Em Campo Largo, as aulas acontecem na Escola Municipal Reino da Loucinha, no Centro.
Atividades como pegar um ônibus, ir ao banco, fazer compras ou tirar a carteira de motorista são muito difíceis de serem realizadas para quem não sabe ler e escrever.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 12 milhões de brasileiros são analfabetos, sendo a maioria com idade acima de 15 anos.
Em Campo Largo, pessoas que na infância não tiveram a oportunidade de estudar podem entrar para a turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A Secretaria de Educação oferta duas turmas na Escola Municipal Reino da Loucinha, com aulas de segunda a quinta, das 18 às 21 horas.
Na primeira etapa, atualmente, são 29 alunos e na segunda etapa, 17 estudantes. A professora Ilca Regina Ferreira trabalha há 13 anos com educação de adultos e explica que a EJA é mais que educação, é um projeto social.
“Eles não vêm para as aulas apenas para aprender a ler e a escrever, mas também pela socialização. Os estudantes gostam das atividades, das dinâmicas. A interação entre eles é muito interessante, eles são realmente amigos. Quando percebem que o outro tem uma dificuldade maior eles se ajudam. Eu não só transmito conhecimento, eu aprendo muito.”, conta a professora.
A EJA foi criada como modalidade do Ensino Fundamental e Médio e se tornou Lei em 1996. Ela é destinada às pessoas que não concluíram a formação escolar. É uma nova oportunidade de estudar, de se aperfeiçoar, de ter um dia-a-dia mais fácil ou de alçar voos mais altos.
Voar mais alto
Alçar voos mais altos é o que busca o seu Odair Francisco Iavolski, de 48 anos, estudante de uma das turmas de EJA, ele lidera uma equipe no trabalho e diz que a alfabetização está ajudando a melhorar o seu desempenho profissional.
“Eu preciso comandar reuniões no trabalho e no começo eu ficava ansioso e até com vergonha. Com tudo o que eu aprendi nas aulas, já tenho mais confiança e estou me soltando mais. Hoje me sinto pronto para falar até para mais pessoas”, conta ele.
Força de vontade é uma característica muito comum dos estudantes da EJA. Conciliar os estudos após um dia inteiro de trabalho ou de cuidados com a casa e com a família não é uma tarefa fácil. Seu Odair mora no bairro Botiatuva e vai de bicicleta para assistir às aulas.
“Levo de 40 a 50 minutos para chegar na escola. Saio da empresa às 17 horas, vou pra casa, tomo um café e venho. É corrido mas eu gosto”, explica ele.
De acordo com a Secretaria de Educação de Campo Largo, para que turmas de EJA sejam abertas em outros bairros é necessário no mínimo 10 alunos de 15 a 65 anos, com a possibilidade de matrícula para maiores de 65 anos. Durante o período mais crítico da pandemia, houve muita desistência nas turmas de EJA e uma baixa procura de novos estudantes, levando ao fechamento de turmas.
Regina de Fatima Kalik, de 54 anos, moradora do Itaboa, conta que realmente é preciso muita força de vontade para continuar os estudos depois de adulto.
“Meus filhos disseram: ‘pra que que a mãe vai querer estudar agora?’. Eu fiquei desanimada, deu vontade de desistir mas eu não vou, vou até o fim. É bom estar aqui e poder conversar com a professora e com as outras pessoas”, conta.
Desafios
Durante a pandemia, os estudantes buscavam individualmente as atividades na escola e depois levavam para correção. O contato entre eles e com a professora, tirando dúvidas no grupo de whatsApp, foi fundamental para a permanência de muitos nas turmas.
Para garantir o aprendizado de adultos, as professoras precisam ter criatividade. A pedagoga e coordenadora do Ensino de Jovens e Adultos de Campo Largo explica que notícias e situações do cotidiano são muito utilizadas em sala de aula.
“Diferente (sic) das crianças do Ensino Infantil e do Fundamental, precisamos trazer assuntos que estão em evidência para o planejamento pedagógico”, conta. Atividades externas como ida ao Parque Newton Puppi e ao cinema - muitos pela primeira vez - também fazem parte do programa de ensino.
As inscrições para o EJA estão abertas o ano inteiro e podem ser feitas na Secretaria de Educação ou na Escola Municipal Reino da Loucinha. As matrículas são gratuitas. Dúvidas podem ser esclarecidas na escola das 17:30 às 21:00 ou pelos telefones (41) 3292-3974/ 3555-3749.