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Opinião

Afinal, é a história ou a narrativa que importa?

Dia 31 de agosto de 2016 é uma data marcada pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Afinal, é a história ou a narrativa que importa?

Dia 31 de agosto de 2016 é uma data marcada pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Não foi um fato isolado,  muito pelo contrário, foi uma situação que foi marcada pelos protestos nas ruas, nas redes sociais e, quem sabe, até mesmo o início de uma grande polarização na política do país. Foi completamente diferente do que aconteceu quando o ex-presidente Fernando Collor de Melo foi deposto.

Um exemplo desta diferença se destaca por exemplo nas votações, quando após seis horas de sessão e por votação nominal, o Plenário da Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment contra Dilma por 367 votos a favor, 137 votos contra e 7 abstenções. No impeachment de Collor, a Câmara autorizou a abertura do processo por 440 votos a favor, apenas 38 contra e 23 ausências. Equilíbrio em um e quase totalidade em outro caso.

O que chama atenção é que em 2023, sete anos após Dilma ser deposta, o assunto do impeachment volta à tona, no governo Lula. A intenção é promover uma "devolução simbólica" do mandato da ex-presidente, em projeto apresentado pelo deputado federal Lindberg Farias - aquele mesmo que teria embolsado R$ 4,5 milhões para o caixa 2, conforme investigação da Operação Lava-Jato - nesta segunda-feira (25). O próprio presidente Lula já se manifestou favorável a essa "reparação histórica" ainda no sábado (23). Segundo o texto, Dilma teria perdido o mandato em 2016 por conta de um "hipotético crime de responsabilidade que, sob as perspectivas fática e jurídica, nunca aconteceu", colocando a decisão pela cassação foi tomada por "insatisfação de seus opositores".

A grande questão de um projeto como este insistir em uma história de que o impeachment foi um "golpe" dado no governo Dilma, quando na verdade tratou-se de manobras contábeis, nas quais o governo atravessava repasses a bancos federais responsáveis por pagamentos de programas sociais; ou seja, era quase como forçar os bancos a emprestarem dinheiro à União, maquiando a situação real do país, resultando nas famosas pedaladas fiscais. Importante lembrar que Dilma teve suas contas reprovadas pelo Tribunal de Contas da União e cometeu crime de responsabilidade, punido com o impeachment, lembrando ainda que a ex-presidente foi beneficiada, de certa maneira, quando teve seus direitos políticos mantidos, não ficando inelegível por oito anos, como apresenta a Lei.

Lula é muito adepto ao termo "narrativas" e é desta forma, construindo discursos, que ele segue influenciando pensamentos a cerca do que aconteceu no país. Foram levantados casos de corrupção envolvendo o alto escalão petista ao longo de vários anos de governo que o país atravessou e nenhuma maneira isso se tornaria certo, independente da forma como isso seja apresentado. Não podemos ocultar parte importante da história do país, onde medidas foram tomadas no combate à corrupção para aliviar egos doídos. Já dizia Maquiavel, "é fácil persuadir o povo de algo, difícil é manter essa persuasão", porque a verdade sempre virá à tona.