Não é de hoje que saber de casos que envolvem mortes causam impacto na sociedade, tanto que dentro do Jornalismo vários teóricos trabalham este critério de noticiabilidade, que é capaz de unir toda a sociedade e despertar diversos sentimentos, que vão da sensibilização, medo até a revolta.
A psicóloga e terapeuta do luto, Mirella Carletto Silva, explica que desde os primórdios da civilização, a morte é considerada um aspecto que traz fascinação e, ao mesmo tempo, amedronta as pessoas. “Falar sobre morte, ao mesmo tempo que ajuda a elaborar a ideia da finitude humana, provoca um certo desconforto, pois damos de cara com essa mesma finitude, o inevitável, a certeza de que um dia a vida chega ao fim.”
Ela segue dizendo que a certeza humana da morte desperta uma série de mecanismos psicológicos. “São esses mecanismos que despertam curiosidade. Em outras palavras, o foco de interesse seria como o homem lida com a morte; seus medos, suas angústias, suas defesas, suas atitudes diante da morte. A pandemia, por exemplo, trouxe muitas reflexões sobre a finitude da vida, de o quanto o contato com as pessoas é importante, e o quanto os rituais de despedida são importantes diante da morte”, ressalta.
Por isso, pensar sobre o assunto pode ajudar a enfrentar um processo de luto no futuro. “Sempre indicamos que no processo de elaboração do luto, será importante acolher as emoções e as observar, fortalecer o contato com as pessoas significativas, procurando construir uma rede de apoio, estabelecer novas rotinas, no seu tempo, cuidar da saúde física, mental e espiritual e caso o sofrimento seja muito intenso, procurar auxílio médico e psicológico. Abordar o assunto sobre a morte deve ser algo feito de forma natural, não precisa ser um tabu, deve ser visto como um processo no qual todos nós um dia iremos vivenciar”, reforça.
Questionada sobre como as crianças pequenas enxergam a situação da perda de um ente querido, Mirella explica que elas podem viver experiências de morte, mas ainda não sabe que da morte ninguém volta, e que essa acontece com pessoas queridas, como pais, avós, amiguinhos, animais de estimação. “Por isso são importantes esclarecimentos e a acolhida dos sentimentos. As crianças percebem quando ocorreu uma morte e não falar sobre ela pode provocar medo, insegurança. Usar metáforas, como por exemplo, falar que o ente querido virou estrelinha, para explicar a morte deve ser evitado, pois pode causar dificuldades na compreensão”, orienta.
Sobre o Dia de Finados, que acontece no próximo dia 02 de novembro, ela comenta que este pode ser um momento de reflexão, no qual cada indivíduo deve vivenciar de forma na qual sinta-se bem.
Não há tempo para superar uma perda
“Não existe superação do luto, pois ele é um processo que necessita ser vivenciado e reelaborado. O luto acontece com todos, o que varia é a intensidade com que os sentimentos são vivenciados. Quando o luto se torna mais difícil que o habitual ele é chamado de ‘luto complicado’, que é quando o luto se torna mais difícil que o habitual. O luto complicado, em geral, pode ser desencadeado por elementos complicadores do processo como uma morte abrupta, violenta, ou em casos de acidentes, suicídio, tragédias e mortes que invertam a ordem natural da vida, como a perda de filhos”, explica.
Quanto à vida espiritual, bastante trabalhada em ocasiões de morte, Mirella explica que as situações que antecedem e envolvem os processos de morte e o morrer estão entre aquelas em que a espiritualidade e a necessidade de conforto espiritual são visíveis. “A crença religiosa traz contida em sua simbologia a sensação de acolhimento e proteção diante da morte”, finaliza.