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Geral

Ensino

26/10/2011

Ensino de ponta no Brasil, mas longe do topo do mundo.

Ensino

26/10/2011

Fonte: Gazeta do Povo

A exposição cada vez mais frequente de índices que medem o desempenho escolar destaca o que parece ter sido um consenso ao longo dos anos: a educação pública no Brasil não é das melhores. Em geral, qualquer que seja o instrumento de avaliação adotado, escolas particulares obtêm resultados superiores aos conquistados pela rede pública. A comparação é lógica e válida. Analistas, porém, alertam que isso tem induzido à falsa conclusão de que o ensino privado no país é realmente bom.

Quando índices internacionais são usados como referência – e não apenas parâmetros nacionais como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) ou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) –, chega a ser espantoso notar que os melhores estudantes da rede particular brasileira não alcançam os alunos que estão abaixo da média em países desenvolvidos, sejam eles de escolas públicas ou privadas.

Uma amostra dessa situação ficou clara diante dos números mais recentes do Programa Internacional de Avaliação do Estudante (Pisa), divulgados em dezembro de 2010. O estudo comprovou que o desempenho em leitura da camada que inclui os alunos brasileiros mais ricos é pior do que o resultado atingido pelos estudantes mais pobres de lugares como Hong Kong, Coreia do Sul e Finlândia.

Os problemas parecem começar nos primeiros anos de escola. Em agosto, foram divulgados os resultados da inédita Prova ABC, do Ministério da Educação (MEC), que avaliou crianças com 8 anos de idade. Dentre os alunos de escolas particulares, 21% não alcançaram o desempenho mínimo esperado em Português e 26% não dominavam o conteúdo ensinado em Matemática.

Contentamento

Os números também mostram que pais com filhos em escolas particulares mostram-se contentes com a qualidade do ensino. Uma pesquisa de 2006, conduzida pelo Ibope a pedido da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), com famílias de classes A e B, revelou que 90% dos entrevistados declaravam-se satisfeitos com a escola de seus filhos. A qualidade de ensino foi apontada por 41% deles como a principal razão para terem efetuado a matrícula.

Para o consultor educacional Renato Casagrande, não é apenas a comparação com os problemas da escola pública que justifica a satisfação. Os pais não se guiam por níveis de educação alcançados em outras partes do mundo. Tendem a usar como referência a escola que tiveram. Se notam que a de seus filhos é melhor, já se contentam. Entretanto, lembra o consultor, as habilidades e competências exigidas pela sociedade globalizada não são as mesmas de 20 ou 30 anos atrás.

“Ainda há muita valorização da escola conteudista, mas muito do que foi importante um dia é desnecessário hoje”, diz Casagrande. A expectativa familiar, mais focada na aprovação no vestibular, por exemplo, é o que motivaria as escolas – tanto públicas como particulares – a não investirem em formas mais sofisticadas e eficazes de aprendizagem. “Sem a cobrança dos pais por mais desenvolvimento, o horizonte de possibilidades que a escola pode oferecer fica reduzido.”

Seleção de professores deixa a desejar

A formação dos professores é outro aspecto a ser considerado para entender a discrepância entre a educação de ponta no Brasil e no exterior. Segundo Renato Casagrande, a procura por cursos de licenciatura é baixa, o que implica em menos critérios para a seleção de futuros docentes. O problema é agravado por grades curriculares de cursos de graduação que não dão a devida importância à metodologia e à prática em sala de aula. E quando chegam ao mercado de trabalho, bons profissionais da educação básica tendem a optar pela estabilidade do serviço público, no qual encontram remuneração muito próxima (e igualmente baixa) à paga pela iniciativa privada.