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Política

Campanha que junta lacres de latas de alumínio muda visão das indústrias

11-03-2011

Campanha que junta lacres de latas de alumínio muda visão das indústrias

Campanha que junta lacres de latas de alumínio muda visão das indústrias

11-03-2011

Um programa social desenvolvido por uma indústria de reciclagem, de arrecadação de lacres de latas e alumínio, para troca por cadeira de rodas, está mudando a visão das indústrias de alumínio do Brasil. Há anos as indústrias vêm desmentindo o valor comercial dos lacres, mas a campanha mostrou que os lacres valem, e muito.
Há cerca de três anos, uma das entidades beneficiadas com as cadeiras de rodas, é o Pequeno Cotolengo, de Curitiba, que já recebeu dezenas de cadeiras de rodas. O assunto voltou a ser objeto de contestação da Abal - Associação das Industrias de Alumínio do Brasil, após uma reportagem na última edição da Folha de Campo Largo, mostrando que um professor do Colégio Kennedy estava arrecadando os lacres, para comprar cadeiras de rodas para instituições de caridade.

Indústrias
Com a divulgação da campanha do professor do Kennedy, a Redação da Folha recebeu e-mail da Abal, com o seguinte teor:
Caro editor: Escrevo em nome da Associação Brasileira do Alumínio - ABAL, para esclarecê-lo sobre o valor dos lacres das latas de alumínio para a indústria de reciclagem.  Eis o posicionamento oficial que a ABAL, que representa as empresas de transformação e de reciclagem de alumínio, as quais são responsáveis por 80% do volume do metal consumido no país.
Segundo a ABAL: As empresas de reciclagem de alumínio reciclam a lata inteira (com ou sem o lacre), mas não compram o lacre separadamente. Isso porque o anel da lata é muito pequeno e pode se perder durante o processo de transporte e peneiragem do material a ser reciclado, ou mesmo durante o processo de fundição. Daí ser importante manter o anel preso à tampa, razão pela qual foi adotado o sistema atual de abertura para as latas de alumínio chamado originalmente de stay-on- tab, conhecido como "tampa ecológica".
O lacre, assim como o corpo da lata, é feito de uma liga de alumínio, com alto teor de magnésio. Ao contrário do que sugerem os boatos, não entram em sua composição ouro, prata e nem platina. E por conter alto teor de magnésio, o lacre da lata tem alta oxidação nos fornos que fundem o metal, reduzindo o rendimento da reciclagem e suas chances de ser reaproveitado isoladamente.
O motivo do meu contato deve-se à reportagem publicada na última sexta-feira (4/3/11) no site da Folha de Campo Largo, em que o professor de um colégio da cidade está mobilizando uma campanha para coletar os tais lacres das tampinhas, e que o jornal está ajudando a divulgar.  
A matéria não deixa clara a intenção final desses milhares de lacres. Se será para artesanato ou para outro fim senão o de vendê-lo às indústrias de reciclagem. Pois como você leu acima, os milhares de lacres coletados e entregues em PETs provavelmente não serão adquiridos por essas indústrias, gerando um problema de logística e de armazenamento para o professor e um passivo ambiental ao Município.
A ABAL já esclareceu esse boato em outras publicações como em matéria da Folha de S. Paulo (2003). http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u70505.shtml
A revista Alumínio (edição 25, IV Trimestre 2010), editada com apoio da ABAL, também já esclareceu de forma bem simples esse mito, respondida por um profissional de uma grande indústria de reciclagem de alumínio, por que não é recomendável remover o lacre da lata.
É interessante que você leia: http://www.revistaaluminio.com.br/textos.asp?codigo=11351
 Outros sites que explicam o pouco valor dos lacres para a indústria de reciclagem são:
http://cacadordemisterio.blogspot.com/2009/11/anel-de-lata-por-computador.html
http://www.sucatas.com/curiosidades.shtml

Tem valor
Intrigada com o assunto, a Equipe da Folha de Campo Largo verificou as matérias indicadas e não se convencendo, entrou em contato com o Pequeno Cotolengo, que confirmou ser uma das entidades beneficiadas com as cadeiras de rodas trocadas por garrafas pet cheias de lacres (cada 140 garrafas, o equivalente a 80 quilos, igual a uma cadeira de rodas no valor de R$ 500,00).
A Assessoria de Imprensa do Pequeno Cotolengo informou que a empresa que desenvolvia a campanha era a Frato, de Curitiba. Tentamos contato com a Frato, mas não recebemos retorno. Entretanto, identificamos o site da empresa, onde toda a campanha é explicitada, informando o excelente resultado da iniciativa e nominando as entidades beneficiadas, dezenas.
No site da empresa, www.frato.com.br, tem destaque a informação de que "o simples ato de juntar os lacres já se transformou em mais de 600 cadeiras em três anos".
A Reportagem voltou a se comunicar via e-mail com a Abal, passando as informações sobre a campanha no Paraná. Como resultado, a Abal enviou e-mail onde reconhece que existe a campanha e que, de alguma forma, os lacres têm um valor comercial. É a seguinte a íntegra do e-mail:

Senhor editor:
- De fato vocês têm razão. Vimos o site da Frato e até falamos com a responsável do marketing de lá. Devemos agora continuar a investigação para saber o fim desses lacres, mas parece que são mesmo reciclados. Preciso realmente saber se esse processo é industrial, antes de mudarmos nosso [Abal] ponto de vista sobre o assunto. Agradeço sua pronta resposta, que foi bastante esclarecedora.