estão realizando esse acompanhamento com a criança”, orienta.
Tratamento adequado e inclusão
Letícia salienta que algumas atividades simples, também são bastante significativas e devem ter o apoio da família em que a criança está inserida. Ela fala sobre atividades que envolvam a interação social, incluindo desde uma ida ao parquinho durante a semana, até frequentar creches, escolas e locais de contraturno com atividades extras. “Essa convivência e estimulação com os pares é fundamental para o desenvolvimento infantil, por meio dessas interações a criança vai brincar, observar, conversar, dividir, explorar novos contextos, novas experiências etc”, diz.
Orienta também que em todos os ambientes a medida é adotar práticas que visem a inclusão. “Especificamente sobre a família e a escola, ambos devem ter clareza de quais são as maiores dificuldades que a criança apresenta, que podem ser sensoriais como baixa tolerância a barulhos, educacionais como dificuldades na aprendizagem, comportamentais como comportamentos repetitivos. Porém a escola deve principalmente estimular a interação social com os demais colegas, incentivando os colegas da turma a convidarem o amigo para participar das brincadeiras”, afirma.
Já sobre os tratamentos específicos, conduzidos por profissionais, além da Análise do Comportamento Aplicada (ABA), com os avanços das pesquisas, outras teorias também têm se mostrado muito eficaz para o tratamento, como a Terapia Cognitivo Comportamental, Teoria DIR/ Floortime, Denver, entre outros, elenca. Além disso, a pessoa autista pode contar com mais profissionais, que fazem parte de uma equipe multidisciplinar e capacitada para o tratamento.
Dosando a tecnologia
A tecnologia tem seus benefícios e malefícios, está presente na vida de todos. A psicóloga explica que muitas pessoas autistas preferem a interação por meio das tecnologias, como por exemplo, jogos online e digitais à presencial. “Para o autista é muito mais fácil interagir sem ver a pessoa, pois apresentam dificuldade no que chamamos de Teoria da Mente, ou em compreender sinais não verbais evidenciados pelo outro. Em uma conversa estamos atentos ao que a pessoa fala e ao que ela não fala. Os autistas apresentam falha nessa compreensão, e a interação por meio da tecnologia não exige essa leitura do outro ou do social. Além disso, os pais devem ficar atentos aos jogos e sites que as crianças costumam acessar. O perigo existe para todos. Em alguns casos a criança autista apresenta imaturidade e pode se colocar em perigo, pois não sabe avaliar se um comportamento ou uma ação do outro é perigosa ou não”, finaliza.