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Saúde

Menina de apenas 11 anos chega a 240Kg e passa por cirurgia bariátrica no Hospital do Rocio

Ainda não há conhecimento da equipe médica local sobre outro caso como este no mundo, com essa gravidade.

Menina de apenas 11 anos chega a 240Kg e  passa por cirurgia bariátrica no Hospital do Rocio

Uma infância bastante limitada pelo excesso de peso e uma doença rara descoberta recentemente, mas que desde os 02 anos de idade fez com que Milena Nos sofresse com a obesidade. Sem ter a sensação de saciedade após comer, a compulsão sempre foi inevitável e fez com que a menina, hoje com 11 anos, chegasse aos 240Kg. A situação chegou até o Hospital do Rocio, onde foi realizada uma cirurgia bariátrica pelo Dr. Paulo Nassif e ela teve acesso a um atendimento multidisciplinar.

Na manha desta quinta-feira (15), o Hospital do Rocio realizou uma coletiva de imprensa para explicar sobre este caso raro. Dr. Paulo Nassif, cirurgião do aparelho digestivo e responsável pelo Serviço de Cirurgia Bariátrica do Hospital do Rocio, detalhou que desde pequena Milena foi acompanhada pelo Hospital Pequeno Príncipe. Com 09 anos de idade, ela foi encaminhada para que uma equipe cirúrgica fizesse uma avaliação para somar aos resultados já conhecidos neste tratamento realizado. Mesmo sendo acompanhada, nos últimos anos ela ganhou mais de 50Kg.

Dr. Nassif explica que recentemente um teste genético conseguiu identificar a causa da obesidade: uma mutação do gene MC4R, o qual codifica o receptor de melanocortina 4. “Um descontrole cerebral em que a Milena não consegue ter a saciedade. Ela ingere muitos alimentos calóricos e logo depois ela tem fome de novo. Não consegue ter este controle.


Dr. Paulo Nassif foi responsável pela cirurgia da Milena Nos (11)

Na idade dela, é uma síndrome rara e grave e com isso desenvolveu muitas doenças, como Diabetes, Hipertensão, Dislipidemia (aumento do colesterol e triglicerídeos), apneia grave, além de dificuldade de inclusão social, de ir à escola e se relacionar com as pessoas, tendo grande impacto emocional”, declara.

A cirurgia não cura esta mutação, mas a necessidade da cirurgia – conforme o especialista enfatiza - é diminuir o risco de mortalidade que ela apresentava, como também proporcionar melhorias em relação a todas as doenças. Agora apostam em melhor qualidade de vida para ela, com diminuição do risco de mortalidade. Neste momento aguardam por medicação que será enviada dos Estados Unidos, pois não há tratamento no Brasil para este caso. Inclusive foi feito pedido no Ministério da Saúde para que antecipe a chegada dos remédios.


Coletiva de imprensa com o Dr. Paulo Nassif e Dr. Ricardo Risson

Resultados positivos
O Dr. Ricardo Risson, intensivista e coordenador das UTIs do Hospital do Rocio, presente na coletiva, explicou que ela foi acolhida na UTI e que isso foi muito importante em todo este processo, o qual envolveu nutricionista, fisioterapia intensiva respiratória e motora, psicóloga, enfermagem e equipe médica. Possibilitou o controle dos fatores de risco e melhor resultado cirúrgico. “Recebemos uma criança triste que hoje está feliz”, declara, citando que foi um desafio para todos por ser uma situação desconhecida. Acreditam que a cirurgia teve impacto na qualidade de vida dela, reincluindo à sociedade.

A perda de peso ainda é pequena porque são poucos dias de cirurgia, cerca de uma semana. A estimativa de uma cirurgia bariátrica em geral é perder de 35 a 40% do peso total, alguns perdem mais, mas no caso dela não é possível afirmar. Importante destacar que os exames já estão muito melhores após a cirurgia. Quando ela foi internada não conseguia nem andar pela dificuldade motora e também pela falta de ar. Segundo Dr. Nassif, agora está diminuindo os aspectos inflamatórios no organismo dela, já consegue levantar da cama sozinha, anda e até mesmo se integrou às atividades do hospital, onde se sente em casa, acompanhada da família.

“Não existem tratamentos específicos para isso, apenas que visam auxiliar essa situação, minimizando o que a alteração genética causa nela. Ela ainda está em uma fase de recuperação”, frisa, enaltecendo que a cirurgia foi realizada porque há também um grande envolvimento da família que cuida dela conforme ela precisa.

Dr. Nassif comenta que Milena é uma menina muito esclarecida, fala pra não colocar comida perto dela porque senão ela come mesmo, coloca normas em casa para maior controle. Mas até pela falta de saciedade acaba tendo irritabilidade, o que também será tratado. Uma das conquistas foi ela conseguir dormir a primeira noite sem remédio, após a cirurgia.

Nas normas do Ministério da Saúde não se contempla uma cirurgia bariátrica nesta idade, mas por ter um fator de risco de vida muito grande, foi pedido no Ministério Público a realização. Envolveram uma grande quantidade de profissionais que ajudaram a preparar este caso, pois casos atípicos são avaliados separadamente.