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Geral

Inflação

10/03/2012

Mensalidades escolares colocam pressão no IPCA

Inflação

10/03/2012  Fonte: Gazeta do povo

Os reajustes em educação, típicos do início do ano, puxaram a inflação de 0,45% medida em fevereiro pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O grupo saiu de uma alta de 0,39% em janeiro para uma expansão de 5,62% em fevereiro, a maior variação e o principal impacto de grupo. A contribuição ao IPCA foi de 0,25 ponto porcentual, ou seja, 54% da taxa do mês. Em Curitiba, os reajustes educacionais também pesaram (veja quadro), mas o índice fechou abaixo da média nacional, em 0,27%.

O resultado reflete principalmente os aumentos nas mensalidades dos cursos regulares, que subiram 6,93% e resultaram no item de maior impacto positivo no mês, com contribuição de 0,19 ponto porcentual. Nas mensalidades dos cursos diversos (idioma, informática etc.), a variação foi de 7,09%. Com isso, o resultado dos não alimentícios teve variação de 0,53% em fevereiro.

Já os grupos Alimentação/Bebidas e Transportes foram os principais responsáveis pela desaceleração do IPCA, que tinha sido de 0,56% em janeiro. Os preços dos alimentos e das bebidas, que subiram 0,86% em janeiro, passaram para 0,19% em fevereiro, enquanto o grupo Transportes chegou a registrar deflação, com queda de 0,33% nos preços no mês passado, após alta de 0,69% no mês anterior.

A queda das passagens aéreas e dos combustíveis em fevereiro ajudou na deflação do grupo Transportes. As passagens aéreas, que tinham subido 10,61% em janeiro, recuaram 8,84% em fevereiro. O item teve o maior impacto negativo sobre a inflação do mês, de -0,06 ponto porcentual. Já os combustíveis aprofundaram o recuo nos preços, passando de -0,45% em janeiro para -0,83% em fevereiro.

Os preços dos serviços se mantiveram pressionados. A variação saiu de 1,05% em janeiro para 1,25% em fevereiro. No ano, os serviços acumulam alta de 2,31% e, nos 12 meses encerrados em fevereiro, aumento de 9,35%. Estes números estão bem acima da variação de 5,84% no IPCA em 12 meses. “Esse aumento veio das mensalidades escolares, de educação, e dos empregados domésticos, que também pressionaram os preços”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. “Mas, em outros itens classificados como serviços, os preços caíram, como passagens aéreas”, ressaltou.

Acumulado em queda dá margem a novas quedas nos juros

Das agências

No embalo da crise global, a inflação no Brasil perde fôlego e já dá sinais de que tende a fechar o ano dentro do objetivo do governo (de 5,5%). Mas isso só ocorrerá se a política de redução mais intensa dos juros não aquecer a economia doméstica em demasia, dizem os especialistas.

Sérgio Vale, da MB Associados, diz que há o risco de a queda mais intensa dos juros (definida pelo Banco Central nesta semana) estimular o consumo e gerar mais inflação. Mas tal cenário é mais provável para 2013, diz ele. A trajetória de queda no IPCA acumulado em 12 meses, agora em 5,85%, aumenta a expectativa de analistas por um novo corte de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 17 e 18 de abril.

“O resultado do IPCA certamente dá um gás para cortar mais os juros, em pelo menos mais 0,75 ponto porcentual”, previu a economista Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria e diretora da Casa das Garças. “O quadro inflacionário ‘permite’ isso, porque a inflação em 12 meses está caindo. Mas [o IPCA] está acima da meta, não vai para 4,5% no ano”, acrescentou.

Como forma de impedir um aquecimento desnecessário da economia, o professor da FGV-SP Emerson Marçal sugere ao governo “segurar os gastos públicos e fazer cortes no Orçamento”.

 

Análise

Alimentos devem voltar a puxar índice para cima, diz economista

Agência Estado

A desaceleração do IPCA em fevereiro indica que a inflação oficial brasileira vai continuar benigna no primeiro trimestre de 2012 em relação a igual período do ano passado, disse a economista Camila Monteiro Alhadeff, do Bank of New York Mellon Arx Investimentos. “A inflação está sob controle e não vemos grandes pressões de preços nesses três primeiros meses do ano”, disse ela. Para março, o BNY Mellon estima leve aceleração do índice cheio para 0,47%.

Segundo Camila, a dúvida neste momento é quanto ao comportamento dos preços dos itens alimentícios, que, junto com Transportes, ajudaram no arrefecimento do IPCA em fevereiro. “Alimentação é sempre uma incógnita, mas as coletas têm mostrado aceleração dos preços na margem, embora as taxas ainda estejam contidas. A expectativa é de que a alta ganhe mais força no segundo trimestre”, avaliou.

A economista observou que o movimento dos preços de alguns produtos in natura reforça a expectativa de maior pressão dos alimentos. “Já estamos observando desaceleração expressiva de alguns itens, enquanto outros, como frutas, continuam em alta firme”, disse. No IPCA, o preço do tomate, por exemplo, saiu de alta de 8,09% para recuo de 16,96% no mês passado. Camila ressaltou que, apesar da queda em carnes (de -0,64% para -1,99% em fevereiro), a expectativa é de menor deflação nas próximas medições, o que tende a pressionar o IPCA deste mês.

Embora estime desaceleração menor na queda dos preços dos combustíveis ou até retomada de alta desses produtos, a economista acredita que isso não chega a ser uma “ameaça” à inflação em março. “A parte de combustíveis deve continuar deflacionária, apesar de no atacado os preços do etanol já estarem subindo”, disse.

Camila também não espera queda expressiva nos preços das passagens áreas, como visto no IPCA de fevereiro, quando houve recuo de 8%. “Os preços oscilam muito de um mês para outro, mas descarto a possibilidade de nova baixa muito forte. Estamos prevendo elevação de 6% para passagens aéreas no IPCA de março”, estimou.

A economista do BNY Mellon acredita que o setor de Serviços, que apresentou alta de 1,25% em fevereiro, deve seguir em ritmo elevado nos próximos meses, dificultando o cumprimento da meta de inflação, de 4,50%, estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “A alta registrada em fevereiro é sazonal, mas o acumulado de Serviços em 12 meses (9,35%) é muito alto. É um risco inflacionário em termos de meta”, afirmou.