Iniciou na tarde desta terça-feira (22) a audiência do homem denunciado criminalmente pelo Ministério Público do Paraná por infectar o próprio companheiro com o vírus HIV. Conforme a denúncia – apresentada pela 2ª Promotoria de Justiça de Campo Largo, o réu omitiu do companheiro o fato de ser portador do vírus, contaminando-o e provocando assim sua morte.
De acordo com matéria publicada em maio deste ano, o MPPR apontou no caso o chamado “dolo eventual”, quando o agente assume o risco de provocar o resultado delituoso. Alega a Promotoria de Justiça que, “mesmo sabendo ser portador do vírus HIV […], o denunciado não comunicou a vítima sobre a enfermidade por ele transmitida, privando-a de um tratamento adequado e fazendo com que a doença evoluísse, acarretando a sua morte.” A vítima faleceu em outubro de 2022, após nove anos de convívio com o acusado.
Na denúncia, o Ministério Público indica as qualificadoras de uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e crime praticado com emprego de meio cruel, tendo em vista o intenso sofrimento a que ela foi submetida.
A Folha conversou com a irmã da vítima que contou um pouco sobre como se estendeu a situação até a descoberta da contaminação por HIV. “Nós somos uma família simples e eles começaram a se relacionar quando meu irmão ainda era menor de idade. Ele era uma pessoa da nossa confiança, já tinha mais de 30 anos, tinha a própria empresa e levou meu irmão morar com ele. Quando meu irmão começou com os sintomas, sentia fortes dores de cabeça e lembro que o companheiro comprava muitos medicamentos para ele, mesmo sem saber o que ele tinha. Inclusive dava remédios fortes. O que me entristece saber é que esse homem sabia que tinha a doença, mas impediu o meu irmão de buscar o tratamento; ele poderia estar vivo.”
Ela conta que os sintomas mais intensos iniciaram em 2020, na época da pandemia de Covid-19, que envolviam além das dores, tontura, desmaio e crises convulsivas. “Em 2021 ele chegou a tomar morfina para as dores fortes. Quando a situação ficou extremamente grave, ele foi levado para um hospital bem longe e nossa família não conseguia ter contato com a equipe médica, tudo era sempre intermediado por este homem, que no último internamento chegou a se apresentar como primo do meu irmão para a equipe”, relembra.
Somente no último internamento a equipe médica identificou a possibilidade de ele ter sido contaminado pelo HIV. “Neste momento, meu irmão já estava em estado terminal, com AIDS, e já não tínhamos o que fazer. Desmoronei quando recebi o diagnóstico e em seguida perdemos ele. Hoje nós queremos justiça”, finaliza.