17-09-2010
O brasileiro aprendeu a "meter a mão no jarro", desde os tempos de Cabral.
17-09-2010
O brasileiro aprendeu a "meter a mão no jarro", desde os tempos de Cabral. A herança maldita, herdamos dos nossos antepassados, portugueses, que sempre pegavam algo em troca por qualquer favor, até deixar um viajante passar pelas suas terras. Essa cultura foi disseminada e até elogiada no Reinado, e continuou na República. A coisa pública, entende o povo, como sendo de todos, e ao mesmo tempo de ninguém. Se um sitiante souber que as terras próximas à sua são da União, ou seja, patrimônio público, ele não pensa duas vezes em dar um jeitinho de plantar milho ou feijão, assim como quem não quer nada. Se ninguém reclamar, no ano seguinte ele planta milho, feijão, soja, e vai plantando. Com o tempo, ele cerca a área e, pronto, é "sua".
Esse comportamento é observado em todos os ramos de atividade. Outro dia um empresário nos confidenciou que, precisando de um almoxarife (chefe de Almoxarifado, ou estoque), pegou um rapaz do chão de fábrica, que praticamente viu crescer alí. Pensou, é um rapaz sério, e era. Mas, meses depois, o funcionário comprou uma motocicleta. No final do ano, um carro novo. Desconfiado, ele [o empresário], foi investigar e descobriu, incrédulo, que todos os dias o rapaz levava um fardo de matéria-prima para casa, e já era seu concorrente no negócio, tendo inclusive lhe tomado alguns pequenos clientes.
Assim como aconteceu com o jovem almoxarife, parece acontecer com algumas pessoas que, ao assumirem o Poder, procuram encher os bolsos e, desta forma, quando sair, não precisarão mais trabalhar, ou montarão seu próprio negócio. Há anos estamos acompanhando casos de corrupção em todos os níveis de Governo. Os casos mais recentes, o do Amapá, quando até o governador e o presidente do Tribunal de Contas foram presos; o caso da Prefeitura de Dourados, Mato Grosso do Sul, onde o prefeito e nove vereadores foram presos, e tantos outros, dão uma dimensão de quanto é arraigado, na tradição política brasileira, a doença da corrupção.
Leis existem, o que falta é o cumprimento das leis; o que falta é colocar os corruptos atrás das grades, e mais que isso, devemos tomar de volta tudo o que roubaram. Não dá mais para continuarmos aceitando a corrupção como uma coisa natural; não dá para o brasileiro continuar admirando os corruptos, que ficam ricos da noite para o dia, sem que a Justiça seja feita. No Brasil, corrupto é respeitado pelo povo, é chamado de "dotô", e isso acontece tanto nos palácios quanto nas favelas, onde os chefes do tráfico, são igualmente respeitados e até venerados pelos cidadãos mais humildes.
As eleições de outubro estão aí. O eleitor já sabe quem são os corruptos, sabem em quem podem confiar.