Adriana Rodrigues dos Anjos trabalha como coletora de lixo há oito anos e conta que ama o seu trabalho
No último domingo, dia 08 de março, foi comemorado o Dia Internacional de Mulher, com a lembrança de como as mulheres conseguem ser multitarefas, independentes e capazes de fazer trabalhos considerados por muitos como masculinos, de forma muito eficaz. Nesta edição, trazemos a história da campo-larguense Adriana Rodrigues dos Anjos, que há oito anos trabalha como coletora de lixo na cidade.
Nascida e criada em Campo Largo, Adriana – ou como é popularmente conhecida Drika – antes ao serviço de coleta de lixo trabalhava em uma lanchonete no Centro, a antiga Capuchinho Café, próximo ao Banco Bradesco, onde ficou por 12 anos. “Eu gostava muito de trabalhar ali, mas um dia decidi mudar de profissão e fui trabalhar já no dia seguinte como coletora, quando era uma outra empresa que atuava na cidade. Quando foi embora, eu passei a trabalhar para a Cavo, onde estou há três anos.”
Em seu trabalho como coletora, ela atua recolhendo os lixos recicláveis, correndo atrás do caminhão e comenta que não tem nem ideia de quantos quilômetros faz por dia. “Estava um calor de matar! Hoje nós trabalhamos no ‘bregado’, mas no meu primeiro dia de trabalho nós ainda estávamos trabalhando dentro do baú, em um calor de ‘derreter’. Eu estava acostumada a servir café, conversando com o pessoal que frequentava ali, quando me vi tentando me equilibrar dentro do caminhão, esvaziando saco e arrumando carga com o caminhão em movimento. No nosso trabalho, nós começamos às 7h e não temos hora para parar, só paramos quando terminamos o setor. Eu só pensava ‘eu tô aqui e vou conseguir terminar essa rota’, porque foi barra pesada em comparação ao outro lugar que eu trabalhava. Eu só pensava que todos os meus colegas que estavam ali e conseguiam, como eu não conseguiria?”, relembra.
Apesar da grande maioria dos colegas de trabalho serem homens – apenas mais uma mulher trabalha com ela, sua amiga Janaína – Drika conta que sempre foi muito respeitada pelos seus colegas. “A maioria são meninos ainda, são novinhos, mas eles me respeitam muito. A gente conversa, brinca, mas um respeita o outro, um ajuda o outro. É um relacionamento normal, sinto o mesmo respeito de como se eu estivesse trabalhando em meio a várias mulheres, pois somos todos iguais”, frisa. “Passamos por sol, chuva, calor intenso, dias de frio absurdo, mas estamos ali sempre correndo atrás do caminhão e fazendo a coleta. A única diferença é que nós recolhemos o lixo reciclável e não o orgânico, mas se precisar eu faço também”, diz.
Sujeita a acidentes
Drika conta que já sofreu dois acidentes e disse que precisa estar bem atenta durante o trabalho. As duas vezes foi atropelada por motociclistas, sendo que no primeiro acidente ela precisou levar 12 pontos na cabeça e no segundo, que não acabou sendo tão grave quanto o primeiro, ela também acabou batendo a cabeça. “Além disso, minha outra colega acabou quebrando o pulso quando uma van bateu nela. Nós estávamos recolhendo o lixo, quando uma van não a viu e acabou atropelando ela. Isso aconteceu no dia 23 de dezembro do ano passado e ela precisou ser encostada pelo INSS”, diz.
“Alguns motoristas respeitam o nosso trabalho, esperam o caminhão, mas tem outros que não querem nem saber, aceleram, querem podar o caminhão. Por isso, quando estamos trabalhando nós temos que estar bem atentas ao que está acontecendo. Temos que prestar atenção no motorista do carro, caminhão, nas saídas das garagens, nos cachorros que estão na rua, nos motociclistas e até nas bicicletas, por que tudo pode ser perigoso conforme o jeito que bate”, diz.
Percepção da população
“Faz oito anos que eu sou coletora, mas ainda existem mulheres e homens que se surpreendem quando percebem que é uma coletora de lixo. Às vezes eu estou com o boné, cabelo bem amarrado e, como eu sou bem magrinha, eles ficam ‘nossa, é uma mulher ali?’, ‘não, acho que é um menino’, isso é bem comum”, comenta. “Quando eles veem que é de fato uma mulher, eles ficam muito surpresos e eu gosto muito disso, porque é um desafio para mim e eu adoro desafios, sempre na minha vida eu fui muito desafiadora. Acredito que muitas das pessoas que vão ler essa matéria já me viram por aí e acabarão ficando surpresas”, revela.
Mensagem para as mulheres
“Sou mulher, sou mãe, sou vó, sou sogra, sou dona de casa, sou muito feliz, adoro o que eu faço de coração mesmo. Adoro levantar de manhã, passar um lápis no olho, um batom, um creme. Porque eu vou cheirosa fia (sic), só não conto como eu volto não”, conta dando risada.
“Mulheres de Campo Largo, vocês não precisam depender de ninguém, de homem, marido, filho. O que você precisa é se amar, ter garra o suficiente para dizer ‘eu posso, eu consigo, eu vou fazer, vou lutar’. Você não precisa sofrer por consequências por uma vida inteira, você precisa se valorizar. Enquanto você olhar no espelho e se achar linda, competente e correr atrás dos seus objetivos, nada te derruba. Entrega tudo na mão de Deus, que não importa o que você faça, com o que você trabalhe, ou o que vai acontecer, que vai dar certo no final, só não desista. Essa é a minha mensagem para todas as mulheres”, finaliza.