25/10/2011 Fonte: R7 Notícias
O ministro do Esporte, Orlando Silva, que foi à Câmara dos Deputados nesta terça-feira (25) para uma audiência que discutiria a Lei Geral da Copa, não respondeu aos questionamentos feitos por parlamentares da oposição sobre as denúncias que envolvem sua pasta.
Durante a reunião, a oposição chegou a pedir o afastamento do ministro até que as investigações fossem concluídas. O político do PCdoB foi acusado pelo policial militar João Dias Ferreira de receber propina e operar um suposto esquema de desvio de verbas.
Embora Silva tenha ido ao Congresso para falar sobre a Lei Geral da Copa, boa parte da audiência foi dedicada a cobranças feitas ao ministro e a discussões entre deputados da base governista e da oposição. O ministro, porém, manteve-se calmo e ignorou a pressão.
- Em respeito à comissão que me chamou para falar da Copa e em respeito aos parlamentares que estiveram aqui na semana passada em audiência para discutir calúnias que foram feitas, vou me abster mais uma vez de fazer digressões políticas. Vou me ater ao mérito do projeto da Lei Geral da Copa.
Diante da recusa do ministro, a oposição intensificou as críticas, lembrando a situação de Orlando Silva foi agravada depois que a ministra Carmem Lúcia, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou hoje a abertura de inquérito para investigar suspeitas que pairam sobre convênios do Ministério do Esporte com ONGs (organizações não governamentais).
A ministra atendeu à solicitação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que na semana passada pedira a abertura formal da apuração.
O líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto (BA), disse que o “Brasil não quer o ministro tratando da Copa”, e disse que era lamentável tê-lo no Congresso ainda à frente da pasta.
- É lamentável que o senhor venha aqui na condição de investigado do STF, investigado por denúncias de corrupção. O Brasil quer o ministro distante da Copa do Mundo e da Olimpíada para que a imagem do país não fique mais manchada do que está.
O deputado também questionou as afirmações do ministro, que alegou não saber das fraudes, já que ele, por sua condição, é “coordenador e líder do ministério”.
- Não é possível que o senhor não tenha visto nada com pessoas tão próximas participando do esquema. Uma autoridade pública responde por dois crimes: ação e omissão. Honestamente, não sei qual delas é mais grave, agir ou omitir. Mas, certamente, em uma delas Vossa Excelência se enquadra.
O líder do PT, Paulo Teixeira (SP), saiu em defesa de Silva.
- A própria presidente já reafirmou a confiança no ministro. A pessoa que denunciou não entregou qualquer prova e o senhor já tomou todas as providências quando ocorreram problemas com ONGs no ministério.
Já o líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), engrossou o coro dos que exigem a saída do ministro.
- Vossa Excelência não deveria estar agora nessa cadeira como ministro. Se tivesse sentimento de cidadania e respeito ao país e ao ministério, daria direito do contraditório, como qualquer pessoa com certeza da inocência faria, e deixaria o ministério enquanto as investigações rolam.
Bate boca
O início da sessão foi marcado por uma acalorada discussão entre o presidente da Comissão Especial da Lei Geral da Copa, Renan Filho (PMDB-AL), e o líder do PPS na Casa, Rubens Bueno (PR). Os dois se desentenderam sobre a permissão para que o líder usasse a palavra. Bueno deixou a sala de comissões reclamando de “blindagem”.
- Deixo essa palhaçada aqui, que é uma blindagem de um jogo triplo de roubalheira do esporte no mundo. Um jogo da Fifa, CBF e do Ministério do Esporte.
As discussões continuaram e outros deputados reclamaram da permanência de Orlando Silva no governo.O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), disse que era impossível não questionar o ministro sobre a crise, apesar da importância de se discutir também a Copa do Mundo na audiência.
- É óbvio que essa Casa e essa comissão precisam discutir a Lei Geral da Copa, mas é evidente que estamos em uma situação peculiar. O ministro pediu sindicância, abriu o sigilo e não foi à toa. Se a PGR (Procuradoria-Geral da República) e o STF (Supremo Tribunal Federal) estão abrindo inquérito, investigação, não é à toa. Nós, parlamentares, temos de estar atinentes à realidade e não podemos viver no mundo da lua.
O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), por sua vez, lembrou que a Fifa, organizadora da Copa, já disse que quer um novo interlocutor para a organização do evento. O tucano afirmou também que a presidente Dilma Rousseff, apesar de ter optado por manter Silva na equipe, não tomou uma decisão definitiva.
- A Dilma já disse que quer tratar diretamente da Copa e, e o ministro Gilberto Carvalho [da Secretaria-Geral da Presidência] já disse que a manutenção não é definitiva. A própria Fifa já deixou claro que se sente incomodada em relação à questão do ministério e à situação que vive. As notícias abundam. É preciso controle.
Onyx Lorenzoni (DEM-RS) direcionou suas críticas também ao PCdoB, partido do ministro do Esporte.
- São vários indícios e pessoas associadas ao ministro. Peça para sair. Isso vai fazer bem para o partido, para a presidente Dilma, vai fazer bem para o país.
Ministro no Congresso
Na semana passada, Orlando Silva foi à Câmara, na terça-feira (18), e ao Senado, na quarta (19), para falar especificamente sobre as denúncias contra o Ministério do Esporte. Em ambas as ocasiões, ele negou envolvimento com irregularidades e afirmou que “não houve, não há e não haverá provas” que o incriminem.
O policial militar que o denunciou, João Dias Ferreira, também irá à Câmara dos Deputados nesta semana. Está prevista para esta quarta (26) uma audiência com o delator, que prometeu mostrar as provas que tem em mãos.
Nesta segunda (24), o oficial prestou depoimento na Polícia Federal. Ele entregou 13 gravações que comprovariam o envolvimento de funcionários do Ministério do Esporte com o suposto esquema de corrupção. No entanto, admitiu que não possui provas diretas contra Orlando Silva.