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Saúde

Casos de raiva no município levantam alerta e veterinária recomenda atenção à vacinação dos animais

Em seres humanos a doença quase sempre é fatal, explica Dra. Isabella; jamais toque em um animal com suspeita de raiva

Casos de raiva no município levantam alerta e  veterinária recomenda atenção à vacinação dos animais

Foi divulgado pela Prefeitura de Campo Largo, por meio do Departamento de Vigilância em Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde, a confirmação da presença de um terceiro morcego com o vírus rábico, e novamente na área urbana de Campo Largo. Os casos anteriores foram em agosto de 2022, e em fevereiro de 2023.

Segundo a publicação da Prefeitura, uma moradora da região do Bela Vista entrou em contato com a Vigilância porque o pai dela encontrou um morcego voando durante o dia. A equipe foi até a residência e recolheu o animal morto para análise no Laboratório Central do Estado do Paraná (Lacen). O resultado foi positivo para vírus rábico.

A Folha conversou com a médica veterinária Isabella Lunardon Kasdorf (CRMV/PR 10691), que classificou a situação como preocupante. “A presença desse vírus na área urbana nos indica que a cobertura vacinal está baixa e a doença, que muitos acreditavam ter caído no esquecimento, está cada vez mais próxima. É um alerta para que todos os responsáveis por animais de pequeno e grande portes verifiquem se as vacinas estão em dia e possam protegê-los.”

Dra. Isabella explica que a raiva é uma doença aguda e fatal, causada por vírus da família Rhabdoviridae. Afeta mamíferos domésticos e selvagens e também humanos, sendo transmitida principalmente pela mordedura de um animal contaminado. O período de incubação é variável entre as espécies, desde dias até anos. Nos cães e gatos, a morte do animal acontece, em média, entre cinco e sete dias após a apresentação dos sintomas.

“A vacinação antirrábica é a única forma de prevenção efetiva da doença. Filhotes de cães e gatos devem ser vacinados em média aos quatro meses de idade e deve ser feito reforço anualmente. Somente uma alta cobertura vacinal pode manter o vírus rábico afastado. Por isso, volto a frisar que vacinar é fundamental. Não podemos permitir que uma doença tão grave volte a fazer parte das nossas vidas. Não há tratamento após a contaminação, mas a prevenção é simples e muito necessária.”

Sintomas e prognóstico em animais
Segundo a médica veterinária, os sinais clínicos são progressivos em todas as espécies. “Nos cães e gatos, após o período de incubação, o curso da doença é divido em três fases. Na fase ‘prodrômica’, que antecede o aparecimento dos principais sintomas, dura um ou dois dias e vemos irritabilidade, ansiedade e mudanças gerais de comportamento”, explica.
A próxima fase é a “furiosa”, quando ocorrem comportamentos muito incomuns - como olhar vago ou selvagem, fotofobia (sensibilidade à luz), tremores musculares, falta de coordenação motora, convulsões, salivação intensa, entre outros, ressalta Dra. Isabella.

“A fase ‘paralítica’ geralmente se inicia em torno do quinto dia da doença clínica, causando paralisia generalizada, coma e morte. Os gatos ocasionalmente desenvolvem a forma paralítica logo após a fase prodrômica, podendo progredir para o coma e morrer por insuficiência respiratória. A morte geralmente ocorre de três a quatro dias após o início dos sinais clínicos, embora alguns animais sobrevivam por 10 dias ou mais”, pontua.
Já nos animais herbívoros, como bovinos e equinos, Dra. Isabella explica que a raiva se manifesta com sintomas de “paralisia, queda, tremores, movimentos como se estivessem pedalando e dilatação da pupila, não causando grandes alterações comportamentais”.

Ela orienta que em caso de animais com alterações neurológicas, deve-se buscar atendimento veterinário em caráter emergencial. “Caso o médico veterinário, após avaliação clínica, confirme a suspeita de raiva, é acionada a Vigilância em Saúde do município, e dadas as orientações específicas para o caso. Não há nenhum método diagnóstico sensível o bastante, que possa ser feito antes da morte do animal. O teste diagnóstico definitivo é feito direto em tecido cerebral, coletado após necropsia”, explica.

“Infelizmente, não há tratamento. O animal com raiva deve ser colocado em quarentena ou submetido à eutanásia – conforme orientação do Ministério da Saúde. Lembrando que existem outros diagnósticos possíveis para quadros neurológicos, por isso a avaliação do paciente pelo médico veterinário é fundamental”, ressalta.

A culpa não é do morcego
“Todos os mamíferos podem se infectar e transmitir a raiva, mas eles também sofrem e morrem por ela, então não estigmatize, eles são vítimas também e animais extremamente importantes para o equilíbrio ecológico. Lembrando que são protegidos por leis ambientais”, ressalta a bióloga da Secretaria Municipal de Saúde, Virgínia Prado.

Dra. Isabella orienta que ao ver um morcego caído ou voando durante o dia, deve-se acionar a Vigilância em Saúde. “Caso sejam encontrados em situação anormal (caídos no chão ou voando durante o dia) ou mortos, de forma alguma devem ser manipulados – não se deve encostar no animal. É preciso impedir o contato de outros animais com esse morcego, colocando um balde ou algo similar sobre o morcego, e aguardar as orientações da Vigilância”, explica.

A Prefeitura de Campo Largo também divulgou informações importantes para evitar proliferação de morcegos. O primeiro passo é verificar ao entardecer os espaços abertos por onde eles entram e saem. Deve ser feita a vedação definitiva das frestas, deixando aberta apenas aquela utilizada para a saída dos morcegos. Então, é preciso aguardar a saída dos animais ao entardecer e vedar essa abertura com material provisório (jornais, espumas ou panos). Com esse procedimento os animais que saíram estarão impedidos de retornar ao abrigo.

Na tarde do dia seguinte, é necessário retirar o material provisório, para permitir a saída de outros que haviam permanecido no abrigo. Repita até verificar que não tenham mais animais no forro. Vede definitivamente a abertura de entrada e saída dos morcegos. Após a vedação, as fezes devem ser umedecidas com água e recolhidas. Durante esse procedimento é necessário utilizar uma máscara que proteja o nariz e a boca, bem como usar óculos e roupas compridas.

Ressalta ainda que entre setembro e abril é o período reprodutivo dos morcegos. Por isso, tentar retirá-los do forro nessa época não é eficiente, uma vez que os filhotes (que ainda não voam) podem permanecer no local e vir a óbito. Os morcegos são animais importantes para o equilíbrio ambiental e são protegidos por lei (Lei 9605/98), então matá-los é um crime ambiental passível de penalidades.

Raiva em humanos pode ser fatal
Dra. Isabella enfatiza que a raiva pode ser transmitida ao homem por meio da saliva de animais infectados, mordedura e eventualmente por lambedura ou arranhadura. “Os sintomas incluem dor intensa na garganta, cefaleia, fotofobia, hidrofobia, dificuldade de deglutição e alterações de comportamento. A raiva em humanos é quase sempre fatal”, alerta.

Ao sofrer um ataque de animal com suspeita de estar infectado ou desconhecido, a médica veterinária orienta que de imediato seja realizada a lavagem da ferida com água e sabão, por no mínimo cinco minutos. Após a lavagem, busque procurar atendimento médico de urgência, onde será realizada a profilaxia antirrábica, que “consiste em um protocolo com várias doses de vacina e demais medicações necessárias, como antibióticos e anti-inflamatórios”.