Sexta-feira às 01 de Novembro de 2024 às 06:24:39
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Campo Largo se torna rota mais forte para chegada de indígenas e comercialização de artesanatos

Enquanto alguns indígenas chegam, outros voltam para as aldeias; movimentação acontece para que mais índios tenham a oportunidade de vender seus artesanatos na cidade

 

Campo Largo se torna rota mais forte para chegada de indígenas e comercialização de artesanatos

“Nós só queremos vender nosso artesanato e conseguir sustento. Este grupo vem para Campo Largo, fica um tempo por aqui e volta para a aldeia, quando outros índios vêm para vender o artesanato deles”, é o que explica o representante indígena Claudio Lucas à Folha de Campo Largo. Instalados no terreno do Parque Cambui, os índios vivem em acampamentos e vendem artesanatos diversos. Eles são monitorados pela Prefeitura de Campo Largo e também pela Fundação Nacional do Índio, a Funai.

Segundo a estimativa da Secretaria de Desenvolvimento Social de Campo Largo, há hoje aproximadamente 60 índios instalados neste acampamento. Recentemente, um leitor enviou para a Folha um vídeo com a chegada de novos índios para este espaço, o que foi explicado pela secretária da pasta, Márcia Fabiani Botelho. “Essa chegada realmente aconteceu e não foi a primeira vez, mas há aproximadamente um ano. As aldeias têm ônibus próprio, que acaba vindo buscar e trazer novos índios. As vezes aumenta a quantidade de indígenas, mas em geral é quase como um revezamento.”

Há alguns meses, o número de indígenas saltou de 25 para aproximadamente 60 e há uma preocupação grande com relação a essa situação. “Até que nós encontremos o melhor meio de resolver essa situação, que é o que buscamos, será muito comum essa movimentação de chegada e partida de índios, principalmente nesta região. Nós nos preocupamos com eles pela alta de casos de Covid-19 em Campo Largo. As crianças indígenas são grupo prioritário para a vacinação – junto com os quilombolas. Nós entramos em contato com os caciques, por meio da Funai, por conta da situação das crianças”, diz.

Um dos representantes, que conversou com a Folha, explica que há algumas aldeias instaladas na cidade. “Eu sou representante da Aldeia Ivaí, localizada em Manuel Ribas. Mas tem várias aldeias aqui, de Faxinal do Céu, Ortigueira, Apucaraninha e ainda temos um pessoal que vai chegar, de Laranjeiras do Sul. Eu estou aqui em Campo Largo há menos de um mês. Nas aldeias nós temos estrutura, temos nossas casas lá, porém precisamos vir para outras cidades para vender o nosso artesanato, para conquistar o pão de cada dia, sustentar nossas famílias. Nós só saímos de lá para trabalhar”, explica Claudio.

“Há muito tempo eles fazem essa movimentação, porém antes eles se instalavam em outras regiões da cidade. Eles vêm para vender artesanato. Ele não vai pedir, esmolar. Se há casos onde o indígena realiza a venda de balinhas ou pede dinheiro, é porque ele desvirtuou um pouco do que sempre aconteceu. A pandemia fez com que eles acabassem ficando, pois as crianças não tinham aulas presenciais, as aldeias enfrentaram dificuldades – como aconteceu também em outras partes do país – e fez com que eles acabassem ficando por mais tempo”, explica.

Márcia completa que, embora Campo Largo nunca tenha sido uma rota forte para a população indígena, sendo considerado mais de passagem por conta de Curitiba e mesmo acesso até Santa Catarina, os índios acabaram encontrando aqui um bom local para se instalar e vender o artesanato. “Quando você não compra o artesanato do índio e dá dinheiro ou outras doações, ele vai ficando, pois precisa vender aquele material. Então, se puder e quiser ajudar, é importante comprar a arte dele. Aquele é o trabalho digno dele. É muito bonita a cultura indígena, então ter um artefato é muito significativo. Essa é a melhor forma de valorizá-lo. Como em Campo Largo não temos povos indígenas ou reservas, enquanto população precisamos entender essa movimentação”, reforça. “Lá nas aldeias eles têm casa, recebem o Auxílio Brasil, têm escolas e toda uma vida estabelecida. Eles vêm para cá somente para comércio”, completa.

Organização
Cada aldeia que tem os índios instalados em Campo Largo possui três representantes, que são responsáveis pela cobrança no pessoal quanto à organização do espaço. Claudio explica que ele não pode chamar a atenção, por exemplo, de indígenas que não pertencem a aldeia dele. “Quando vamos fazer reunião com alguma autoridade, por exemplo, nós sempre vamos todos os representantes, pois cada um está ali pela sua aldeia”, diz.

Márcia explica que a Abordagem Social está sempre verificando com essa população sobre as necessidades deles. “Eles vêm para Campo Largo com tudo o que eles precisam. Quando estendem a estadia, nós buscamos auxiliá-los. Mas a Abordagem Social está sempre ofertando serviços do Município, até pela mudança das famílias. Inclusive nós orientamos quanto à organização do espaço e principalmente no tocante às crianças, para reforçar sobre a segurança delas nos semáforos e nas ruas”, esclarece.

Tudo o que é oferecido e conversado com essa população tem o respaldo da Funai, tendo uma conversa com as coordenações Federal, de Guarapuava e Curitiba.

Terreno para os índios
Durante a entrevista, o representante da aldeia, Claudio, diz que eles aguardam a aquisição de um terreno próprio para que tenham mais estrutura em Campo Largo e possam vender as suas peças. “Nós já conversamos, explicamos o nosso lado e a Prefeitura o deles. Foi tudo muito aberto, foram convocados representantes das outras aldeias também para a conversa. Lá terá banheiro, água corrente, tanque para lavar as roupas e luz elétrica”, explica. “Nós queremos sair daqui sabendo para onde vamos. Quando volta para a aldeia, nós ficamos pensando ‘será que eles ainda estão lá, será que ninguém os tirou de lá?”, completa.

Claudio até comenta que o local em que eles estão instalados é bom pelas árvores que cobrem a maioria das barracas, fazendo sombra e protegendo as crianças que vivem junto dos pais. Embaixo da lona acaba ficando muito quente e torna-se muito difícil ficar.  Ele diz ainda que até prefere o inverno, pois para trabalhar e caminhar pela cidade é mais fácil que enfrentar calor de mais de 29oC.