Jovens de hoje acabam encontrando maiores dificuldades de
encontrar emprego, apesar das maiores possibilidades de estudo
Conseguir um emprego pode ter sido um dos objetivos colocados para serem cumpridos ao longo de 2020, especialmente para quem está sem trabalho. Porém, para quem não tem experiências de trabalho, essa colocação no mercado de trabalho pode se tornar ainda mais difícil. Em 2019, o desemprego entre jovens de até 29 anos foi o dobro do restante da população em 2017, de acordo com o IBGE, alcançando 22,6% - ou seja, de cada dez, dois jovens estavam desempregados.
Porém, para Andrea Bonato, gestora estratégica em Marketing, mestre em Marketing dentro das Organizações pela Fundação Universitária Iberoamericana de Barcelona, na Espanha, consultora e professora na Gerar Campo Largo, a postura do jovem hoje é muito variável, entre a ansiedade de conseguir o primeiro emprego e também a falta de motivação para entrar no mercado de trabalho. “Temos vários perfis de jovens hoje, mas podemos destacar aqueles que estão super ansiosos para conseguir ser efetivado, que muitas vezes precisam trabalhar para ajudar a pagar as despesas da casa e também aqueles que saíram do Ensino Médio agora e não encontram uma motivação para entrar no mercado de trabalho. São pessoas que muitas vezes os pais acabam vindo procurar uma vaga. Ambas as posturas podem ser prejudiciais e demandam muita maturidade para serem aperfeiçoadas.”
Ela explica que a ansiedade na hora de procurar um emprego pode prejudicar na imagem que ela demonstra na hora da entrevista, por exemplo. “O nervosismo é natural, porém quando é algo extremo atrapalha muito na hora da contratação. ‘Apelar’ na hora que está sendo entrevistado, não conseguir se concentrar na hora da dinâmica e fazer um bom trabalho ou ficar sem saber responder as perguntas feitas, como ‘por que eu devo contratar você e não o candidato anterior?’ ou ‘quais são suas maiores qualidades e defeitos?’, podem gerar uma imagem que não levará à contratação”, ressalta.
Outro erro constante é apenas ir para a entrevista sem conhecimento prévio da instituição ou da função para qual se candidatou. “Algo que eu percebo muito é que os mais jovens não estudam a empresa para a entrevista. Não sabe a sua área de atuação, um pouco sobre a história, ou muitas vezes ‘foi porque apareceu a oportunidade’ e deixa isso claro. Mentir nunca é a saída, por isso, estude a empresa que você pretende trabalhar, a internet hoje é uma ferramenta ótima para você descobrir o posicionamento, a história e muitos outros detalhes”, enfatiza.
Em contrapartida, há também aqueles jovens que não estão animados para conseguirem entrar no mercado de trabalho, mas que são “empurrados” pelos pais. “Sempre aparecem aqueles que estão mais preocupados com as redes sociais, celular, do que o que está acontecendo ao seu redor. Às vezes a mãe vem procurar uma vaga, enquanto o filho não demonstra interesse. Entrar no mercado de trabalho exige maturidade e é importante que o jovem tome consciência que quanto antes ele entrar, maiores são as suas chances de conseguir um bom emprego no futuro, pela sua qualificação. Existem também aqueles que reclamam que está difícil conseguir trabalho, mas não correm atrás de verdade. Isso precisa mudar, porque há vagas de Aprendiz, programas de estágio e muitas outras, inclusive dentro do município, porém, a primeira coisa que uma empresa leva em conta é o interesse”, diz.
“O que eu coloco no meu currículo?”
A primeira insegurança começa na hora de preencher o currículo, seja pela falta de experiência anterior ou por falta de cursos. Porém, Andrea diz que colocar qualidades reais, trabalho voluntário e participação em projetos ou grupos de jovens – Escoteiros, grupos de igrejas – podem ajudar a dar um destaque.
“Você pode colocar que é bom para trabalhar em grupo, que é uma pessoa pontual, responsável desde que de fato seja. Pode aprender a usar um programa como Excel, PhotoShop, trabalhar com edição de vídeo sem necessariamente fazer um curso pago. Hoje o YouTube está recheado de tutoriais ótimos. As empresas não querem certificados, elas querem pessoas que realmente saibam fazer as tarefas. Mesmo o inglês, pode ser aprimorado quando está jogando, assistindo filmes, ouvindo música”, aconselha.
Atenção aos erros de Português no currículo e também na fala. A dica é pedir para alguém corrigir antes do envio. “Para ter um vocabulário mais rico, a alternativa é muita leitura. É muito perceptível quando conversamos com uma pessoa que lê habitualmente e com uma que não lê. Você pode consumir notícias na internet, jornal, revista, fazer leitura de livros físicos ou até mesmo pelo celular”, recomenda.
“Não fui contratado para fazer isso”
Essa é uma frase que pode ser gerar um grande desconforto no ambiente de trabalho. “Há algumas pessoas que confundem a exploração com atividades simples e primordiais em um bom clima organizacional. Por exemplo, arrumar ou limpar a mesa é uma atividade muito importante para manter a organização no local, mas existem pessoas que levam como uma ofensa e logo respondem com um sonoro ‘não fui contratado para fazer isso’. São situações bastante complicadas e que podem, inclusive, manchar a reputação da pessoa. É óbvio que podem existir situações onde o jovem não deve se sujeitar a fazer determinada tarefa, porém, algo tão simples como esse não deve ser considerado como exploração”, descreve.
Outro fato marcante abordado por Andrea foram as afinidades com as tarefas as quais são repassadas para o novo colaborador. “Quando não se tem experiência, tudo é oportunidade para aprendizado. Se você trabalha no administrativo e precisará fazer a parte financeira, dedique completa atenção ao que está sendo feito, aprenda e absorva o máximo que puder. Não se mostre indisposto para a função ou fale algo negativo sobre você mesmo, como ‘eu não entendo nada de Matemática’. Tudo o que você aprende será levado para o futuro, tanto no profissional, como no pessoal também”, reforça.
As críticas também podem ser um ponto de tropeço. “Existem pessoas que não aceitam críticas, elas não estão abertas para reconhecer aspectos apresentados que podem ajudá-la a se tornar um profissional melhor. Nas críticas é possível perceber se existe a inteligência emocional, um aspecto que tem sido muito cobrado pelas instituições e está intrínseca ao autoconhecimento”, diz.
Papel dos pais
Não é só o jovem que tem responsabilidade sobre todas os itens abordados, mas seus pais também, pois a forma que eles são criados acaba afetando diretamente na formação do profissional também. “Um jovem que cresceu sob pressão terá chances muito maiores de apresentar quadros de ansiedade, depressão e transtorno de borderline – conhecido por se machucar para aliviar dores emocionais. É importante que os pais encontrem um equilíbrio entre as cobranças e a liberdade, evitem comparações e, principalmente, escutem seus filhos sobre o que eles querem fazer no futuro, quais seus sonhos. A força pode gerar frustração”, diz.
E sobre os comentários da Geração Nutella, Andrea defende: “Não gosto quando intitulam essa geração como Nutella. Vivemos em um mundo completamente diferente, onde há muito mais espaço para o diálogo aberto. Problemas muito parecidos também atingiram a geração dos pais, avós e bisavós dessa geração, basta olhar quantos profissionais frustrados existem. A grande diferença é que essa geração é muito mais aberta ao diálogo e acredita mais na liberdade”, finaliza.