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Sentimentos conflitantes diante da maternidade são normais, diz psicóloga

Campanha Maio Furta-cor quer sensibilizar a sociedade em relação à saúde mental materna

Sentimentos conflitantes diante da  maternidade são normais, diz psicóloga

Mães com grande desgaste emocional e físico tem se tornado uma queixa comum não só em consultórios, mas na sociedade como um todo. Não à toa a campanha Maio Furta-cor, com a temática Saúde Mental Materna Importa, tem ganhado notoriedade e teve apoio de divulgação também em Campo Largo.

Em uma das ações de apoio, a Folha realizou uma live com a psicóloga Juliane Gequelin na última sexta-feira (06), ao vivo no Facebook, aberta a perguntas, e que agora também está disponível no canal do jornal no Youtube. Entre os assuntos discutidos, nesta semana vamos detalhar o caso de ambivalência materna, que são os sentimentos conflitantes que as mulheres sentem e se culpam muito. Como exemplo, sentem aquele amor incondicional pelo filho, mas há momentos que não queriam estar ali naquelas funções maternas, que está se sentindo exausta, que gostaria de passar uns momentos sozinhas. E sentimentos que, segundo a psicóloga, são normais e totalmente justificáveis, como também acontece em outras relações e nem por isso existe menor amor ali.

Juliane detalha que tornar-se mãe é um processo. “Com frequência o puerpério é associado ao período de 40 a 60 dias após o parto, ou seja, geralmente o tempo que o corpo precisa para se restabelecer. No entanto esta palavra é muito mais ampla e engloba as mudanças e transformações biopsicossociais que uma mulher passa para se tornar mãe. O puerpério é único em cada mulher e pode durar anos. Existem estudos de neuroimagem que apontam que o cérebro da mulher passa por alterações significativas em algumas áreas específicas, que podem durar até dois anos após o nascimento do bebê. O cérebro se especializa e continua se especializando após o parto para exercer o cuidado.”

Com tantas mudanças com a chegada de um bebê, essas transformações não são apenas no corpo da mulher, mas na forma como ela se sente e se posiciona no mundo. “Ocorre perda da liberdade, pois se antes as escolhas eram permeadas somente por si, após a maternidade entram em jogo outros fatores. A identidade muda e a mulher se questiona sobre quem era, quem é e em quem está se transformando. Passa a assumir novos papéis além daqueles que já exercia como filha, namorada, esposa, trabalhadora, entre tantos outros. Vivencia uma série de sentimentos, muitos deles contraditórios passando da alegria para tristeza ou irritação”, explica a psicóloga.

Diante disso, surgem diversos cenários para essa ambivalência que as mulheres tanto se questionam e se culpam. Ela exemplifica que em um momento não aguenta ficar longe do bebê, mas há momentos que quer um descanso e se questiona sobre o que foi inventar com um filho. Olha para o bebê e ao mesmo tempo que o percebe como um ser tão íntimo, o acha tão estranho. “Nos primeiros dias o bebê é um estranho para a mãe e a mãe é uma estranha para o bebê, então é necessário desejo e investimento para essa dupla ficar mais íntima e a relação se constituir. Muitas mães sofrem e sentem culpa, por viverem essa contradição de sentimentos e por acreditarem que assim que nasce o bebê já irão amá-lo. Isso nem sempre acontece, pois como disse é no dia a dia que vão desenvolver esta relação. A ambivalência de sentimentos faz parte do amor e das relações humanas”, completa.

Segundo ela, a cultura na qual estamos inseridos nos impõe que a maternidade é um tempo de plenitude e bênçãos. Isso vai ao encontro das idealizações e das expectativas em torno da maternidade, que se não forem questionadas podem gerar sofrimento, visto que não há garantias de como será esse processo. “Portanto, maternidade tem o lado pleno, mas também tem o lado trágico e é necessário ter esta consciência para conseguir compreender e acolher os diversos sentimentos deste momento.” Ela orienta a olhar para a maternidade de modo real, sem tantas idealizações.