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Opinião

Tarde tenebrosa e o desastre apocalíptico

Tarde tenebrosa e o desastre apocalíptico

24/10/2014

Os termômetros marcavam 34º C e o céu começou a escurecer rapidamente. O prenúncio de uma tempestade típica da época escondia algo muito mais forte, uma chuva de granizo de proporções nunca registrada na região.

Os relógios marcavam 16h45min quando começou a chover. Parecia mais uma chuva forte, mas logo começou a cair também algumas pedras de gelo, pequenas no começo, mas com o decorrer do tempo o diâmetro e a quantidade aumentaram muito. Os telhados começaram a ser perfurados, depois os forros, caía granizo no chão, nos quartos, na sala, na cozinha.

As crianças, que no início se divertiam com a chuva de granizo, começaram a ficar apreensivas, a chorar e a gritar. Os ventos fortes chegavam a mais de 60Km/h, com rajadas assustadoras.  O volume de chuva também era excepcional. A luz acabou. Em pleno dia, ficamos no escuro. Os pequenos perguntavam se o mundo estava acabando. Se proteger? Aonde? Havia o temor do telhado inteiro desabar, com o peso do gelo, sobre nossas cabeças. Era preciso encontrar um lugar seguro para proteger as crianças. Junto à parede da sala, agachados atrás do sofá, era o local aparentemente mais seguro. Mas ali também caíam algumas pedras de gelo.

Para nosso alívio, a chuva de granizo parou e, em seguida, também a tempestade deu lugar a uma estiagem que nos deixou mais aliviados. Dentro de casa, o caos, a água cobria os pés, colchões e móveis ensopados. No lado de fora centenas de automóveis danificados, vidros quebrados, alarmes disparando.  As sirenes das viaturas do Corpo de Bombeiros zuniam em todas as direções, e logo as redes sociais começaram a reproduzir boatos que falavam de mortes. Nenhuma das informações se confirmou, felizmente.

Por todos os lugares, as cenas se repetiam, as casas sem telhado, como se tivessem sido metralhados. Saímos para ver o tamanho dos estragos. Pareciamos zumbis perambulando por uma cidade arrasada, ainda sem entender de fato o que havia acontecido. A tempestade não poupou ninguém. Todos foram atingidos, direta ou indiretamente. Desalojados, tivemos que procurar abrigo em casas de parentes, amigos, longe da zona de impacto, o centro da cidade e bairros próximos. Dormir? Como? A noite de sexta-feira foi uma noite de vigília. Na manhã de sábado, o caos nas lojas de materiais de construção. Todos queriam lonas, telhas, produtos que desapareceram em questão de minutos. Era hora de reparar os danos, de tentar recomeçar a vida depois de um evento que deixou a todos muito assustados.