Com um bosque maravilhoso e uma igreja convidativa, a Igreja Nossa Senhora do Rocio, localizada no Miqueleto, é realmente um lugar de paz, onde a contemplação ultrapassa as paredes da construção inaugurada em 15 de novembro de 1953, pertencendo atualmente à Paróquia São Sebastião, na Rondinha. O amplo espaço de terreno, cerca de três alqueires, abriga além da igreja, um salão social, vários quiosques, uma casa paroquial, parquinho para as crianças, fonte de água e uma gruta para orações. Pelo tamanho expressivo do terreno, já foi cogitada inclusive a construção de uma escola no local.
A Folha de Campo Largo conversou com Maria do Rocio de Andrade, coordenadora da Liturgia do Miqueleto e de toda a Paróquia São Sebastião, e Antonio José Zavatti, coordenador da capela, e contaram um pouco da história e de como é a comunidade hoje.
Maria inclusive foi escritora de livro que conta a história das igrejas pertencentes à paróquia São Sebastião e traz a informação de que a comunidade de Fazendinha, local onde está construída a igreja, surgiu por volta dos anos de 1900, quando chegaram à região imigrantes italianos e poloneses.
“No início viviam cerca de 18 famílias que tinham fé, rezavam o terço diariamente, faziam sacrifícios, saíam a pé, muitas vezes com chuva para participar da missa em Rondinha. Um dos primeiros imigrantes chamado João Miqueletto, era devoto de São João e no mês de junho festejava-o em sua casa, com fogueira e reza do terço. Mais tarde doou meia quarta de seu terreno para ser construída uma capelinha, onde São João seria o padroeiro. A capelinha foi fundada em 1915, com a ajuda de Valentin Gasparetto, descendente de italianos. Não havia missa aos domingos, apenas era rezado o terço em italiano. As festas passaram a ser realizadas na capelinha. Quem rezou a primeira missa foi Pe. Natal Pigato”, retrata a história da igreja no livro.
O milagre e a mudança
Por isso, o primeiro padroeiro da comunidade foi São João, o que mudou anos mais tarde quando um grave problema afligiu a família de Valentin Gasparetto. “Seu filho, João Gasparetto Neto, ficou paralítico aos 12 anos de idade devido ao tifo, pneumonia e reumatismo, que quase o levou a morte. Graças ao Dr. Atílio Barbosa ele se recuperou, mas não voltou a andar. Deus tinha planos maravilhosos que mais tarde seriam conhecidos. Aos 14 anos, João Gasparetto foi levado por seus pais a Paranaguá. No dia 14 de novembro de 1920, véspera da grande festa, estavam numa vigília de fé e de esperança que não os decepcionaria, pois o milagre aconteceu. À noite, João Gasparetto despertou e sentiu uma sensação agradável passando por suas pernas, que pareciam reviver. Levantou-se e começou a andar pelo escuro sem as bengalas. Ele estava completamente curado”, retrata a história. Inclusive, João Gasparetto era tio de seu Antônio, que comenta sobre a sua dedicação à igreja de maneira geral, até a sua morte.
O milagre levou a família, em agradecimento, a festejar o dia 15 de novembro, data que é comemorado o Dia de Nossa Senhora do Rocio. Antigamente, a comemoração era feita com um quadro da santa, trazido de Paranaguá, mas a imagem trazida para a igreja por Luiz Puppi, sendo encomendada por Valentin Gasparetto e adquirida em São Paulo. Foi solenemente entronizada na capela pelo Padre Natal Pigato, no dia 06 de julho de 1927.
A comunidade cresceu, desenvolvendo sempre sua fé em Deus e em Nossa Senhora do Rocio, mas jamais esqueceu do seu primeiro padroeiro, São João, que está no altar e também é festejado anualmente pela comunidade.
Com a festa principal sendo realizada em novembro, a comunidade se une na para as novenas preparatórias, com procissão sendo realizada na noite do dia 14 de novembro. Para a festa trabalham cerca de 200 voluntários, com a venda de mais de mil quilos de alcatra, além de galeto, carne de porco e acompanhamentos. Anualmente, são milhares de campo-larguenses participando do evento. Inclusive, durante os anos de pandemia, foi usada a área externa e interna da igreja para a realização das missas, com público bastante expressivo. Para a realização da procissão, a organização pedia que o público fosse de carro ou de bicicleta, reunindo muitas pessoas sentido à Paróquia da Rondinha.
“A cada ano o número de peregrinos aumenta, fazem romarias de penitência para agradecer, pedir novos favores e também para reconciliar-se com Deus. É uma comunidade tradicional no seu modo de vida e na prática da sua fé, onde a devoção a Nossa Senhora do Rocio é muito forte. Na comunidade, com aproximadamente trezentas famílias, existem as pastorais da liturgia, dos coroinhas, catequese, batismo, grupos de reflexão, apostolado da oração, juventude, capelinhas, cursilho, dízimo, visitação, esperança, vocacional, canto e ministros”, retrata o livro.
A construção da igreja
Com o trabalho forte realizado na comunidade, o espaço da antiga capelinha foi ficando pequeno, sendo necessária uma construção maior. A bênção da pedra fundamental aconteceu em 15 de novembro de 1949, sendo inaugurada oficialmente em 1953. Embora a igreja tenha sido construída por dois pedreiros, José Chiquito e seu irmão Augusto Chiquito, com projeto realizado por João de Mio, autor de vários projetos de templos religiosos no Paraná, a comunidade se envolveu diretamente, realizando grandes mutirões, doando pinheiros e puxando tijolos da olaria de Eduardo Pereira com uma carroça.
A madeira para os bancos foi doada por Angelo Miqueletto e o sino veio da Itália, sendo o mesmo até hoje. Com belas pinturas e uma excelente acústica, a construção da igreja do Miqueleto é bastante singular e muito bela.