Segunda-feira às 11 de Agosto de 2025 às 09:02:13
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Paternidade presente é uma das chaves para o desenvolvimento emocional saudável

Paternidade presente é uma das chaves para o desenvolvimento emocional saudável

Neste domingo (10), é celebrado o Dia dos Pais, uma data que, além de trazer em si a comemoração pela dedicação na paternidade de inúmeros pais, também relembra a responsabilidade na construção de seres humanos, por meio da participação destes homens na vida dos seus respectivos filhos. 
Para explicar a importância da figura do pai na vida da criança, a Folha conversou com a psicóloga Ana Luisa Schmidt. “Pensando na presença ativa de um pai no dia a dia de uma criança, é possível compreender que funciona enquanto um fator de proteção e desenvolvimento, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional da criança e, bem como podendo auxiliar também na menor incidência de comportamentos disfuncionais na infância. Quando se pensa a longo prazo, a presença paterna auxilia no sentimento de segurança, na regulação emocional e na construção de identidade.”
Segundo ela, um pai presente na criação dos filhos vai além do papel provedor e distante, mas também está na ideia de ser cuidador, uma vez que, é no cuidado, é na presença do dia a dia que se estabelece e fortalece o vínculo.
“Exercitar a paternidade de forma ativa é se tornar presente nos cuidados diários, como saúde, alimentação, higiene, educação, entre outros, nas tarefas domésticas, na interação de momentos de aprendizado e lazer, demonstrando a possibilidade de os filhos poderem contar com esse pai. Dessa forma, construindo então uma proximidade afetiva”, diz.
Comenta ainda que existe um estigma de um padrão de construção e divisão dos papéis de gênero, que infelizmente acabam colocando o pai como uma figura distante emocional e apenas provedor econômico na família, sem a presença do cuidado e do afeto. Retrata que um dos grandes resultados dessa crença social é o fato de muitos homens não serem incentivados ou ensinados a desenvolver habilidades sociais desde a infância, o que por sua vez, pode gerar receios e inseguranças no momento de assumir e construir o papel de pai. 
“O acolhimento, incentivo, estudo e experienciar podem servir enquanto grandes aliados para a quebra dos padrões e para a construção de um novo modelo de parentalidade. Penso que ninguém nasce já sabendo ser pai ou ser mãe, isso é uma construção que acontece quando existe um nascimento de um filho, cabe ao pai decidir seu envolvimento e comprometimento com o desenvolvimento desta criança”, explica Ana. 
Quando existe a ausência paterna, isso pode causar um prejuízo no âmbito de desenvolvimento socioemocional das crianças. “Impactos diretos com o surgimento de sentimento de rejeição, abandono e inferioridade com os demais, além também de propiciar o desenvolvimento de insegurança e de baixa autoestima o que, por sua vez, pode acarretar no aumento de sentimentos relacionados à ansiedade”, evidencia.
A longo prazo, a psicóloga explica que pode existir uma “parentalização” do filho, ou seja, ele busca assumir papéis de adulto, como uma maneira de buscar equilibrar os papéis familiares, dificuldades no sentido da construção e consolidação da identidade, busca constante do filho por aprovação e validação de terceiros nas mais diversas esferas da vida (relacionamentos, escola, trabalho), além também de dificuldades em relacionamentos, por problemas emocionais e comportamentais.
“A parentalidade não é exclusivamente exercida pelo genitor, dentro de diferentes configurações familiares, muitas vezes outros participantes da família podem exercer esse papel, como tios, avôs e primos. Valendo também para eles o mérito e a importância da construção de um vínculo com afeto, constância e intenção”, alerta.

Pai presente mesmo morando longe
Muitas vezes, as barreiras geográficas acabam sendo um desafio para os pais e filhos. Seja por conta da separação dos pais e também porque o pai vive em outra cidade, longe do filho. A psicóloga explica que quando há separação ou o pai não reside na mesma casa dos filhos, se faz necessário construir uma organização para manter a proximidade da relação. “Os principais pontos para tornar isso viável são a constância, o afeto, a intenção e a rotina. No desenvolvimento infantil, um fator de grande importância na construção de vínculos diz respeito à previsibilidade, ou seja, que exista e que sejam compridos combinados no sentido da presença (pessoal ou online) do pai”, retrata.
Ressalta ainda que, além da presença, já no sentido do vínculo afetivo, é necessário o pai demonstrar interesse pela vida do filho, como nas amizades, interesses, escola e demais fatores de desenvolvimento. “Além também da possibilidade de organização de visitas para a presença física, outras estratégias podem surgir enquanto facilitadoras deste momento, como chamadas de vídeo por aplicativo de troca de mensagens. Se faz importante relembrar que a presença também diz respeito à participação não somente no contato com o filho, mas também na participação das atividades que o envolvem”, acrescenta.
Neste contexto, defende que a tecnologia pode desempenhar um papel de aproximação e manutenção de vínculos, especialmente quando são demonstrados com afeto, intenção e constância, e pode significar uma maneira de continuar, preservar e reforçar o vínculo e o afeto entre pais e filhos, possibilitando assim que o pai exerça sua função mesmo fora do convívio físico familiar.
“A construção de rituais, como leituras, auxílio em tarefas e conversas por meio de videochamadas, troca de mensagens e áudios e o compartilhamento de fotos e vídeos podem auxiliar esse pai distante a se tornar presente e continuar a rotina em que o filho está inserido”, acrescenta. 

Relacionamento na fase adulta
O fortalecimento de vínculos entre o pai e os filhos pode também acontecer na fase adulta, mesmo que nesse momento da vida, alguns aspectos sejam alterados, conforme explica a psicóloga. “Não existe mais a dependência em cuidados básicos por parte do filho, por exemplo, dessa forma a relação se torna mais horizontal, ou seja, de reconhecimento, respeito e escuta mútua, validação da história de ambos. O afeto, a presença, a constância e a intenção devem estar sempre presentes quando pensamos na trajetória da relação pai-filho, tais aspectos apenas mudam de objetivos, quando antes eram direcionados para cuidados do cotidiano agora se relacionam para o interesse, cuidado, acolhimento e escuta desse filho que também está construindo sua própria família”, comenta.
Acrescenta que a fase adulta pode caracterizar um momento de oportunidade para ressignificar histórias e experiências passadas, abrindo assim a possibilidade de construção e fortalecimento de vínculos tendo como base o respeito, empatia, abertura e a vontade de aproximação.
Nesse sentido, para os pais que acreditam que já perderam muito tempo e que estão distantes demais dos seus filhos, Ana Luísa ressalta que nunca é tarde para trabalhar em prol da construção ou fortalecimento de vínculos, e diz que as relações são dinâmicas, estão em constante transformação ao longo da vida, possibilitando assim que novas relações possam ser construídas.
“É necessário reconhecer o desejo, com responsabilidade emocional, constância e afeto. Além disso, acolher os sentimentos de culpa ou vergonha que podem surgir pela ausência paterna anterior, pois os mesmos, se não cuidados, podem atrapalhar na construção do afeto. Pequenas ações já se caracterizam enquanto muito significativas, como por exemplo, interesse, escuta, acolhimento, incluir o filho na rotina, participação nas atividades cotidianas, sempre lembrando que uma relação necessita constância e participação de ambos os lados”, completa.