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PALAVRAS
Poucas coisas são tão eficientes quanto as palavras para expressar sentimentos, comover e
19-08-201AS PALAVRAS
Poucas coisas são tão eficientes quanto as palavras para expressar sentimentos, comover e encantar.
As palavras têm o poder de despertar as emoções mais sublimes que abrigamos na alma, e de nos fazer sentir fortes, queridos e abençoados.
Mas também é verdade que poucas coisas podem ser mais capazes de magoar, ofender, machucar e arrasar uma pessoa do que uma frase dita irresponsavelmente. Às vezes não temos sequer noção do estrago que podemos provocar ao abrir a boca e, irrefletidamente, extravasar uma raiva momentânea.
Quando nos toca de leve uma ferida, quando descobre lá no fundo de nossa alma um sofrimento antigo, quando nos traz à presença uma parte de nós mesmos que tentamos evitar, uma palavra deixa de ser apenas um arranjo de sinais e transforma-se em injusta chicotada, bofetada cruel.
Que coisa nos pode suscitar maior sensação de alegria do que ouvirmos, dos lábios de uma pessoa, que somos graciosos, encantadores, inteligentes, sensíveis, importantes, queridos ou necessários?
Mas o que nos pode causar mais desgosto do que sabermos, pela boca de alguém, com uma súbita e cruel sinceridade, o quanto somos disformes, ridículos, atrasados, tolos, dispensáveis, inúteis ou desprezíveis?
Uma simples palavra que nos surpreenda em dia de melancolia pode devolver-nos o gosto pela vida - ou, em dia de festa, arrasar nossa alegria.
Uma palavra é sempre mais que a mera soma de letras e sons: é varinha mágica que nos pode resgatar do fundo de um poço, ou nos lançar no precipício e nos marcar para sempre.
Uma ferida em nosso corpo cicatriza com o tempo e até desaparece.
Mas a alma é como um vaso: se partida em mil pedaços por palavras insensíveis, jamais recobra o formato original.
Quarta-feira, 27 de abril de 1994