Estimativa é que cerca de 10 milhões de brasileiros sofram com essa condição, mas tratamento fisioterápico e médico podem ajudar
Em 2023 foi realizada a primeira Semana Nacional para Prevenção e Tratamento da Incontinência Urinária e o Dia Nacional da Incontinência Urinária, uma proposta aprovada e instituída pela Câmara dos Deputados ainda em 2022, em referência à data internacional, celebrada em 14 de março.
No Brasil, a situação é bastante recorrente, atingindo cerca de 10 milhões de brasileiros, que apresentam algum grau de incontinência, conforme divulgado pelo Boston Cientific. Entretanto, a condição ainda é um tabu, que prejudica a busca por tratamento adequado, apresentando queda de até 60% na procura a partir de 2020. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o problema atinge até 45% das mulheres e 15% dos homens acima dos 40 anos.
Esse tabu é visualizado com frequência, conforme traz a Dra. Andressa Paulart, fisioterapeuta, com especialização em Fisioterapia Pélvica. “Muitas mulheres se sentem presas à própria casa, pois têm medo de sair e não encontrar um banheiro a tempo ou porque se sentem desconfortáveis em usar absorventes. A incontinência urinária é a perda involuntária de urina, seja em gotas ou em jatos. É mais frequente em mulheres devido à anatomia feminina, mas também é presente em homens. O paciente deve procurar ajuda assim que apresentar os primeiros sinais. Lembre-se, perder urina mesmo que uma gota não é normal, assim como acordar durante a noite para ir ao banheiro, também não deve ser encarado como algo normal.”
Ela explica que existem vários fatores, desde hormonais até obesidade, que podem influenciar nos casos de incontinência. “A Covid-19, por exemplo, foi um dos fatores que aumentou muito os casos de incontinência devido à tosse crônica, pois a tosse causa pressão intra-abdominal, sendo capaz de exceder a pressão máxima de fechamento uretral, ocasionando assim a perda de urina. O tratamento envolve desde crianças até idosos, compreendendo todas as faixas etárias. A maior parte do tratamento de crianças é para enurese (xixi durante o sono), mas também apresentam bexiga hiperativa, micção disfuncional e postergação da micção”, pontua.
Algumas doenças que podem influenciar o surgimento da incontinência urinária como as doenças neurológicas, como por exemplo o Parkinson, Alzheimer ou sequelas do Acidente Vascular Cerebral (AVC), entre outros casos específicos.
A bexiga hiperativa também pode acompanhar casos de incontinência urinária, principalmente quando apresenta a urgência e não consegue chegar a tempo perdendo urina no caminho ao banheiro, e é caracterizada pelo desejo súbito e urgente de urinar, e, também pela necessidade de ir várias vezes durante o dia ou à noite no banheiro.
Existe prevenção
A fisioterapeuta relata que dentro da prevenção, a Fisioterapia Pélvica acaba tendo papel fundamental. “O fisioterapeuta pélvico não atua somente quando o indivíduo já tem uma disfunção e sim na prevenção da mesma. Exercícios de fortalecimento, coordenação e resistência para a musculatura do assoalho pélvico fazem parte deste trabalho, assim como o uso de recursos, que incluem a eletroestimulação, biofeedback pressórico ou eletromiográfico e muito mais. O trabalho da Fisioterapia Pélvica infelizmente ainda é pouco conhecido, mas é muito importante para trazer qualidade de vida para estas mulheres ou homens e fazer com que se sintam livres”, retrata.
Tipos de incontinência e tratamento
Ela comenta que os três mais comuns são a incontinência urinária aos esforços, a incontinência urinária de urgência e a incontinência urinária mista. A primeira, refere-se à perda de urina ao fazer qualquer esforço como tosses, espirros, risadas ou erguer pesos.
“Já a incontinência urinária de urgência acontece quando o paciente tem uma vontade súbita de ir ao banheiro para urinar, mas não consegue chegar a tempo e acaba perdendo urina antes, caracterizada também por várias idas ao banheiro durante o dia ou a noite. E a incontinência urinária mista se apresenta quando o paciente é diagnosticado com os dois tipos citados anteriormente, ou seja, a incontinência urinária aos esforços e incontinência urinária de urgência”, retrata.
Dra. Andressa explica que a fisioterapia pélvica deve ser um dos primeiros recursos para o tratamento da incontinência, pois ela é reconhecida como a primeira linha de tratamento conservador. Mas além da fisioterapia pélvica, há também o tratamento medicamentoso para incontinência de urgência e o cirúrgico para incontinência aos esforços, os dois com médicos especialistas.
“Todo paciente sempre quer saber sobre a cura, mas não sobre o processo que deverá passar para alcançar o seu objetivo. O tratamento demanda tempo e dedicação do paciente, pois somente os atendimentos no consultório não são suficientes. Ele deverá sim se dedicar na sua casa também, realizando os exercícios propostos por seu fisioterapeuta, para assim conquistar seu objetivo que é ter a continência novamente. Não são todos os casos que podem ser resolvidos com a fisioterapia, pois algumas doenças podem causar danos severos e irreversíveis ao trato urinário, sendo necessária a intervenção cirúrgica”, finaliza.