Sabado às 23 de Novembro de 2024 às 02:30:32
Policial

Delegado titular fala sobre desafios em baixar a criminalidade e número de homicídios na cidade

Uma das primeiras tratativas está sendo a construção de mais uma delegacia, voltado ao atendimento de vulneráveis, em futuro próximo

Delegado titular fala sobre desafios em baixar a criminalidade e número de homicídios na cidade

Já mais ambientado com Campo Largo, Dr. Ademair Braga Jr., delegado titular da 3ª Delegacia Regional de Polícia de Campo Largo, recebeu a Redação da Folha de Campo Largo para contar suas primeiras percepções sobre a cidade e a criminalidade nesta região.

Dr. Ademair é mineiro e possui vasta experiência como delegado de Polícia, há mais de 15 anos exercendo a profissão na Polícia Civil do Paraná. Questionado sobre como conhecia Campo Largo no meio policial antes de chegar à cidade, ele relata que era vista como um local tranquilo, mas preocupante visto ao aumento da criminalidade no último ano. “Essa fama foi manchada em 2022 pelo aumento absurdo de homicídios. Nós saltamos de uma média de 30 homicídios por ano, para 53 homicídios, cerca de 70%, quase o dobro da média histórica. Então, embora a fama seja boa, a preocupação com estes índices foi tanta que foram enviados dois delegados para cá, pois junto a mim também trabalha o Dr. Thiago Soares.”

A taxa de homicídios de 2022 foi bastante alta, chegando a ser superior a uma morte por semana registradas. Dr. Ademair explica que a causa do aumento deve ser estudada, mas que há fatores que influenciam o aumento da criminalidade, especialmente ligado ao tráfico de drogas, que ainda é o grande vilão da Segurança Pública. “Por ele se rouba, se mata, então temos toda uma lógica sistêmica em torno do tráfico de drogas. O fator preponderante para propiciar essa criminalidade permanente e crescente pode ser o fluxo da rodovia. Sabemos que o acesso que se dá ao interior, Curitiba e região e ao próprio Porto de Paranaguá – pelos contornos, se dá por Campo Largo. Por óbvio a cidade acaba sendo um depósito de drogas, o que pode facilitar – consequentemente – a distribuição destas, causando um aumento no número de violência”, explica.

Ele pontua que a cidade atravessa um momento específico e que a maioria dos homicídios que aconteceram em Campo Largo estão ligados diretamente ao tráfico de drogas, e que embora este seja o fator principal, ainda não é o único motivo. “Quando se tem uma causa principal, o melhor é combater este grande motivo primeiro, para então também trabalhar estas outras situações”, ressalta. “Quando a prisão destes grandes envolvidos acontecem, já começa a dificultar o envolvimento de mais pessoas com o tráfico dentro da cidade, por exemplo”, completa.

2023 e os seus desafios
O início de 2023 acabou sendo bastante violento, com sete homicídios sendo registrados. O último aconteceu no dia 04 de fevereiro, na Vila Pompéia. Coincidentemente, Dr. Ademair e Dr. Tiago assumiram a delegacia em 06 de fevereiro. Questionado sobre a relação do fato de não terem acontecido mais mortes neste período, que chega a quase um mês, Dr. Ademair explica que existe um histórico, mas acredita que houve uma diminuição porque aconteceram prisões importantes de pessoas envolvidas com homicídios já na primeira semana que os delegados chegaram à cidade. “Por ocasião do trabalho que vinha sendo feito, acabaram sendo efetuadas essas prisões, nos levando a quase 30 dias sem registro de novos homicídios já este ano”, diz.

Dr. Ademair junto de sua equipe teve como sua última cidade o município de Fazenda Rio Grande, e conta que enfrentou um panorama bastante parecido. “Tinha um número crescente de homicídios e baixa solução, onde aumentamos o número de casos solucionados. Saímos de 60 homicídios em 2018 para 36 homicídios em 2022, com índice de solução de 25% em 2018 para 83% em 2022”.

Em Campo Largo o desafio é parecido para o ano de 2023. Foram 53 homicídios em 2022, com índice de solução de 32%. “É preciso compreender o serviço da Polícia Civil, que previne a criminalidade por outra via. O trabalho ostensivo da Guarda Municipal e Polícia Militar é de prevenção, que por hora gera repressão da criminalidade. Já a PC faz o trabalho investigativo, que leva à prisão e também gera repressão. Consequentemente os dois atuando juntos ajuda na queda do número de crimes”, ressalta.

“Nossa expectativa é continuar o trabalho, tomar as rédias desta escalada desenfreada de criminalidade, reprimir os que vierem a ocorrer – pois é utopia dizer que eles não vão acontecer novamente – e ir traçando metas, com o maior número de solução possível, a medida dos passos que forem dados”, completa.

Investigação
Dr. Ademair explica que o fator preponderante para a elucidação dos crimes são as informações colhidas no momento. “Com base nas informações colhidas no momento é que iniciamos a investigação, daí a importância do trabalho desempenhado do local da morte. Isso não significa que depois do ocorrido não se continue a investigação, ela segue sendo realizada ainda que tenha obstáculos do tempo e o efeito deletério das testemunhas, por exemplo”, explica.

Dr. Ademair confirma que a investigação dos crimes ocorridos em 2022 continuam sendo realizadas, já sendo analisados grande número de tentativas de homicídio e homicídios cometidos no ano passado. “Um exemplo é que um adolescente foi preso na semana que chegamos aqui e ele era o responsável por seis homicídios ocorridos em 2022, o que é corriqueiro e usual no meio do tráfico, uma vez que eles utilizam esses jovens como ferramenta”, completa.  

Na última segunda-feira (27), Dr. Ademair esteve visitando as instalações do Ciosp e diz que pretende retomar a integração de maneira profícua, como ferramenta de investigação. “Quando eu olho estes equipamentos, dentro da Segurança Pública, os vejo do âmbito investigativo, analisando o indivíduo, pois é para isso que fui treinado. O Ciosp tem uma necessidade hoje, voltada para a prevenção, e eu tenho outra, voltada para o investigativo e elas vão se integrar, o que é bastante interessante, especialmente pelo trabalho em conjunto com outras forças de segurança também, que é o futuro da Segurança Pública”, explica.

Divisão de trabalhos
A vinda do Dr. Thiago, explica Dr. Ademair, não aconteceu somente por conta do aumento da taxa de homicídios, mas o fator contribuiu. Outras cidades da Região Metropolitana de Curitiba também receberam mais delegados advindos de concurso público que nomeou mais de 140 novos delegados no Estado.

Atualmente, Dr. Ademair explica que ele ficará responsável pela parte de Homicídios e o Dr. Thiago irá investigar os demais crimes, não impedindo que os dois delegados atuem juntos em casos diversos.
“No tocante à violência domésticas nós tivemos contato com os números e analisamos que não são tão grandes – dentro dos casos denunciados, medidas protetivas emitidas, entre outros fatores, sendo um dos menores na RMC. Então o Dr. Thiago irá fazer um workshop relacionado ao combate à violência contra a mulher, também por conta do Dia Internacional da Mulher e a ideia é implementar uma delegacia – não só voltada ao atendimento de mulheres – mas um Centro de Atendimento aos Vulneráveis, que também envolve crianças, adolescentes e idosos. Essa foi uma tratativa que fizemos ao chegar aqui, com lugar apropriado para atendimento ao público. Em princípio, deve ser construído um prédio próximo ao Fórum”, finaliza.