Médico pediatra explica como acontece a doença e também sobre os mitos que a rodeia
A anemia é sempre uma preocupação entre os pais ou responsáveis por crianças pequenas, principalmente quando há recusa alimentar. Embora de 2006, dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) apontaram que mais de 20% das crianças brasileiras menores de cinco anos sofriam com essa condição. O número subia para quase 25% quando eram bebês de até dois anos.
O médico pediatra Haroldo Torres Alves explica que anemia é uma doença que provoca a diminuição da hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio no sangue para as células e tecidos do corpo. “Pode ter várias causas, como doenças genéticas familiares, que provocam com má formação ou destruição das células sanguíneas, que chamamos de hemácias, em doenças autoimunes, bem como em deficiência de ferro, zinco, vitamina B12 e proteínas. Mas de modo mais comum, cerca de 90% das anemias acontecem por deficiência de ferro, devido à má alimentação, quando se deixa de comer especialmente carnes vermelhas, ovo, feijão, entre vários outros alimentos ricos em ferro.”
Segundo o médico, essa deficiência de oxigenação nos tecidos e órgãos do corpo, pode gerar sintomas como fraqueza, indisposição, sonolência excessiva, perda de apetite, falta de ganho e até perda de peso, baixo crescimento das crianças, mau rendimento escolar. O diagnóstico é simples, com um exame de hemograma já é possível detectar se a criança está anêmica ou não. Por meio do hemograma, é possível analisar os níveis de hemoglobina, a dosagem de ferro, ferritina – proteína responsável por carregar o ferro no sangue – e índices de proteínas e vitaminas.
“A partir da idade de 06 meses de idade, quando os alimentos diferentes do leite materno ou fórmula começam a serem introduzidos, a adaptação para aceitação desses alimentos e especificamente a rejeição da criança aos alimentos enriquecidos com ferro levam à anemia, diagnosticada com baixo ganho de peso entre 07 a 08 meses de idade. Com 01 ano, a criança está mais determinada com escolha de alimentos e recusa de outros, episódios que vão piorando até os 02 e 03 anos, quando acontecem as recusas e birras e troca de alimentos dos pais, a anemia vai se instalando e os sintomas aparecendo”, esclarece o médico.
O tratamento dessa doença é feito por meio da reposição de ferro, por meio de vitaminas em um período de três meses, além da correção da dieta da criança, cujos pais ou responsáveis devem adotar um cardápio mais variado, com produtos naturais. Se não tratadas, a anemia do tipo mais comum pode evoluir para baixo ganho de peso e altura, desnutrição, baixa imunidade e consequente infecções de repetição, baixo rendimento escolar, déficit intelectual, “algumas sequelas que podem ser transitórias e ser recuperadas, outras com comprometimento permanente devido à deficiência nutricional”, explica.
“A família necessita estar com alimentação saudável e em concordância a respeito do que deve ser oferecido à criança sob orientação pediátrica e nutricional adequada. Correções dos erros alimentares devem ser feitas sob orientações adequadas para que não se desenvolva a anemia e nem outras doenças associadas e suas consequências”, completa o médico.
Anemia x Leucemia
Algumas pessoas acreditam que uma “anemia não tratada vira leucemia”, mas isso não é verdade. “Anemia não vira leucemia, como tantos temem. O contrário acontece, sim. A leucemia gera uma baixa na produção de células sanguíneas e dão anemia. A ligação entre essas doenças é assim: pacientes com leucemia também têm anemia; pacientes com anemia não estão propensos a leucemia por causa da própria anemia, mas podem estar por outras causas diversas”, diz.
Somente crianças magrinhas são anêmicas
Não! As crianças gordinhas também podem apresentar deficiência de nutrientes. “Crianças gordinhas são um sinal de erro alimentar, muitas vezes com ingestão excessiva de guloseimas, alimentos gordurosos, pães, massas, leite e derivados, e naturalmente uma má aceitação dos alimentos saudáveis ingeridos nas refeições principais, almoço e jantar, que não devem ser substituídas. A criança é mais ‘gordinha’ até os 02 anos de idade, mas a partir dessa idade o ritmo de crescimento é mais acelerado que o ganho de peso, ainda mais com o gasto de energia com as atividades da criança. O acompanhamento em consultas pediátricas rotineiras vai demonstrar se o ganho de peso e altura está equilibrado e se há necessidade de uma investigação de doenças e tratamento”, explica.
Cozinhar em panela de ferro
“O uso da panela de ferro para cozinhar realmente libera ferro nos alimentos, não é mito. Isso ajuda a prevenir a anemia, mas a prevenção efetiva é comer os alimentos ricos em ferro em uma dieta equilibrada iniciada a partir dos 6 meses de idade e com hábito alimentar saudável e toda a família e o acompanhamento periódico em consultas pediátricas”, finaliza.