23/05/2012 Fonte: R7 Notícias
Personagem principal da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Cachoeira, o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, disse "não" 48 vezes para os deputados e senadores ontem, terça-feira (22), ao se recusar a responder às questões da CPI. Com um ar irônico, que às vezes beirou o deboche, Cachoeira repetiu que só vai falar depois de sua audiência, marcada para os dias 31 de maio e 1.º de junho, na 11.ª Vara de Justiça Federal, em Goiânia.
A falta de colaboração teve um efeito colateral indesejado pela base aliada: colocou a Construtora Delta no alvo da CPI, que, diante da paralisia provocada por Cachoeira, deve avançar na quebra de sigilo da empreiteira em todo o País, e não apenas na Região Centro-Oeste.
— Não vou falar. Pedimos para reavaliar nossa vinda aqui. Quem forçou para eu vir aqui foram os senhores.
Foi o que Cachoeira disse ao fim das cinco perguntas feitas pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG). Depois desse momento, ele adotou uma postura entre impaciente e entediado.
O depoimento de Cachoeira seria o primeiro grande momento da CPI. Mas nem mesmo diante do anticlímax fugiu ao script de embate entre governo e oposição. De um lado, os aliados do Planalto e o PT que, a todo custo, tentaram com suas perguntas envolver o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, no esquema ilegal de Cachoeira. De outro, os tucanos que fizeram perguntas direcionadas ao governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, que teve assessores flagrados em negociações com Cachoeira.
Quarenta perguntas depois e passada uma hora e meia, a CPI capitulou e decidiu acatar a sugestão da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) para que a sessão fosse encerrada.
— Estamos aqui perguntando a uma múmia. Não vou ficar aqui dando ouro para bandido.
O relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG) concordou ao dizer que iriam "ficar infindáveis horas sem respostas".
O deputado Rubens Bueno (PPS-PR), reproduziu a pergunta que recebeu via Twitter: "que bicho vai dar hoje?".
Quebras
Provocado pela oposição, o relator Odair Cunha contrariou a estratégia de blindagem da base governista e defendeu a quebra do sigilo bancário da Delta Construções em âmbito nacional, além de seu principal acionista, Fernando Cavendish. O argumento é que a Operação Saint Michel - deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal, como continuidade à Monte Carlo - trouxe indícios do envolvimento da cúpula da empreiteira com o esquema de Cachoeira.
Segundo integrantes da CPI, documentos obtidos na Saint Michel mostram que os ex-diretores da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, e no Sudeste, Heraldo Puccini, tinham procuração para movimentar dinheiro em contas nacionais da construtora, e não apenas em suas regiões de atuação, o que implica a autorização prévia da cúpula da empresa, no Rio.