Uma das práticas que mais se aprende ao longo da vida é a necessidade de respeito e preservação da natureza, buscando manter a vida e os ecossistemas em equilíbrio. Retornando às raízes e mostrando uma opção além da monocultura, a agricultura sintrópica tem como princípio a organização, integração, equilíbrio e preservação do ambiente, permitindo que o manejo realizado seja sustentável, respeitando cada um dos seres vivos presentes ali e conseguindo colheitas de alimentos mais saborosos e sem a presença de agrotóxicos.
Quem explica mais sobre o assunto é o professor e doutor em Produção Vegetal, José Luiz Marcon Filho, que também presta consultorias sobre o assunto e pratica a agricultura sintrópica na região de Bateias. “Precisamos entender que a agroflorestal é um sistema que considera o todo, desde às árvores, arbustos e todas as plantas, os animais, desde os menores até os maiores, e também a produção do alimento. Ele parte da observação do bioma, tentando imitá-lo. São ações que promovem a vida de todos, inclusive a nossa.”
Um dos pontos apresentados pelo professor é a forma como os insetos e animais menores, muitas vezes vistos como “pragas”, são na verdade indicadores da necessidade de melhoramento do solo. “Nós buscamos equilibrar o ambiente e o solo. Utilizamos algumas armadilhas físicas que não apresentam risco à vida, trabalhamos a matéria orgânica para nutrir o solo e fazemos algumas barreiras físicas, que dificultam a entrada destes animais, com todo o devido respeito”, ressalta.
Produção alta e de qualidade
Embora estejamos acostumados a ver grandes campos de monocultura – trigo, soja, milho e outros – plantados e tenhamos em mente que são produções em larga escala, com várias toneladas de alimentos produzidas, o que é real, o professor destaca a alta produção na modalidade sintrópica, que fornece até 100 toneladas de alimento por ano, por hectare.
Ele também é responsável pela plantação de uvas para uma vinícola da região e conta que antes desta intervenção acabavam sofrendo com a presença de pragas e doenças nos parreirais. “Quando propomos esse estilo de cultivo, buscamos equilibrar o solo e conseguimos reduzir em 70% o uso de agrotóxicos, com um aumento de 10% na produção, além de uma melhoria muito significativa no fruto em si, que produz vinhos melhores”, explica.
“A agricultura não é competição ou pressa, muito pelo contrário, é conhecimento, conseguindo um solo fértil e produtivo a longo prazo. Quando você se alimenta de um produto de origem sintrópica, percebe que ele é extremamente superior em sabor e qualidade do alimento em si, melhorando a saúde do nosso corpo também”, completa.
Como ter uma agricultura sintrópica
Para grandes produções, o professor recomenda o auxílio de um técnico, que consegue examinar mais a fundo as necessidades do solo. Entretanto, comenta que é possível realizar em hortas caseiras ou urbanas, mesmo que o espaço seja pequeno, apenas buscando conhecer quais tipos de plantas são adequadas para aquele solo onde será inserida e atenção à presença de formigas e outros insetos, que podem ser indicativos de desnutrição no solo.
Projeto Semear
Um dos projetos encabeçados pelo professor José e sua família é o Semear, que busca promover vivências e experimentação no sítio, contato com os produtores a fim de ensinar este plantio. Atualmente, o projeto trabalha com plantio de ervas medicinais, voltado para o processo regenerativo.
O sítio começou do zero, aplicando técnicas de bioconstrução e a cultura sintrópica, localizado em Bateias. “Nossa proposta é a reconexão com o meio ambiente, trazendo benefícios a todos os envolvidos, algo que já era o propósito da natureza desde os primórdios da humanidade”, finaliza.
foto: Gustavo Munhoz