A coleta da medula de Gabriel de Paula Xavier (23) será realizada no dia 05 de fevereiro
Uma situação em 100 mil aconteceu em Campo Largo, ainda no ano passado. O campo-larguense Gabriel de Paula Xavier (23) recebeu uma ligação do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) há aproximadamente cinco meses, quando disseram que ele tinha uma possível compatibilidade com alguém que está precisando receber uma doação de medula óssea. Conseguir se tornar doador de medula óssea é raro.
“Eles pediram para que eu fosse ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar) para fazer mais um exame de sangue, de confirmação, que acredito que tenha sido enviado para o Rio de Janeiro, que é a sede do Redome. Eles constataram então que eu tinha minha genética 100% compatível com uma pessoa que precisa. Pode ser uma criança, homem, mulher, não precisa ter aparência igual ou o mesmo tipo sanguíneo, mas a genética precisa ser idêntica. Eles me explicaram que muitas vezes nem de pai para filho consegue, então é algo mágico até”, conta Gabriel.
Assim que recebeu a ligação confirmando que era 100% compatível com esse paciente, Gabriel conta que se emocionou muito. “Eu chorei muito, agradeci muito a Deus pela oportunidade, por me usar. Quando eu me cadastrei, achei que jamais isso iria acontecer, porque eu nunca tinha visto nada parecido, não conheci ninguém que tenha sido compatível com um desconhecido. Pela internet e televisão a gente vê casos, mas nunca imagina que vai acontecer. Eu pensei se fosse eu precisando ou meu filho, eu ficaria muito feliz em saber que tem alguém disposto a ajudar”, diz.
Ele precisou viajar ao Rio de Janeiro após a confirmação para que ele conversasse com a equipe médica que irá realizar o transplante, para que eles pudessem se conhecer e explicar como será realizado. Gabriel fez vários exames para saber como está a sua saúde, passou por uma entrevista onde foi questionado sobre consumo de bebidas, cigarro, se havia feito tatuagem ou piercing nos últimos meses, entre outros itens, pois a equipe busca, na medida do possível, uma pessoa bastante saudável e que cuide da sua saúde.
“Eu tive que tirar uma bolsa de sangue para mim mesmo, que poderá ser utilizada no dia da cirurgia para retirada do tecido que será doado, no caso da medula óssea. Eles irão dar uma anestesia geral, será feito na sala de cirurgia, com acesso à medula por meio de agulhas, no osso da bacia. O procedimento leva aproximadamente duas horas para terminar”, explica.
No dia 04 de fevereiro ele volta para o Rio de Janeiro e no dia 05 será internado para realizar o procedimento, retornando no dia 09 para Campo Largo. “No dia 06 eu já estou de alta do hospital, mas eles pedem para que permaneça por alguns dias na cidade, por ter passado por um procedimento cirúrgico, pode ter um pouco de dor, mas nada grave e evitar ter que pegar avião, recém-saído de uma cirurgia”, conta.
Gabriel conta que todas as viagens, hotéis e alimentação foram pagos pelo Redome. “Eles compram as passagens aéreas para os exames e doação. No dia que você embarca para fazer a doação, eles depositam um dinheiro na sua conta para pagar despesas de alimentação do doador e do acompanhante, fica hospedado em hotel cinco estrelas, despesas de Uber, tudo pago, não tira um real do bolso. Sem contar, que você está salvando uma vida, isso é o mais importante de tudo nessa história. Eu me sinto lisonjeado”, diz Gabriel.
Responsabilidade
Gabriel conta que a equipe deixou ele ciente de como será o processo com o paciente que irá receber também. O paciente, por muito tempo, recebeu doses de quimioterapia, na tentativa de curar o câncer. Porém, assim que o doador está apto para realizar a doação voluntária, a equipe médica administra uma série de quimioterapias bastante fortes, na intenção de, literalmente, matar a medula doente. Esse paciente então recebe a medula nova doada, como em um processo de doação de sangue e entra em um longo processo de recuperação.
“Eu posso desistir a qualquer momento da doação, mesmo um minuto antes de entrar no centro cirúrgico e receber a anestesia. Porém, eu estou ciente e assinei termos que isso pode ser fatal para o paciente, pois ele já está em um estado crítico e a minha medula poderá salvá-lo”, revela.
Em seis meses, Gabriel poderá ter acesso a informações do paciente, como sexo e idade, porém, somente depois de 18 meses, caso ambas as partes se manifestem positivamente, poderão se conhecer.
Doações de sangue
Não é de hoje que Gabriel se dedica a ajudar o próximo. Ele conta que desde que completou 18 anos realiza doações de sangue – respeitando o limite de tempo entre doações. “Eu tenho 12 doações de sangue no total, e as realizo a cada dois meses, no máximo três. Meu cadastro como doador de medula óssea eu fiz no Hemobanco, onde sempre realizo doações. Quando você vai doar pela primeira vez, eles perguntam se você quer se tornar doador de medula óssea também. Eu aceitei, eles tiraram um pouco de sangue a mais e fazem o cadastro no Redome, que é um que abrange não somente os brasileiros, mas também fora do país. Eu realizo doações no Hemobanco de Curitiba, mas também existem outros bancos de sangue. Infelizmente, Campo Largo não dispõe de um banco, e isso é muito triste, porque existem muitas pessoas que deixam de doar porque não conseguem se deslocar até lá”, acredita.
“Meu apelo é que as pessoas se cadastrem como doadoras de medula, porque a sensação de que você pode ajudar alguém, salvar sua vida, é sensacional. Muitas vezes, enquanto estamos em casa, trabalhando ou estudando, tem alguém que está lutando pela vida em algum lugar, esperando pela gente. Seja essa pessoa que fará a diferença”, finaliza.