02/05/2012
Mesmo com equipe para discursos, Dilma recorre ao improviso
02/05/2012 Fonte: R7 Notícias
As mudanças ocorreram a olhos vistos: de quando era ministra da Casa Civil no governo Lula até seu segundo ano como presidente da República, os discursos de Dilma Rousseff ganharam mais fôlego e segurança. Além dos esforços da própria Dilma, a melhora ocorreu graças à equipe que a ampara na elaboração dos textos que a presidente lê em público.
Como ministra, Dilma era conhecida por listar dados técnicos de uma forma direta, porém, não muito articulada. Séria e nitidamente nervosa ao se manifestar publicamente, seu perfil da época lhe rendeu uma gafe histórica em 2009.
Ao discursar para a delegação brasileira que participava da conferência sobre mudanças climáticas das Nações Unidas, a então chefe da Casa Civil escorregou ao acusar o meio ambiente de ser uma ameaça para si mesmo.
— O meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável e isso significa que é uma ameaça para o futuro do nosso planeta e do nosso País.
Quando seu nome surgiu como pré-candidata, a presidente passou a receber uma assessoria mais intensa comandada pelo marqueteiro João Santana. O jornalista Laurez Cerqueira compôs a equipe e foi escolhido para redigir os discursos de Dilma na época. Ao R7, ele contou que seus textos sempre passavam pelo crivo apurado da então candidata.
— O padrão de exigência dela é alto. Com ela não tem mais ou menos. Mas, ao contrário do que dizem, ela é muito bem-humorada quando fora do ambiente de trabalho.
Equipes de apuração e redação
Já como presidente, Dilma Rousseff diminuiu o ar sisudo, mas não o padrão de exigência. A exemplo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a brasileira tem o respaldo de uma equipe inteira designada apenas para redigir seus discursos.
No entanto, enquanto o governo dos EUA divulgou até um vídeo institucional mostrando a rotina de criação dos textos, com entrevistas dos autores e imagens de Obama dando palpites, a Presidência do Brasil nem sequer permite que os nomes dos integrantes da equipe sejam divulgados.
A demanda chega ao grupo pelo chefe de gabinete e braço direito da presidente, Giles Azevedo. O primeiro passo é coletar as informações e os dados referentes ao assunto. Nessa etapa, entra em ação uma espécie de gabinete de informações hiperqualificadas. Seus integrantes são divididos por temas como economia, saúde e educação.
Eles têm que saber tudo sobre todos os programas do governo, participam de reuniões de coordenação política e auxiliam até nas decisões da presidente. E quando precisa de dados específicos, o grupo os solicita ao ministério referente ao assunto.
Após coletadas e revisadas, as informações seguem para a equipe de jornalistas e redatores chefiada por Giles Azevedo. Esse grupo é responsável por organizar as ideias de acordo com o modo de falar da presidente e facilitar sua leitura. No caso de viagens internacionais, a elaboração dos discursos é coordenada pelo assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Após ser revisado por Giles, o texto é finalmente lido por Dilma, que faz as devidas mudanças. As alterações são feitas até o último momento. Com frequência ela inclui trechos segundos antes de falar, dependendo do que os oradores que a antecederam no evento disseram.
Improviso no estilo
Pessoas ligadas à presidente comentam que, à medida que ela foi adquirindo mais segurança para falar em público, cada vez mais seus discursos são feitos de improviso. Muitas vezes ela chega a pedir somente os dados principais redigidos em tópicos para incluir em sua fala enquanto diz o que lhe vem à cabeça.
Assim surgiram alguns de seus discursos que, mesmo com alguns deslizes, têm se tornado históricos, como o proferido na abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em setembro de 2011, em que, com firmeza e em frente aos principais chefes de Estado do mundo, Dilma criticou a política monetária dos países desenvolvidos.
— Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise. É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e algumas vezes, de clareza de ideias.
Seu modo instintivo de discursar não chega a se aproximar da fala espontânea de Lula, mas a experiência tem dado a Dilma segurança suficiente para falar e ser respeitada pelo que diz.
Não por acaso, foi apontada pela revista americana Forbes como a terceira mulher mais poderosa do mundo e integra a lista das cem personalidades mais influentes do planeta, segundo ranking da revista Time, também dos EUA.
No Brasil, a desenvoltura para falar permitiu a Dilma construir, pouco a pouco, uma maior empatia com a população. A boa imagem atribuída hoje a ela se traduz em números.
Pesquisa Datafolha divulgada em abril indicou que seu governo era bem avaliado por 64% dos brasileiros. O resultado é recorde e supera as marcas registradas por Lula e Fernando Henrique Cardoso no início de seus primeiros mandatos.