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Acordo

06/04/2012

Dívidas estaduais serão reajustadas pela Selic

Acordo

06/04/2012  Fonte: Gazeta do povo

Na tentativa de acabar com a guerra fiscal entre os estados para a atração de importações e estimular os investimentos, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, anunciou ontem que o governo federal chegou a um acordo, com o aval da equipe econômica, para aliviar o caixa de governadores e, em compensação, conseguir a aprovação, no Congresso, de mudanças nas regras de importações pelas unidades da federação.

A proposta do governo o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) pela taxa básica de juros, a Selic. A alteração é ligeiramente melhor, dependendo do estado. No ano de 2010, quando a Selic anualizada ficou 9,93%, o custo das dívidas estaduais foi de 17,98% (para quem paga IGP-DI mais 6%) a 21,32% (para quem paga IGP-DI mais 9%). Em 2011 essa mesma relação foi de 11,62% ante 11,31% a 14,46%. “Acredito que a alteração é melhor, mas precisaremos [governos estaduais] costurar com a Ideli um gatilho, uma margem da qual a aplicação da Selic não possa passar. Se não a troca volta a ser punitiva aos estados”, avalia o secretário estadual da Fazenda, Luiz Carlos Hauly.

Ideli contou que a proposta foi apresentada pelos líderes do Senado, que estiveram reunidos com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na última terça-feira. “Mantega pediu 48 horas para consultar a presidenta e hoje pela manhã tive a resposta positiva. Então, o encaminhamento a ser levado para votação no Senado é: aprovação da Resolução 72, aprovação da lei mudando o indexador (da dívida dos Estados), deixando de ser IGP-DI para ser a Selic”, disse, acrescentando ainda a necessidade de aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que mexe no comércio eletrônico.

A mudança pelo IPCA, como queriam os estados, no entanto, levaria a uma redução maior nas dívidas: de 38,5% – enquanto o IGP-DI aumentou 245,7% desde 1997 até março deste ano, o IPCA variou bem menos, 149,7%. Segundo uma simulação feita pela Secretaria de Estado da Fazenda em fevereiro último, trocando o IGP-DI pelo IPCA, o Paraná economizaria R$ 1 milhão apenas em juros mensais. Em relação à parcela total da dívida no mês – R$ 73,08 milhões – o valor cairia para R$ 71,5 milhões se corrigido pelo IPCA.

Histórico

Quando a lei de refinanciamento das dívidas estaduais (9.496/1997) foi aprovada a taxa Selic estava perto dos 30%, por isso não foi nem cogitada como alternativa. O IGP-DI estava pouco maior que 7% e o IPCA, nem existia. Entre pagar os juros altíssimos dos bancos e federalizar a dívida, a segunda opção foi muito mais atraente.

Banestado

No meio dos R$ 12 bilhões de dívidas do Paraná com a União, há uma parcela significativa que diz respeito ao rombo do caso Banestado. “Um dos principais motivos para a nossa luta na mudança da indexação é a conta do Banestado”, lembra Hauly. O valor emprestado pelo Banco Central entre 1998 e 2000 para o saneamento das antigas contas do banco do estado foi de R$ 5,7 bilhões. Até dezembro do ano passado, em parcelas que hoje estão em cerca de R$ 70 milhões, o Paraná pagou R$ 9,5 bilhões do débito. O curioso, no entanto, é que o saldo devedor da dívida está em R$ 8,9 bilhões. O rombo só seria sanado em 2028.

Guerra dos portos está com os dias contados

Também ontem, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse que o governo está apoiando a regulamentação da cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no comércio eletrônico como moeda de troca para conseguir a aprovação do Projeto de Resolução 72/2010 no Congresso. Hoje, o imposto é cobrado somente onde a empresa está sediada – na maior parte dos casos, em São Paulo –, e não no destino do produto.

O projeto, que tramita no Senado, acaba com a chamada “guerra dos portos”, ao impedir a adoção de alíquotas diferenciadas de ICMS pelos estados como forma de atrair a movimentação de cargas importadas. A base do projeto, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), era de zerar a alíquota nas operações interestaduais com importados, mas a proposta apoiada pela maioria dos estados e mesmo pelo setor industrial capitaneado pela Fe­­de­­ração das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), é de unificar a taxa em 4% – menos que isso a fiscalização das operações seria inviável.

Atualmente, os estados que mais perdem com a aprovação do 72/2010 são Santa Catarina e Espírito Santo. Enquanto na maioria das operações entre estados a alíquota varia de 7% a 12%, nas duas unidades da federação ela foi reduzida para 3% e 4% para atrair cargas aos terminais portuários. O receio de alguns estados com a uniformização da alíquota, no entanto, é que as importações voltem a ficar concentradas nos maiores portos do país, como Santos, em São Paulo, que ficam em estados que já são os mais ricos da União.

A ministra trata o acordo anunciado como um “complemento” ao pacote de medidas econômicas adotadas com pompa pelo governo nessa semana. “Atendemos a boa parte das reivindicações dos governadores, gerando maior equilíbrio de suas contas e maior justiça tributária”, afirmou a ministra.

Na prática, o impasse em torno do ICMS para os importados já podia ter sido resolvido pelos 27 secretários da Fazenda que fazem parte do Conselho Na­­cional de Política Fazendária (Confaz). Um simples acordo entre eles, publicados em uma resolução, daria conta da mudança. Mas sem consenso nas mesas das reuniões do Conselho, a solução deve vir do Congresso e, ao que tudo indica, costurada pelo governo de Dilma Rousseff.