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Opinião

Uma tragédia que não tem explicação

Uma tragédia que não tem explicação

08-04-2011

Parecia que esse tipo de acontecimento estava muito longe de nós, coisa de norte-americano, de um tipo de cultura diferente da nossa. Nós, que nos consideramos um povo religioso, que carrega Deus no coração e o seu filho, Jesus, crucificado, pendurado no pescoço, para mostrar que tem mesmo fé, que é do Bem, jamais esperávamos ver um "louco" armado, entrar numa escola e abrir fogo contra as nossas crianças. As imagens do governador do Rio, Sergio Cabral e do prefeito, Eduardo Paes, chorando em frente às câmeras de televisão, dão a dimensão da tragédia que causou a morte de 11 crianças e ferimentos em dezenas.
A invasão da escola por um ex-aluno "louco", armado com dois revólveres e muita munição, não poderia jamais ser pensada. Não há como culpar a Segurança Pública, a segurança da escola, ou quem quer que seja. O único culpado é a própria sociedade, que não en-xergou, com tempo, que estava criando um indivíduo capaz de co-meter uma atrocidade desse tamanho. É preciso observarmos esse acontecimento para que possamos identificar onde está o erro, onde está a falha, e por que esse indivíduo não foi identificado como potencial terrorista, antes que a tragédia acontecesse. Estaria a falha na desestruturação da família? Na proliferação do Bullying não combatido? Na flacidez das leis? Na certeza da impunidade? Na falta de Deus no coração?
A sociedade precisa fazer uma profunda reflexão, porque um cidadão que vai cometer um delito dessa gravidade, dá sinais de que algo muito errado está acontecendo com ele, muitas vezes anos antes. Pais, parentes, professores, amigos, alguém poderia ter desconfiado das intenções do assassino, e alertado as autoridades com antece-dência. Só assim alguém poderia impedir o assassinato em massa das crianças.
O que não dá para aceitar é que um caso dessa magnitude passe sem que a sociedade não pare para meditar, para pesquisar, e pelo menos tentar descobrir as causas e tentar consertar os seus rumos. Nossas crianças precisam continuar indo todos os dias para a escola, e nós precisamos continuar tranquilos, sabendo que elas vão voltar para casa intactas, diferentes apenas porque receberam novos co-nhecimentos.
Vemos, nas nossa escolas, professores abandonando turmas inteiras, porque não conseguiram controlá-las. Vemos professores em licença médica, porque adoeceram e não conseguiram cumprir a sua missão. Muitos chegam a desistir da profissão, para garantir sua integridade física e psicológica. Vemos professores serem agredidos por alunos que não respeitam ninguém, que sabem que não podem ser presos pelos seus delitos. Muitos chegam a desafiar professores e diretores, dizendo que conhecem os seus direitos e sabem que um "menor" pode fazer o que bem entender, porque com 18 anos estará livre.
Não se pode esconder que há algo de muito errado com a nossa sociedade, que existe uma inversão de valores muito grave, que pode até estar na raiz geradora de monstros como esse do Rio de Janeiro. Na carta que deixou, o assassino diz, nas entrelinhas, que a culpa é nossa, que a culpa é da sociedade. E talvez ele, em meio à escuridão da sua loucura, tenha enxergado uma centelha de luz, da verdade. A culpa é realmente da sociedade, e só uma mudança radical desta sociedade, dos seus métodos e das suas leis, da reafirmação dos seus valores morais, das suas virtudes e das virtudes dos seus cidadãos, será capaz de consertar a "forma", que molda monstros dessa magnitude.