Embora a cidade tenha produtores de cinema e documentários, ainda falta incentivo para que a história campo-larguense esteja mais presente no cinema
Engana-se quem acredita que o cinema acontece somente em terras distantes. Por aqui, cenários, personagens, histórias e roteiros já foram ou ainda serão contadas nas telonas, seja em documentários, como também histórias de ficção, tendo a cidade como plano de fundo.
Um desses nomes que atua no ramo, orgulha-se da cidade e irá retratá-la por meio de documentários e filmes é o campo-larguense Joel Schoenrock. O cineasta já possui alguns trabalhos no meio e hoje está à frente de duas linhas documentais, uma sobre a região das Populares e outro sobre Campo Largo 150 anos.
“O projeto de trabalho que tenho mais amadurecido até o momento é o documentário das Populares. Comecei com pesquisas destacando a juventude do bairro e fui a fundo na história. Descobri que esse foi um dos primeiros conjuntos habitacionais do Paraná e até mesmo do país. Foi a primeira região urbanizada de fato na cidade, que depois foi expandindo para outras localidades. Isso nos levou a uma narrativa com muitos personagens, que geraram uma boa história para ser contada por meio de documentário”, conta.
Essa narrativa foi aprovada por meio de incentivo por uma Lei Federal, ainda na metade do ano passado. Hoje a equipe está em busca de patrocínio de empresas para conseguir efetivar o projeto e dar início às gravações e finalização.
Outro projeto que está em fase inicial é o documentário que conta a história de Campo Largo, inclusive com registros datados do século da descoberta do Brasil, quando a região foi foco de exploração de ouro, conforme conta Joel, vindo de encontro com a contemporaneidade. Ainda estão sendo estudadas e levantadas pesquisas, mas o desejo é que esse projeto tenha estreia em fevereiro de 2021, quando a cidade irá completar 150 anos e a intenção é que esses trabalhos participem de grandes festivais de cinema nacionais e internacionais. Joel está tentando trazer ainda a produção de um filme para a cidade, que deve ter suas gravações iniciadas em breve, mas que ainda não pode ser divulgado.
Outro profissional do meio audiovisual e historiador é Otavio Zucon, que viveu na cidade por alguns anos e realizou algumas produções em parceria com outros profissionais.
Ele destaca os trabalhos “Passagens pela Vida – Memórias da Estrada do Mato Grosso” e “Arquitetura dos sentidos – vídeo-documentário sobre Memórias da Antiga Estrada do Mato Grosso”, gravados na cidade. Também com destaque de alguns personagens locais, como no documentário “A Santa de Casa e o Povo Santo”, que fala da presença de Maria Bueno nos terreiros de Umbanda da região de Curitiba e mostra uma médium campo-larguense que a incorporava, e também o Seu Darcy que fazia benzimentos e participou do documentário “Instalações-Rituais: documentário etnográfico sobre altares de benzedeiras por onde andou São João Maria”, produção da antropóloga campo-larguense e produtora audiovisual Geslline Braga.
“Eu fiz o filme sobre as benzedeiras e recebi um prêmio da Funarte para realizá-lo. Na minha geração existem muitos artistas, de várias áreas, que possuem talentos incríveis, mas que são pouco reconhecidos na cidade. A produção audiovisual é cara e precisa ser financiada. Isso se faz com política pública para a cultura, coisas que ainda não existem por aqui. A iniciativa privada também é pouco solícita para financiar sem as leis de renúncia fiscal, ou mesmo com elas”, explica Geslline.
Valorização da história local
Todos os produtores são unânimes em concordar que a história contada por meio do audiovisual é bastante democrática, mas que ainda precisa ser incentivada. “A cidade possui uma riqueza histórica ímpar, seja na parte de patrimônio material e do imaterial, mas que ainda precisa avançar muito em sua preservação. A história municipal é a raíz de um povo, é lamentável que isso se perca com o passar dos anos. Enquanto atuei no município, tive muito contato com histórias e culturas inteiras que mereciam ser documentadas, mas que não são por falta de incentivo e falta de estímulo”, diz Zucon, relembrando do patrimônio arqueológico, da casa de Mariano Torre
e também com as culturas que ainda se preservam, como a produção de vime e manejo de fibras para a produção de um artesanato típico italiano e a produção de vinhos.
“De um ponto de vista artístico, Campo Largo é uma cidade muito interessante. Temos vários cenários possíveis, tanto do avanço da urbanização, industrialização, vida no campo e nas colônias, que ainda mantêm tradições antigas. O que falta muito ainda é o incentivo à arte e às pessoas, para que vejam que o cinema também é um documento, uma forma de eternizar a cultura do município”, acredita Joel.
“Meus trabalhos são todos gestados aqui, porque eu sou daqui e vivo aqui e são profundamente marcados pela cidade. Durante um ano eu participei do Conselho de Cultura com esperança de poder contribuir com a política pública para promover a cultura na cidade, mas os avanços
ainda são poucos”, finaliza.