07/04/2012
Partidos em formação tentam resgatar discurso liberal na política brasileira
07/04/2012 Fonte: Gazeta do povo
Três legendas em processo de legalização estão de olho em um espaço praticamente vago no debate político brasileiro: o da direita liberal. Com a derrocada do Democratas, o Partido Federalista, o Liber e o Novo tentam se inserir como defensores do Estado mínimo, da livre iniciativa e do direito à propriedade. Eles se colocam como uma oposição verdadeiramente ideológica aos modelos de gestão adotados por PT e PSDB, siglas enraizadas na esquerda socialista e social-democrata.
“Hoje é difícil denominar algo como sendo de direita ou esquerda. Diria que existem os partidos que defendem o estatismo, que são todos os que estão aí oficializados, e nós, que somos os não estatistas”, resume o presidente do Liber, Bernardo Santoro Machado. Advogado fluminense, ele diz que não tem qualquer identificação com as duas siglas em funcionamento que tem origem na direita – além do DEM, o Partido Progressista (PP).
Ambos são “descendentes” diretos da Aliança Renovadora Nacional (Arena), que dominou o país durante a ditadura militar. Até 2007, o DEM se chamava Partido da Frente Liberal (PFL) e trocou de nome, em parte, para amenizar o rótulo direitista. Já o PP é parceiro dos petistas e comanda o Ministério das Cidades desde o primeiro mandato do governo Lula.
Republicanos
Inspirado no movimento libertário norte-americano, que tem como um dos ícones o pré-candidato a presidente republicano Ron Paul, o Liber é o mais “radical” da nova direita. Em linhas gerais, o partido prega a dissociação total entre Estado e economia e o princípio da não agressão a indivíduos pacíficos. “Para nós o Estado precisa ter apenas alguma participação na segurança pública, ainda assim com a concorrência de empresas privadas e com a garantia de que o cidadão possa ter armas para se defender”, complementa Machado.
Um pouco mais distante do ultraliberalismo está o Novo, que tem como presidente o executivo do mercado financeiro João Dionísio Amoedo, de São Paulo. Segundo ele, a principal bandeira do partido é a criação de um aparato estatal mais eficiente. “Queremos uma contrapartida melhor entre os impostos que pagamos e os serviços que recebemos”, diz.
Em segundo lugar, o Novo defende uma maior participação comum do cidadão na vida política. Por último, idealiza a construção de um ambiente de empreendedorismo, em que os brasileiros sejam menos dependentes do Estado. “Nós não somos contra os programas sociais, como o Bolsa Família, mas acreditamos que eles precisam ser colocado em uma escala de tempo, com começo, meio e fim.”
Outra diferenciação diz respeito aos investimentos em educação pública. “Deveríamos focar no ensino básico, e não no superior. Achamos que isso garante igualdade de condições para o desenvolvimento da sociedade.”
Já o Federalista se apresenta como uma alternativa de centro-direita. “Hoje a maioria das pessoas se coloca como de esquerda e nem sabe o que isso quer dizer”, diz o presidente da legenda, Thomas Korontai, de Curitiba. O partido concentra as propostas na tese de que o Brasil precisa descentralizar sua administração.
“Propomos um choque sistêmico: as coisas só vão voltar a funcionar quando os estados tiverem mais autonomia, principalmente tributária”, complementa Korontai, que é empresário. Segundo ele, há um falso consenso de que o humanismo é uma propriedade da esquerda. “Como é que as pessoas vão conquistar dignidade se não possuem autodeterminação?”
Não há muito espaço para a direita no Brasil
Partidos defensores da direita liberal podem encontrar um nicho na política brasileira, mas ele não é muito grande. A avaliação é do pós-doutor em Ciência Política pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, da sigla em inglês), Antônio Octávio Cintra. Para ele, o Brasil tem um histórico muito grande de intervenção estatal que está arraigado na maioria absoluta dos eleitores.
“Há um novo público que se identifica com os princípios da competição, com o darwinismo social. A direita tem o seu público, mas ele não é muito grande”, diz Cintra. Segundo ele, há um equívoco ideológico entre setores liberais que, ao mesmo tempo que defendem menos impostos, beneficiam-se com políticas governamentais. “É o caso do empresariado beneficiado com as recentes medidas da política industrial.”
Cintra também ressalta que não é só a direita que enfrenta problemas de identidade. “O governo Lula, por exemplo, adotou medidas econômicas bem próximas à direita. Tanto que você tem partido de direita, como o PP, que está na base aliada até hoje.”
Grupos sofrem para conseguir assinaturas
Uma das maiores barreiras para a constituição formal do Partido Federalista, do Liber e do Novo é a burocracia. De acordo com a legislação brasileira, a criação de uma nova legenda depende da coleta de 492 mil assinaturas certificadas por cartórios eleitorais em pelo menos nove estados diferentes.
Por enquanto, o mais próximo do objetivo é o Novo, que conta com cerca de 170 mil assinaturas. Já o Federalista, na luta pelos papéis desde 1999, vai promover uma “campanha motivacional” entre os militantes. A ideia é entregar diplomas e garantir um espaço no “panteão federalista” para aqueles que conseguirem mais de 100 assinaturas. A legenda já conseguiu recolher cerca de 100 mil apoios, mas muitos foram perdidos por falta de estrutura.
As dificuldades contrastam com a rapidez na formalização do Partido Social Democrático (PSD), fundado no ano passado como uma dissidência do DEM. A sigla, cujo presidente é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, definiu como “não sendo de direita, nem de centro, nem de esquerda”, precisou de apenas sete meses para conseguir as assinaturas necessárias.
Já o Partido Pátria Livre (PPL), ligado à organização de esquerda Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), demorou dois anos para cumprir a exigência. A legenda é a 29.ª e por enquanto última a entrar em funcionamento no país, em outubro do ano passado. “Engraçado que a maioria dos partidos só é criado para ter acesso aos recursos do Fundo Partidário, que é uma das coisas que nós defendemos o fim”, afirma o presidente do Liber, Bernardo Santoro Machado.
Ideologia
O que pensam e como são os novos partidos
Liber
São os “ultraliberais”. Defendem a liberdade individual ligada ao princípio da não agressão, com a participação do Estado apenas na segurança pública. Nasceu em 2009 na rede social Orkut e tem cerca de 30 mil seguidores, na maioria jovens entre 18 e 30 anos.
Novo
Focado na melhoria da gestão pública. Defende que o Estado atue apenas nas áreas de segurança pública, saúde, educação e infraestrutura. Fundado em fevereiro do ano passado, o partido já tem 170 mil das 492 mil assinaturas necessárias para a formalização.
Federalista
De centro-direita, defende a descentralização administrativa do país e a criação de uma federação “de fato”, seguindo modelos de países como Estados Unidos e Alemanha. Foi fundado em 1999, tem patinado na coleta das assinaturas. O presidente, Thomas Korontai, é curitibano.