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Política

Demóstenes Torres

06/04/2012

Caso Demóstenes pode ser fatal para o DEM, avaliam especialistas

Demóstenes Torres

06/04/2012  Fonte: R7 Notícias

As denúncias contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) podem ser a pá de cal que faltava para o enterro do DEM, partido que já foi protagonista no cenário político, especialmente quando se chamava PFL. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo R7 a respeito da crise que a legenda enfrenta.

Entre a migração para a oposição na esfera federal, os escândalos de corrupção que atingiram algumas de suas principais figuras e a criação do PSD, o partido perdeu seus principais quadros e atualmente tem uma representação reduzida no Congresso.
 

Para o cientista político Rogério Schmitt, esse processo foi amadurecendo na última década e as lideranças partidárias não souberam como controlá-lo:

— O partido vem em decadência há vários anos, perdendo representatividade a cada eleição. O mais grave dos fatos foi a formação do PSD, quando várias lideranças históricas saíram do DEM. E esse episódio do senador Demóstenes é mais uma ducha de água fria na legenda. O futuro do partido depende do que conseguir fazer na eleição. Mas o cenário não é animador.

Desde o ano 2000, o número de prefeitos que o partido consegue eleger vem caindo de forma considerável. Se naquele ano o partido levou ao poder 1028 candidatos, em 2004 foram 789 e em 2008 apenas 496.

No Congresso, o encolhimento do partido também salta aos olhos. A atual bancada no Senado tem cinco senadores, sendo um suplente. Em 2006, o partido era a maior bancada da Casa, com 18 representantes. Na Câmara, a situação não muda. Atualmente são 27 deputados. Antes da criação do PSD, eram 43.

Para o professor David Fleischer, cientista político da UnB (Universidade de Brasília), o partido está se tornando inexpressivo no cenário político, e somente uma fusão com outra legenda poderia salvá-lo:

— Eles precisam de uma fusão com o PSDB. Perderam deputados, prefeitos e vereadores. Com isso, vão eleger ainda menos prefeitos do que em 2008. E o partido vai entrar mais ainda em parafuso, pois, elegendo menos candidatos neste ano, está fadado a eleger menos deputados em 2014.

Derrocada

Schmitt entende que os problemas do partido começaram quando ele deixou de fazer parte da base aliada do governo federal, em 2003:

—Com a vitória de Lula, gradativamente essa força [no Nordeste] vai se minando. Ao ir para a oposição no plano federal, a máquina política do DEM vai se enfraquecendo, porque os municípios dependem financeiramente de recursos da União.

A derrocada ganhou força em 2009, com o "mensalão do DEM", episódio que resultou na cassação de José Roberto Arruda do governo do DF. Com a criação do PSD, que tirou quadros tradicionais do DEM, o partido se enfraqueceu ainda mais. A ponto de nomes históricos do antigo PFL não conseguirem se eleger, como o ex-vice-presidente Marco Maciel.



Para o professor Fleischer, a situação agora ganha ares trágicos após o episódio envolvendo o senador Demóstenes Torres:

— Uma vez que o assunto do Demóstenes e a desgraça do DEM chegaram aos telejornais, a situação fica muito complicada. Não vão faltar candidatos de outros partidos que na campanha municipal vão levantar esse caso. O partido será castigado duramente. A situação é realmente séria.

Para o futuro, a legenda aposta em novos nomes, como o do deputado ACM Neto, que disputará a prefeitura de Salvador. O resultado dessa disputa é fundamental para a sobrevivência do DEM. O resultado é crucial para a decisão sobre uma possível fusão com outra legenda, como PSDB ou PMDB.

Para Schmitt, o partido se encontra numa encruzilhada, na qual a defesa da sobrevivência política de suas principais lideranças será prioridade:

— Supondo que o partido perca muitas prefeituras, aí sim podemos esperar não a extinção, mas a fusão com uma legenda maior. E não me parece uma característica forte do DEM a defesa de valores específicos. O PFL/DEM sempre foi uma direita mais fisiológica do que ideológica. É um partido cuja força sempre veio da proximidade com o poder. É a marca do partido. Nesse sentido não seria contraditório se unir ao PMDB, hoje aliado do governo. É a velha máxima: se não pode vencê-los, junte-se a eles.